Conheça as raízes históricas e geopolíticas do atual conflito em torno de Pyongyang

© AFP 2023 / Jung Yeon-Je Zona Desmilitarizada que separa as duas Coreias
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Os EUA e a Coreia do Norte têm passado meses trocando golpes diplomáticos devido às provas de mísseis de Pyongyang e seu polêmico programa nuclear, escreve o colunista Nicol Brodie.

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No seu artigo para a edição The National Interest, o autor aponta que a instalação do sistema americano THAAD na Coreia do Sul "foi acompanhado por uma retórica" que proclama o fim da "paciência estratégica" e promete "pressão máxima".

"Mas esta escalada dos EUA é estrategicamente pouco sólida e descarta seu próprio interesse em manter o status quo na península", aprofundou.

Aspecto histórico

Depois da Segunda Guerra Mundial, as forças aliadas dividiram a península da Coreia em duas repúblicas distintas, sendo que era uma região onde estavam ausentes as diferenças étnicas, religiosas ou culturais.

Em 1948, a Coreia do Norte já tinha obtido uma ajuda militar da União Soviética que lhe dava superioridade sobre o vizinho do sul. Naquele momento, o presidente sul-coreano Syngman Rhee pediu ajuda aos EUA, porém, Washington o encaminhou para a ONU para resolver o assunto.

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O líder norte-coreano Kim Il-sung, por sua vez, "entusiasmado pela assistência soviética, mas ansioso com as ambições de unificação de Rhee", já se dava de conta que não podia esperar até que se produzisse um colapso da Coreia do Sul antes de atacar.

Desta maneira, assumindo que seu oponente atacaria a qualquer momento, ambas as repúblicas elaboraram planos de invasão, despoletando a Guerra da Coreia.

Para pôr fim a este conflito, em 1953 foi firmado o Acordo de Armistício da Coreia, no âmbito do qual a mediação da situação regional foi assumida por várias potências estrangeiras.

"A luta dentro da Coreia, agora congelada, mas existente, foi incluída no sistema da Guerra Fria da competição entre os EUA, a URSS e a República Popular da China", detalhou o jornalista.

Dilema de dissuasão

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O autor recorda que Washington tinha ameaçado Pyongyang com o uso de armas nucleares tanto antes como depois da Guerra da Coreia. Assim, os EUA as instalaram na Coreia do Sul em 1958, reforçando o Tratado de Defesa Mútua de 1953 com Seul.

Esta instalação colocou Seul debaixo do guarda-chuva nuclear americano, pondo em risco a capacidade dissuasória da Coreia do Norte. Entretanto, depois de descobrir o programa nuclear clandestino de Seul, nos finais da década de 70, Kim Il-sung começou considerando que a aquisição de suas próprias armas nucleares era necessária para a sobrevivência do Estado.

"Evidentemente, a escalada política e militar na península não criou dissuasão, mas perpetuou a insegurança e provocou o conflito", explicou Brodie.

Ambas as repúblicas, segundo o autor, estavam convencidas que sua sobrevivência dependia de quem daria o primeiro passo. Isto se agudizou ainda pelas diferenças ideológicas que deslegitimavam os esforços governamentais e as ambições de unificação da outra parte.

Ao caracterizar sua participação no conflito como defesa do "Estado de direito" contra um país comunista "criminoso", Washington "não conseguiu se dar conta de como sua intervenção poderia ser lançada dentro da luta localizada" entre as Coreias.

Status quo

Além disso, todas as partes envolvidas no conflito não distinguem entre condutas defensivas e ofensivas. A beligerância nuclear da Coreia do Norte não é uma beligerância ofensiva, opina o autor. É um "intuito equivocado de mostrar determinação, provocado pela vulnerabilidade face às forças convencionais dos EUA e da Coreia do Sul".

"Os testes nucleares da Coreia do Norte e as ameaças de atacar os navios dos EUA simplesmente reforçam a opinião de Washington de que a Coreia do Norte é um agressor que ameaça a segurança regional", afirmou.

Desta maneira, no caso de seguir mostrando firmeza e determinação, ambas as partes alimentarão ainda mais a hostilidade mútua que eventualmente culminaria em um conflito real.

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