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Pequenos provedores podem ser a chave para inclusão digital crescer no Brasil

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Um total de 102,1 milhões de brasileiros possuem acesso à Internet no Brasil, de acordo com os dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada em novembro do ano passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O número pode até parecer expressivo, mas corresponde a 57,5% da população brasileira. Isso significa que 42,5% dos mais de 200 milhões de brasileiros ainda não estão incluídos no mundo digital, o que ajuda a explicar a performance ruim do Brasil em uma outra pesquisa.

Dados da entidade Alliance For Affordable Internet (A4AI), que abordam políticas e regulamentos desenvolvidos para tornar a Internet mais acessível para a população, colocou o país na sétima colocação entre nações da América Latina e Caribe, atrás de nações como Colômbia, México, Peru, Costa Rica, Equador e Argentina.

A mesma pesquisa da A4AI aponta que 49% da população na região tem acesso à internet e apenas 35% à banda larga móvel. No caso brasileiro, o problema é quase uma unanimidade entre especialistas: a precariedade da infraestrutura de telecomunicações, sobretudo em regiões mais distantes dos grandes centros.

Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o engenheiro Demi Getschko – conselheiro do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e Diretor-Presidente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) – concordou que há muito a ser feito, mas pediu cautela com o levantamento da A4AI.

“Meu primeiro alerta é a metodologia usada. Segundo ponto é o tamanho de um país como o Brasil, bem diferente de um país pequeno como a Costa Rica. Acho que qualquer comparação é prejudicada pelas nossas dimensões e pela nossa população rural. Não estou dizendo que estamos bem, temos muito que avançar. Ainda estamos longe de uma grande inclusão digital”, afirmou.

Pioneiro da Internet no Brasil, Getschko afirma que um primeiro cenário em prol da inclusão de mais brasileiros na rede mundial de computadores passa pelo aumento da oferta de Internet fixa.

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“É importante incluir todo mundo, se possível pela via fixa, porque é a que te dá uma capacidade de subir de acordo com a necessidade. A móvel depende de células, do quão congestionadas estão as células ou não, além de ser possível por outras vias como rádio e satélite, este com um problema de latência. O ideal seria avançar por meio de fibra [ótica], chegando até onde fosse possível, combinando com a móvel por mobilidade”, avaliou.

Desafios

“O grande problema a ser solucionado no Brasil é a questão da infraestrutura, a exemplo do que temos que fazer com rodovias, ferrovias, aeroportos e saneamento. O Brasil precisa ser dotado de uma infraestrutura de telecomunicações que dê condições de atender as mais distantes regiões com boa qualidade. Neste momento só tem uma solução: fazer redes de fibra óptica no país inteiro”.

A análise acima data de 27 de maio de 2014, e foi feita pelo então ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, durante audiência no Senado que tratava do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). Passados pouco mais de três anos, a análise segue bastante atual, de acordo com aqueles que atuam no setor.

Em entrevista à revista Exame, no ano passado, um executivo da companhia de telecomunicações norte-americana Verizon classificou como  “precária” a infraestrutura do setor no país. O ponto de vista é parcialmente compartilhado por Paulo Castelo Branco, diretor executivo de telecomunicações da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee).

“A qualidade das redes e dos serviços de Internet no Brasil tem melhorado, mas, se os investimentos não acompanharem o número de dispositivos colocados à disposição dos clientes finais, começaremos a ter risco”, analisou, lembrando ainda que o aumento de tráfego de dados exigido em serviços de streaming, como o Netflix, requer investimento maciço em infraestrutura.

Inovações

Demi Getschko comentou que existem iniciativas em andamento, ainda que os entraves da crise vivida pelo Brasil nos últimos anos não deixe de ser sentida pelo setor. Um exemplo mencionado pelo especialista é a ação do Exército que, por meio de cabos subfluviais no rio Amazonas, vem permitindo que redes de fibra ótica cheguem, aos poucos, a regiões distantes na Amazônia.

© Exército BrasileiroCabos de fibra ótica pelos rios da Amazônia.
Cabos de fibra ótica pelos rios da Amazônia. - Sputnik Brasil
Cabos de fibra ótica pelos rios da Amazônia.

Embora o custo da fibra ótica em si não seja o problema, segundo Getschko, os custos da mão de obra para colocar tais avanços em curso, mais as pressões comerciais de se atrair investidores para regiões remotas – e, portanto, pouco atrativas comercialmente – demanda um esforço extra, mais desafiador do que o uso de recursos de programas de fomento à inclusão digital.

E é aqui que os pequenos provedores podem fazer a diferença. “São extremamente importantes. Primeiro pela criatividade que eles têm, segundo pela capilaridade. Eles começaram como rádios locais, depois distribuíam fibra em postes, formaram cooperativas e possibilitaram avanços na área. Antes eram só voltados à Internet, unindo usuário à rede, agora se tornaram peças na estrutura das telecomunicações”, disse.

“É salutar que eles existam e avancem. Os números mostram que é uma área que tem crescido, o que indica duas coisas: que tem fôlego e que existe procura. É um setor saudável para empreendimento, já que existe uma demanda para que você esteja onde outros não estão. Só precisam prestar a atenção para as constantes mudanças”, emendou o especialista.

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Nesta semana, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) deu uma sinalização positiva, ao acabar com a exigência de licença de telecomunicações para os provedores com até cinco mil clientes. A agência informou que esses prestadores ficam dispensados de licença, mas deverão fazer uma comunicação prévia à Anatel sobre o início da entrada em operação. O novo regime passa a valer em 60 dias.

Ainda de acordo com a Anatel, o cadastro será suficiente para as empresas se credenciarem junto às concessionárias de energia elétrica pelo uso dos postes, visto que, assinalou a agência, são as “prestadoras de serviço de telecom que têm direito ao compartilhamento da infraestrutura”, e não apenas as que tem licença.

Assim, Getschko comentou ver motivos para “ser menos pessimista” quanto aos rumos da inclusão digital no país. Em comum entre a sociedade, empresários e governantes, há a necessidade de não perder de vista uma máxima comum a todos: a Internet hoje é fundamental. Para todos.

“É totalmente diferente o mundo para quem está incluído e para quem não está. Nem todos os fatores de estar incluído digitalmente são bons, você por exemplo é mais atacado quando está incluído. Mas é um risco que vale a pena e podemos dizer que quem não está incluso está fora do jogo”, finalizou.

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