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China é mais enfática sobre Palestina do que Brasil e não precisa de guerra, diz analista

© AP Photo / Ng Han GuanWang Yi, ministro das Relações Exteriores chinês, fala durante coletiva de imprensa à margem do Congresso Nacional do Povo em Pequim, China, 7 de março de 2024
Wang Yi, ministro das Relações Exteriores chinês, fala durante coletiva de imprensa à margem do Congresso Nacional do Povo em Pequim, China, 7 de março de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 19.04.2024
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Diplomacia chinesa está bem posicionada para mediar conflito no Oriente Médio e cumpre agenda frenética de contatos entre Israel, Irã e Arábia Saudita. Com posição contundente em relação à Palestina, Pequim surpreende analistas ouvidos pela Sputnik Brasil.
Nesta semana, a diplomacia da China atuou de forma intensa para evitar a escalada da violência no Oriente Médio, após os ataques retaliatórios do Irã contra o território israelense. Ao reconhecer o direito iraniano à legítima defesa, Pequim destoa do coro ocidental e se posiciona como ator alternativo, acreditam especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil.
Nesta segunda-feira (15), o ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, realizou conversa telefônica com os seus homólogos iraniano, Hossein Amir-Abdollahian, e saudita, o príncipe Faisal bin Farhan Al Saud. Já o enviado especial do governo chinês para assuntos do Oriente Médio, Zhai Jun, reuniu-se presencialmente com o embaixador de Israel em Pequim, Irit Ben-Abba Vitale.
© AP Photo / Petr David JosekO diretor do Gabinete da Comissão Central de Relações Exteriores da China, Wang Yi, fala na Conferência de Segurança de Munique em Munique, 18 de fevereiro de 2023
O diretor do Gabinete da Comissão Central de Relações Exteriores da China, Wang Yi, fala na Conferência de Segurança de Munique em Munique, 18 de fevereiro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 19.04.2024
O diretor do Gabinete da Comissão Central de Relações Exteriores da China, Wang Yi, fala na Conferência de Segurança de Munique em Munique, 18 de fevereiro de 2023
Nas conversas, a China reiterou a sua condenação aos ataques de Israel a instalações diplomáticas do Irã na Síria, classificando-os de "extremamente cruéis". Segundo o representante da China nas Nações Unidas, Dai Bing, a ação de Israel é "uma grave violação da Carta da ONU, do direito internacional e da soberania tanto da Síria, quanto do Irã".
Apesar de a diplomacia chinesa considerar os ataques do Irã contra Israel retaliatórios e limitados, Pequim sugeriu que a ação teria sido suficiente para encerrar as hostilidades.
"Os países e o povo do Oriente Médio não desejam uma guerra, nem podem arcar com um conflito de larga escala", disse o representante chinês na ONU, Dai Bing.
Em função de seus interesses políticos, econômicos e energéticos na região, a China não tem interesse na eclosão de um conflito de larga escala, apontaram especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil.
"A China é pragmática, não tem uma política externa messiânica baseada em valores como a dos EUA", declarou à Sputnik Brasil o coordenador do curso de pós-graduação em Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Bruno Hendler. "A China busca a ordem."
Processos de transição hegemônica, no qual uma grande potência declina em favor de outra, normalmente estão associados a grandes conflitos. No entanto, a transição de poder dos EUA para a China apresenta características diferentes das antecessoras.
"Acadêmicos defendem que nas transições hegemônicas do passado, a potência em ascensão era a interessada na destruição da ordem. Mas, curiosamente, na atual transição de poder de EUA para a China, vemos o contrário: a potência desestabilizadora são os EUA", apontou Hendler. "Mas esse debate segue em aberto."
© AFP 2023 / Pedro PardoUm assistente fica ao lado das bandeiras da China e dos EUA antes de uma reunião entre a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, e o vice-primeiro-ministro da China, He Lifeng, na Guangdong Zhudao Guest House, na cidade de Guangzhou, no sul da China, em 5 de abril de 2024
Um assistente fica ao lado das bandeiras da China e dos EUA antes de uma reunião entre a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, e o vice-primeiro-ministro da China, He Lifeng, na Guangdong Zhudao Guest House, na cidade de Guangzhou, no sul da China, em 5 de abril de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 19.04.2024
Um assistente fica ao lado das bandeiras da China e dos EUA antes de uma reunião entre a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, e o vice-primeiro-ministro da China, He Lifeng, na Guangdong Zhudao Guest House, na cidade de Guangzhou, no sul da China, em 5 de abril de 2024
Nesse sentido, a China busca se posicionar como um potencial mediador no Oriente Médio, contrastando com a imagem dos EUA na região, associada a intervenções militares e a alinhamento com Israel.
