Água doce pode desencadear uma guerra nuclear?

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A guerra climática tem aumentado nos últimos anos o risco de conflitos armados. A escassez de água doce, secas e colheitas fracas causam a migração em massa, enquanto que confrontos políticos são agravados.

A prova disso são as guerras civis no Sudão e na Síria, mas nem todos compartilham da mesma opinião. 

Conflito de Darfur e clima

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Centenas de milhares de pessoas morreram entre 2003 e 2005 em confrontos interétnicos em Darfur, no Sudão. Alguns políticos transferem a causa disso a problemas ecológicos: secas, falta de água potável e safras pobres. O conflito de Darfur é considerado a primeira "guerra climática" no mundo – conceito difundido por cientistas, ambientalistas e políticos da União Europeia e dos EUA.

Um país pobre com recursos hídricos limitados e fraco poder governamental não conseguiu lidar com as consequências da mudança climática, pregam os defensores da nova teoria, segundo a qual a falta de água, a ofensiva no deserto, a perda de gado devido à falta de pastagens levaram à migração de tribos nômades árabes para o sul e à guerra civil.

Guerra e seca na Síria

Peter Gleick, do Instituto do Pacífico para Estudos em Desenvolvimento, Meio Ambiente e Segurança, escreveu que a guerra síria começou em 2012 por muitas razões: política de longo prazo e problemas religiosos e sociais, que agravam as condições ambientais. Um papel especial foi desempenhado pela escassez de água doce, a gestão ineficiente dos recursos hídricos, o sistema de irrigação obsoleto e a mudança climática.

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Especialistas afirmam que a migração em massa da população rural síria para as cidades começou por causa do desemprego na zona rural em decorrência da seca prolongada de 2006 a 2011. Eles atribuem o problema a fatores econômicos associados à ecologia: a agricultura intensiva esgotou as águas subterrâneas necessárias para irrigar os cultivos e a permissão para privatizar a terra acabou forçando os arrendatários a se retirarem de suas casas. 

Outra visão das causas do conflito

O conflito de Darfur não poderia surgir devido a uma escassez de água doce e à deficiência nas colheitas, acredita Jan Selby, da Universidade de Sussex (Reino Unido), que juntamente com outros cientistas investigaram a situação na região. De acordo com seus dados, o fluxo de água do Nilo através do Sudão e o nível do lago Nasser não mudaram desde a década de 1960. As chuvas foram geralmente mais frequentes que o normal e não houve secas severas depois de 1990. Os tumultos mais massivos ocorreram em áreas rurais ricas com bons recursos hídricos.

O conflito de Darfur é o resultado da colonização do país pela Grã-Bretanha, a integração na economia capitalista global, a constante "construção do Estado" sob a supervisão de organizações internacionais que apoiam o interesse das elites locais. 

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"As mudanças climáticas não podem reverter essa tendência nem no Sudão e nem em qualquer outro lugar", afirmam os cientistas. 

Selby não nega a influência dos fatores climáticos, mas a guerra civil na Síria tem razões mais significativas. 

"Guerras d’água" e ameaça nuclear

Os recursos hídricos renováveis do planeta totalizam aproximadamente em 42.800 quilômetros cúbicos por ano. Mas esses recursos estão divididos entre os países de modo desigual: no Canadá, a água per capita é dez mil vezes maior do que no Kuwait. Especialmente, a umidade não é suficiente no Oriente Médio e na África.

Segundo as previsões, a população mundial aumentará para oito bilhões de pessoas até 2025 e um terço viverá em países com "estresse hídrico". Em primeiro lugar, sofrerão as regiões com alta fertilidade e clima árido.

Atualmente uma das principais razões para o déficit de água de "qualidade" no mundo é a poluição. Isso, em alguns casos, contribui para a tensão internacional, já que muitos rios e represas são usados por diferentes países. 

Segundo a informação do Instituto de Problemas de Água (Rússia), 507 disputas surgiram devido a recursos hídricos de 1950 a 2000, e 21 delas levaram a ações militares, levando cientistas a usarem cada vez mais os termos "fome por água", "guerras por água". Por exemplo, Israel desencadeou uma "guerra pela água" para impedir que a Síria construísse um canal de desvio das Colinas de Golã, de onde se alimentam o rio Jordão e o mar de Galileia, de 1964 a 1965.

A água serve como um instrumento de pressão sobre o inimigo em conflitos armados. Em 2012, as forças antigovernamentais na Síria, durante as batalhas por Aleppo, danificaram gravemente as tubulações hidráulicas que forneciam água para três milhões de pessoas. 

Prevê-se que em meados do século 21, um quarto da região asiática se torne uma zona de conflitos por água devido ao rápido crescimento da população e taxas de desenvolvimento econômico. A água será mais e mais necessária.

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Há também conflitos entre a Índia e o Paquistão, duas potências nucleares, em decorrência do acesso ao rio Indo. 

A África, onde as secas são violentas e os recursos hídricos são barbaramente explorados, é uma das regiões mais problemáticas. Nos últimos anos, a área do lago Chade, que serve como fonte de água para 40 milhões de cidadãos de quatro países, diminuiu em 15%.

Sergei Semenov, vice-diretor do Instituto de Clima Global e Ecologia, comentou que os riscos relacionados com água doce se alargarão devido ao aumento de gases do efeito estufa.

Como o planeta é heterogêneo no aspecto climático e ecológico, as consequências do aquecimento para as regiões não são as mesmas.

"Na maioria das regiões subtropicais secas, os recursos das águas superficiais e subterrâneas diminuirão, o que aumentará a competição pela água entre os setores da economia", explicou o analista, acrescentando que a competição seria entre setores da economia e não entre países. 

"Hoje em dia, a mídia gosta de falar sobre as guerras de clima. Eu penso que as guerras climáticas são uma fantasia, embora haja tensões entre alguns países por causa dos volumes de água nas fronteiras – a concorrência por influência política, econômica e ideológica", concluiu Semenov.

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