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Ataque brutal da CIA contra Belgrado em 1999 ajudou a fortalecer parceria entre China e Sérvia?

© AP Photo / Darko BandicPresidente da China Xi Jinping é recepcionado pelo homólogo Aleksandar Vucic durante visita à Sérvia. Belgrado, 8 de maio de 2024
Presidente da China Xi Jinping é recepcionado pelo homólogo Aleksandar Vucic durante visita à Sérvia. Belgrado, 8 de maio de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 08.05.2024
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A visita do presidente Xi Jinping à Sérvia, quando se assinalam os 25 anos do ataque da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) à embaixada chinesa no país, mostra o papel ativo de Pequim em apoiar países afetados por políticas intervencionistas ou agressões militares no passado.
A data de 7 de maio de 1999 é lembrada em toda a Sérvia como o dia em que os Estados Unidos conduziram um bombardeio mortal contra a embaixada chinesa em Belgrado. O ataque contra a capital, o único planejado em sua totalidade pela Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês) dos EUA, provocou a morte de três jornalistas chineses que estavam abrigados nas instalações e deixou pelo menos 20 feridos. Os norte-americanos pediram desculpas pelo ataque, justificando que foram consultados mapas desatualizados e imprecisos do local, mas a desculpa foi recebida com muito ceticismo.
O bombardeio ocorreu no meio da ofensiva de 78 dias da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) contra a ex-Iugoslávia, que matou milhares de pessoas. Décadas depois, taxas mais altas de câncer e defeitos congênitos ainda são observadas no país após o uso, pela aliança, de urânio empobrecido radioativo durante a operação.
O jornalista sérvio-americano Nebojsa Malic comentou, em conversa com a Sputnik, o fato de o 25º aniversário do trágico incidente ter sido reconhecido durante a visita do presidente chinês Xi Jinping à Sérvia.

"O bombardeio da OTAN foi extremamente controverso. As pessoas que foram mortas eram jornalistas chineses que se refugiaram na embaixada porque muitos estavam anteriormente na televisão sérvia, mas ela foi atingida em abril de 1999 durante a noite, e a OTAN declarou isso como um alvo militar legítimo. E ninguém processou ninguém por crimes de guerra", observou.

Conforme o jornalista, foram pagas indenizações aos chineses, além de pedidos de desculpas, "mas nada disso fez sentido porque essa embaixada estava em um local muito proeminente", acrescentou.

"Você realmente não consegue errar. Eles sabiam claramente o que estavam fazendo, disseram que estavam atacando um exportador de armas, mas isso foi uma desculpa. Por que você atacaria um exportador de armas no meio de um país que foi bloqueado por dez anos e não exportou nada? Para mim, é uma desculpa tão claramente falsa, e acho que os chineses também não acreditaram nela", disse.

O ataque da OTAN contra a ex-Iugoslávia, realizado após a rejeição da proposta pelo Conselho de Segurança da ONU, foi ilegal segundo a lei internacional. A aliança militar justificou os bombardeios com o pretexto de "intervenção humanitária" em meio a conflitos étnicos na antiga república.
Policiais montam guarda em uma estrada no vilarejo de Dubona, cerca de 50 quilômetros ao sul de Belgrado, Sérvia, 5 de maio de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 21.04.2024
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O evento, junto com o ataque da OTAN em 1995 na Bósnia e Herzegovina, desmascarou a OTAN, a mostrando como uma aliança abertamente ofensiva após o fim da Guerra Fria.
Anteriormente, a organização agia de maneira mais velada, apoiando esforços como a Operação Gládio da CIA de apoio a grupos paramilitares neonazistas em toda a Europa, pontua o jornalista. Tais organizações tinham o apoio da OTAN por conta do temor de uma invasão soviética, mas os grupos passaram a se engajar em uma campanha de terror por décadas para justificar o aumento nos gastos com segurança e também desacreditar a esquerda.
"Por 40 anos uma organização clandestina de inteligência e operações armadas [existiu] em vários Estados-membros", reconheceu uma resolução do Parlamento Europeu em 1990.

OTAN e o apoio a grupos terroristas

Observadores internacionais traçam paralelos entre a Operação Gládio e o apoio dos países da OTAN a organizações jihadistas no Oriente Médio, demonstrando que as potências ocidentais estão dispostas a sustentar grupos clandestinos e terroristas para fins políticos. Mas, com o fim da União Soviética nos anos 1990, deixando brevemente os Estados Unidos como a única superpotência mundial, a aliança militar começou a se engajar abertamente em atos de terror, deixando uma profunda impressão naqueles que se lembram do ataque criminoso de 1999.

"Quando o presidente Xi escreveu sobre isso no jornal mais antigo dos Bálcãs, ele nomeou as três pessoas que morreram: 'Nunca esqueceremos e nunca permitiremos que isso aconteça novamente'. O artigo de opinião basicamente dizia: 'Temos uma amizade inabalável com a Sérvia, concordamos em muitas questões internacionais e vamos trabalhar juntos para uma globalização mais justa e equitativa em um mundo multipolar'", explicou Malic.

A parceria entre os dois países resultou em uma forte relação econômica, com a China se tornando o principal investidor estrangeiro na Sérvia.
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"Os chineses conseguiram alavancar algumas siderúrgicas e minas que foram abandonadas pelo Ocidente [durante os anos 1990] por serem consideradas pouco rentáveis, enquanto os chineses as tornaram muito lucrativas, e estão construindo infraestrutura", observou Malic.
Após o fim da URSS, houve um fluxo de capital do Ocidente por toda a Europa, guiado por interesses que levavam à compra e fechamento das indústrias antes estatais. O fenômeno levou à perda de milhares de empregos e à desindustrialização por todo o Leste Europeu, com consequências devastadoras. Uma pesquisa de 2009 no leste da Alemanha revelou que 57% lamentavam a queda na qualidade de vida após o fim do socialismo.
Na Sérvia, a parceria com a China promete restaurar a indústria e a infraestrutura do país, com uma linha de trem de alta velocidade construída por Pequim que liga Belgrado à cidade de Novi Sad, recentemente inaugurada.

"É uma diferença da noite para o dia, tanto na atitude quanto no comportamento construtivo, que é realmente sublinhada pela visita [do presidente da China]. Tem havido aplausos de pé de grandes multidões de pessoas se reunindo para aclamar o presidente Xi porque, novamente, [há uma] diferença completamente qualitativa na maneira como ele respeita a Sérvia em comparação com todos esses enviados ocidentais que não demonstram isso", finalizou.

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