"A China busca ocupar espaços deixados pelos EUA no Oriente Médio, como o de mediador. A China se coloca como um ator mais neutro e menos contaminado do que os EUA", disse Hendler. "Mas essa postura chinesa não deixa de atender aos seus interesses econômicos, políticos e de segurança."
© AP Photo / Gabinete da Presidência iranianaNesta foto divulgada pelo site oficial do gabinete da Presidência iraniana, o presidente Ebrahim Raisi, à esquerda, aperta a mão de seu homólogo chinês, Xi Jinping, em cerimônia oficial de boas-vindas em Pequim, terça-feira, 14 de fevereiro de 2023
Nesta foto divulgada pelo site oficial do gabinete da Presidência iraniana, o presidente Ebrahim Raisi, à esquerda, aperta a mão de seu homólogo chinês, Xi Jinping, em cerimônia oficial de boas-vindas em Pequim, terça-feira, 14 de fevereiro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 19.04.2024
Nesta foto divulgada pelo site oficial do gabinete da Presidência iraniana, o presidente Ebrahim Raisi, à esquerda, aperta a mão de seu homólogo chinês, Xi Jinping, em cerimônia oficial de boas-vindas em Pequim, terça-feira, 14 de fevereiro de 2023
As credenciais diplomáticas chinesas no Oriente Médio são relevantes: a China mediou a reaproximação entre Irã e Arábia Saudita, encerrando décadas de rivalidade que geraram conflitos na região.
"Essa reaproximação protagonizada pela China foi um dos feitos diplomáticos mais importantes da última década", disse o historiador e doutor em psicologia social pela USP, Marco Fernandes, à Sputnik Brasil. "Sabemos que a Rússia também trabalhou muito nos bastidores por esse acordo, que levou anos para ser costurado."
Fernandes, que é especialista em assuntos chineses e reside em Pequim, nota que a entrada de Irã e Arábia Saudita no BRICS e na Organização para Cooperação de Xangai (OCX) tiveram como objetivo consolidar a nova correlação de forças no Oriente Médio.
© AP PhotoNesta foto disponibilizada pela Agência de Imprensa Saudita, SPA, o presidente chinês Xi Jinping, à esquerda, é recebido pelo príncipe herdeiro saudita e primeiro-ministro Mohammed bin Salman, após a sua chegada ao Palácio Al Yamama, em Riad, Arábia Saudita, 12 de dezembro 2022
Nesta foto disponibilizada pela Agência de Imprensa Saudita, SPA, o presidente chinês Xi Jinping, à esquerda, é recebido pelo príncipe herdeiro saudita e primeiro-ministro Mohammed bin Salman, após a sua chegada ao Palácio Al Yamama, em Riad, Arábia Saudita, 12 de dezembro 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 19.04.2024
Nesta foto disponibilizada pela Agência de Imprensa Saudita, SPA, o presidente chinês Xi Jinping, à esquerda, é recebido pelo príncipe herdeiro saudita e primeiro-ministro Mohammed bin Salman, após a sua chegada ao Palácio Al Yamama, em Riad, Arábia Saudita, 12 de dezembro 2022
"A China quer aumentar sua influência geopolítica na região e tem interesses estratégicos. Mas não esqueçamos que o que ela mais quer é fazer negócios com o Oriente Médio", disse Fernandes. "A China precisa da região estável para que os negócios sigam o seu fluxo."
Pequim atrai cada vez mais capital de fundos de investimentos das monarquias do Golfo, conforme os investimentos de EUA e Europa na economia chinesa retraem. Além disso, a China é o principal parceiro comercial do Irã, absorvendo cerca de 90% das suas exportações de petróleo.
Os laços econômicos com Israel também estão em ascensão: Pequim é o segundo parceiro comercial de Tel Aviv, com fluxo de comércio de US$ 18 bilhões (cerca de R$ 94 bilhões) em 2021.
