- Sputnik Brasil, 1920
Panorama internacional
Notícias sobre eventos de todo o mundo. Siga informado sobre tudo o que se passa em diferentes regiões do planeta.

'Tentáculos de influência': para quem os Estados Unidos vendem armas e por quê?

© AFP 2023 / Nicholas KammO presidente dos EUA, Joe Biden, fala sobre segurança e o conflito na Ucrânia durante visita às instalações de operações da Lockheed Martin no condado de Pike, em Troy, Alabama, em 3 de maio de 2022
O presidente dos EUA, Joe Biden, fala sobre segurança e o conflito na Ucrânia durante visita às instalações de operações da Lockheed Martin no condado de Pike, em Troy, Alabama, em 3 de maio de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 08.03.2024
Nos siga no
Especiais
Hoje os Estados Unidos vendem armas a mais de 100 países, espalhando seus tentáculos de influência por praticamente todo o mundo. Geralmente, essas trocas comerciais no ramo armamentista vêm acompanhadas de condições de submissão aos interesses americanos, mas nem sempre é assim.
A princípio, o resultado do comércio de armas praticado por Washington é a desestabilização do balanço internacional de poder. Pelo conceito de balanço de poder entenda-se a situação em que dois potenciais adversários se encontrem em iguais condições de causar danos significativos um ao outro.
Afinal, os países naturalmente não entrariam em um conflito se avaliassem como remotas as chances de sua vitória. Assim sendo, muitos governos se armam não exatamente para o ataque, mas sim para que outros não o ataquem. Entretanto, há um limite para esse incremento de sua capacidade defensiva e militar, pois caso um governo comece a se armar muito, isso acaba provocando percepções de ameaça em seus vizinhos, escalando as tensões e dando início a corridas armamentistas.
Seja como for, o equilíbrio de poder com potenciais rivais e a observação das capacidades adversárias tendem a ser os principais fatores no cálculo de sobrevivência dos Estados nacionais, determinando o quanto um país precisa se armar para se sentir seguro.
Por sua vez, quando o governo dos Estados Unidos aprova o envio de armas a algum país, em todos os seus comunicados oficiais é comum escutarmos que tais vendas não alteram o equilíbrio de poder regional. Ora, um desequilíbrio de poder bastante evidente é o que leva à escalada de conflitos e à instabilidade em muitas regiões já altamente problemáticas por si só, como é o caso do Oriente Médio, por exemplo.
Vista do Capitólio dos EUA em Washington, EUA, 7 de março de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 08.03.2024
Panorama internacional
Mídia: governo Biden aprovou mais de 100 remessas militares a Israel sem conhecimento do Congresso
Ainda assim, é bastante ilustrativo que os Estados Unidos tenham uma presença tão massiva em todo o mundo, justamente por conta da venda de armas para a "manutenção da paz" internacional. Seus tentáculos de influência em todos os cantos do planeta através da exportação de empresas militares estadunidenses são talvez o principal retrato desse engajamento americano no mundo.
Mas quais outros ganhos, além de influência, Washington pode obter com isso?
Muita das vezes trata-se de garantir a lealdade de um regime específico em uma localidade estratégica. E as armas são a moeda que garante essa lealdade. Por meio delas, é como se a Casa Branca enviasse um sinal para o governo comprador de que os Estados Unidos chancelam e aprovam a sua continuidade no poder. No mais, outra das razões pelas quais os americanos vendem armas é no sentido de terceirizar a sua função de policial do mundo.
Na Ásia, por sua vez, o comércio de armas empregado pelos americanos visa fortalecer regimes locais para que estes se alinhem aos interesses de Washington contra a China. Nesse caso, as armas americanas vêm acompanhadas da expectativa de que, diante do conflito global que se avizinha, os países compradores ajudarão os Estados Unidos a projetarem seus interesses globais.
Um soldado taiwanês segura uma bandeira nacional de Taiwan perto de um grupo de soldados com marcas vermelhas em seus capacetes para desempenhar o papel de inimigo durante os exercícios militares anuais de Han Kuang, simulando um ataque a um campo de aviação no Aeroporto Internacional de Taoyuan, em Taoyuan, norte de Taiwan, julho 26, 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 23.02.2024
Panorama internacional
Pequim acusa EUA de vender armas a Taiwan e usar a ilha para conter a China
Afinal, onde o comércio de armas realmente funciona é na manutenção de parcerias fortes com países estratégicos. Aliados americanos como a Coreia do Sul, a Austrália e o Japão são uma prova disso. É muito provável que esses Estados apoiem os Estados Unidos em uma eventual crise regional no Sudeste Asiático envolvendo Washington e Pequim.
