A guerra, iniciada pelo então líder argentino, Leopoldo Galtieri, tinha como objetivo reestabelecer o controle da Argentina sobre as ilhas Malvinas, conquistadas pelo Reino Unido em 1833. O conflito, que demorou 74 dias, acabou com a derrota completa da Argentina, provocando centenas de vítimas entre os dois lados envolvidos.
Sobre os motivos da guerra e sobre o seu resultado a Sputnik Mundo entrevistou vários analistas, entre eles Boris Martynov, especialista do Instituto Estatal de Relações Internacionais de Moscou.
Martynov explicou que a Argentina não esperava que o Reino Unido fosse lutar pelas ilhas. Foi por isso que o país enviou forças mal preparadas, de fato, novos recrutas, no que podia ser qualificado como uma declaração política. Galtieri fez um grande erro ao considerar que os EUA manteriam sua neutralidade e que o Reino Unido "carecesse de forças" para enviar uma esquadra para um continente tão distante, assinalou o especialista.
"Os EUA encontraram-se entre dois fogos. Precisavam escolher entre os dois aliados. É natural que os EUA tenham escolhido o parceiro mais importante e mais influente para eles", frisou o analista.
Ele apontou que, ironicamente, a União Soviética apoiou a Argentina, um governo anticomunista. A Força Aérea argentina recebia informações dos satélites soviéticos, sendo este um cenário "clássico" da Guerra Fria, apenas os lados trocaram suas posições.
Outro erro nos cálculos de Galtieri, segundo Martynov, foi ter iniciado a guerra sem assegurar a proteção de sua retaguarda. A Marinha argentina de fato não se envolveu nas ações de combate, já que o país esperava uma "punhalada nas costas" por parte do Chile: naquela época, os dois países disputavam as ilhas do estreito de Beagle. O especialista destacou que todos os países latino-americanos apoiaram a Argentina na disputa em torno das Malvinas, exceto o Chile.
Martynov assinalou que a política externa britânica usou a contradição entre o "direito à autodeterminação e o princípio da integridade territorial", acrescentando que essa contradição acontece em muitas outras regiões, inclusive no espaço pós-soviético.
"Podemos falar sobre padrões duplos. Quer dizer, alguns milhares moradores das Malvinas têm o direito de decidir de que país eles querem fazer parte, enquanto que mais de dois milhões de cidadãos da Crimeia não têm este direito?!", pergunta Martynov, comentando o referendo realizado em 2014 em que a maior parte dos moradores da península da Crimeia se expressou a favor da adesão à Rússia.
No início dos anos 80, a Argentina era governada por uma junta militar impopular, foi por isso que seus chefes resolveram lutar pelas ilhas Malvinas. Antes das ações militares, o governo de Margaret Thatcher também não possuía um grande apoio por parte da população. Nesta situação, os dois lados apostaram em uma "pequena guerra vitoriosa" para recuperar a popularidade.
O especialista ressaltou que o tempo joga a favor da Argentina, opinando que em um futuro muito distante o país poderia reaver as ilhas.
"A Argentina está pronta para negociar o estatuto das ilhas Malvinas, enquanto o Reino Unido se recusa arrogantemente a realizar conversações sobre essa questão. Contudo, cedo ou tarde, os britânicos terão de abandonar não somente as ilhas Malvinas, mas também Gibraltar", afirmou o analista em entrevista à Sputnik.
Entretanto, outro especialista em assuntos da Argentina e ex-embaixador russo neste país sul-americano, Yevgeny Astakhov, duvida que a disputa seja resolvida em um futuro próximo, uma vez que o Reino Unido "somente entende a linguagem da força".
"Os EUA enterraram sua influência moral e política. Sem dúvidas, o país ainda possui a supremacia econômica e financeira, mas eles jamais poderão voltar a mandar nos outros países da região", assinalou o analista.
Para concluir, Yevgeny Astakhov frisou que para resolver a disputa a seu favor a Argentina tem de virar um estado militarmente forte, o que não deve acontecer nos próximos 50 anos.