© AP Photo / Etienne OliveauPrimeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, é recebido pelo presidente da China, Xi Jinping, em Pequim (foto de arquivo)
Primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, é recebido pelo presidente da China, Xi Jinping, em Pequim (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 19.04.2024
Primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, é recebido pelo presidente da China, Xi Jinping, em Pequim (foto de arquivo)
"As relações com Israel são estreitas. Não só no âmbito comercial, mas também nas esferas de defesa e inteligência", disse Fernandes. "A China, no seu pragmatismo geopolítico, confia em Israel para cooperar em setores tecnológicos sensíveis."

Defesa da Palestina

Os interesses econômicos e estratégicos não impedem a China de defender a causa palestina em termos mais incisivos do que muitos de seus pares no Sul Global.
Para a diplomacia chinesa, a causa essencial dos conflitos no Oriente Médio é a questão palestina, que deve ser resolvida pela solução de dois Estados.
"Se permitirmos que as chamas do conflito de Gaza continuem a irradiar, as repercussões adversas vão se alastrar ainda mais, tornando a região ainda mais instável", disse o representante da China na ONU, Dai Bing. "Não há alternativa à implementação total da solução de dois Estados. É a única forma de encerrar esse ciclo vicioso de uma vez por todas."
A China deu um passo além e defendeu a legalidade do recurso à luta armada pelos palestinos, durante consulta pública da Corte Internacional de Justiça, realizada em fevereiro.
© AP Photo / Hatem AliPalestinos inspecionam as ruínas de um prédio residencial após ataque aéreo israelense em Rafah, Faixa de Gaza, em 29 de março de 2024
Palestinos inspecionam as ruínas de um prédio residencial após ataque aéreo israelense em Rafah, Faixa de Gaza, em 29 de março de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 19.04.2024
Palestinos inspecionam as ruínas de um prédio residencial após ataque aéreo israelense em Rafah, Faixa de Gaza, em 29 de março de 2024
"Na minha opinião, essa é a maior surpresa na posição chinesa referente ao conflito israelo-palestino", disse Fernandes. "A China considerou a Palestina um território que está sendo colonizado e, portanto, de acordo com preceitos internacionais reconhecidos, tem direito à resistência armada."
De fato, o conselheiro jurídico do Ministério das Relações Exteriores da China, Ma Xinmin, declarou perante a mais alta corte da ONU que "o uso da força pelo povo palestino para resistir à opressão externa e alcançar o estabelecimento de um Estado independente é um direito inalienável". Segundo ele, "neste caso, luta armada não é a mesma coisa que terrorismo".
© AFP 2023 / Mídia AssociadaUma visão geral mostra os danos na área ao redor do Hospital Al-Shifa, em Gaza, depois que os militares israelenses se retiraram do complexo que abriga o hospital em 1º de abril de 2024
Uma visão geral mostra os danos na área ao redor do Hospital Al-Shifa, em Gaza, depois que os militares israelenses se retiraram do complexo que abriga o hospital em 1º de abril de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 19.04.2024
Uma visão geral mostra os danos na área ao redor do Hospital Al-Shifa, em Gaza, depois que os militares israelenses se retiraram do complexo que abriga o hospital em 1º de abril de 2024
Essa interpretação foi reiterada pelo representante da China na ONU, Zhang Jun, que afirmou: "A batalha dos povos pela sua liberação, pelo seu direito à autodeterminação, inclusive a luta armada contra o colonialismo, ocupação, agressão e dominação por parte de forças estrangeiras, não deveria ser considerada atos de terrorismo".
"A posição é forte e vai contra a ideia de que a China age de forma tímida em assuntos do Oriente Médio", disse Fernandes. "E difere da posição do Brasil, já que abre caminho para a China questionar se os ataques do Hamas em Israel [no dia 7 de outubro de 2023] seriam, de fato, terrorismo."
O tom enfático adotado por Pequim, porém, não a distancia do seu objetivo principal de manter canais diplomáticos abertos e evitar um conflito generalizado no Oriente Médio.
"A China está em um momento de avanço diplomático e econômico inédito na região. Um conflito armado somente imporia obstáculos a esse avanço. A guerra generalizada agora pode interessar outros atores. Mas à China, com certeza não", concluiu o especialista.
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