Se, por um lado, na Ásia essas parcerias parecem bastante seguras, em outras regiões do mundo a situação não é tão simples como parece. Um caso emblemático é o da Arábia Saudita. A administração de Barack Obama aprovou enormes transferências de armas para os sauditas, condicionando essas transferências à sua não utilização para a violação de direitos humanos fundamentais.
A Arábia Saudita também não poderia usar essas armas contra populações civis em nenhum tipo de conflito doméstico ou regional. No entanto, há quem acuse a Arábia Saudita de ter utilizado equipamento americano no contexto da guerra no Iêmen, com relatos que incluem bombardeio de hospitais e diversas outras estruturas civis.
Tais relatos baseiam-se na investigação de jornalistas independentes que identificaram nos destroços dos ataques diversos pedaços de equipamentos e mísseis com o número de série de empresas americanas como Lockheed Martin e Raytheon. Não à toa, os houthis do Iêmen enxergaram os ataques sauditas como patrocinados diretamente pelos americanos, principais responsáveis por enviar armas para Riad.
Polôlnia será o primeiro parceiro internacional a adquirir o Sistema Integrado de Comando de Combate (IBCS) dos Estados Unidos, assinatura do acordo, 29 de fevereiro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 02.03.2024
Panorama internacional
Polônia assina acordo de US$ 2,5 bi com EUA para sistema avançado de defesa aérea (FOTOS)
Entretanto, os Estados Unidos têm poucas condições de pressionar o governo saudita a controlar a utilização desses armamentos, pois durante muito tempo a Arábia Saudita foi cortejada pela Casa Branca como um dos principais parceiros regionais de Washington no Oriente Médio.
Os sauditas também são fundamentais para o cálculo estratégico americano de contenção do Irã. Quando, durante a administração Trump, o Congresso americano tentou aprovar uma resolução que visava limitar o envio de armas a Riad, tal iniciativa acabou não avançando devido a um veto do presidente.
E mesmo sob a administração atual, de Joe Biden, embora em menor intensidade, as armas estadunidenses continuam a fluir para o governo saudita, que hoje conta com enorme poder de barganha perante a Casa Branca em muitos aspectos. A ideia é que os Estados Unidos, ao venderem armas, obtenham a lealdade de governos estratégicos ao redor do mundo, mas, ao contrário do que se espera, em algumas situações são os próprios Estados Unidos que passam a dever lealdade aos governos compradores.
© AP Photo / Johnson LaiMilitares ao lado de mísseis antinavio Harpoon A-84, dos EUA, e mísseis ar-ar AIM-120 e AIM-9, preparados para exercícios de carregamento de armas, de frente para um caça F-16V, também dos EUA, na base aérea de Hualien, no condado de Hualien, sudeste de Taiwan
Militares ao lado de mísseis antinavio Harpoon A-84, dos EUA, e mísseis ar-ar AIM-120 e AIM-9, preparados para exercícios de carregamento de armas, de frente para um caça F-16V, também dos EUA, na base aérea de Hualien, no condado de Hualien, sudeste de Taiwan - Sputnik Brasil, 1920, 08.03.2024
Militares ao lado de mísseis antinavio Harpoon A-84, dos EUA, e mísseis ar-ar AIM-120 e AIM-9, preparados para exercícios de carregamento de armas, de frente para um caça F-16V, também dos EUA, na base aérea de Hualien, no condado de Hualien, sudeste de Taiwan
Afinal, se porventura Washington decidir parar de vender armas para determinado país, esse país pode vir a chantagear os americanos, ameaçando comprar armas de outros fornecedores.
Outro caso emblemático é o de Israel, maior recipiente de ajuda militar estadunidense. Hoje Israel é o principal exemplo da falta de poder de barganha que os Estados Unidos detêm perante um parceiro estratégico.
Afinal, o governo dos Estados Unidos também assiste inerte à forma como Tel Aviv tem conduzido a sua guerra em Gaza contra o Hamas, que já culminou na morte de mais de 30 mil vidas palestinas. Ainda assim o que vemos é um esforço de continuidade por parte dos americanos de enviar ainda mais ajuda aos israelenses, apesar das críticas e da censura internacional.
Como resultado, esses tentáculos de influência por meio da venda de armas fazem dos Estados Unidos não só um dos principais sequestradores da segurança global, como também um refém de seus parceiros mais transgressores.
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.
Feed de notícias
0
Para participar da discussão
inicie sessão ou cadastre-se
loader
Bate-papos
Заголовок открываемого материала