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'A ferro e fogo': a ajuda americana a Israel e o fator tecnológico por trás do conflito em Gaza

© AFP 2023 / Ahmad GharabliEsta imagem mostra uma bateria do sistema de defesa aérea Cúpula de Ferro de Israel na cidade de Ashdod, no sul, em 13 de maio de 2023
Esta imagem mostra uma bateria do sistema de defesa aérea Cúpula de Ferro de Israel na cidade de Ashdod, no sul, em 13 de maio de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 14.02.2024
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Desde a década de 1970, Israel tem sido o maior beneficiário de ajuda externa dos Estados Unidos. A razão para isso é simples: os americanos veem em Israel o principal representante de seus interesses econômicos e geopolíticos no Oriente Médio.
Apenas em 2023, a ajuda estadunidense a Israel já totalizou mais de US$ 100 milhões (R$ 495,4 milhões). Isso significa que: quase um quarto do orçamento militar de Tel Aviv foi efetivamente financiado pelos Estados Unidos. Tal ajuda tem sido crucial para nutrir a indústria de armamentos israelense e transformá-la em uma das mais letais e tecnologicamente avançadas do mundo.
No entanto, os Estados Unidos também se beneficiam periodicamente dessa relação militar e financeira única para com Israel. A título de exemplo, satélites de reconhecimento e sistemas de defesa aérea israelenses desempenharam um papel fundamental durante a Guerra do Golfo travada pelos americanos.
Em 1990, aliás, quando o Iraque disparou mísseis de tipo Scud contra Israel, os satélites israelenses foram capazes de localizar os lançadores de foguete inimigos com certa facilidade, o que chamou a atenção dos formuladores de políticas na Casa Branca e no Pentágono.
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Contudo, à medida que foguetes e mísseis foram se tornando cada vez mais baratos, menores e mais portáteis, a ameaça de sua utilização em conflitos regionais passou a ser exercida não somente por Estados, como também por grupos insurgentes não estatais como o Hezbollah e o Hamas.
Mesmo no contexto da Guerra do Golfo, ambos os grupos já eram capazes de disparar dezenas de mísseis contra partes de Israel. À medida que os anos 1990 avançavam, por sua vez, ficava claro para Israel a necessidade de um novo tipo de sistema de defesa que pudesse diminuir os riscos da proliferação de tecnologia de mísseis na região.
Assim sendo, os israelenses implementaram esforços para a criação de um sistema de defesa antiaérea, resultando no que hoje é conhecido como Cúpula de Ferro. A Cúpula de Ferro utiliza tecnologia avançada para a detecção e neutralização de foguetes e mísseis disparados contra Israel por grupos como o Hezbollah e o Hamas, tornando-se um nome familiar dentro dos estudos militares e de defesa ao redor do mundo.
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Ironicamente, mesmo a França e o Reino Unido, outrora relutantes em exportar armas para Tel Aviv, viram-se interessados em importar os sistemas israelenses de defesa ao notarem a relativa eficiência da Cúpula de Ferro ao longo dos anos. Ao todo, a vantagem tecnológica adquirida por Israel e o apoio financeiro americano ajudou Tel Aviv a lidar com uma variedade de ameaças emergentes, não apenas pela via militar, mas também no ciberespaço.
Ora, a busca de armas nucleares pelo Irã e a forma como Israel e Estados Unidos lidaram com essa questão em meados dos anos 2000 são um exemplo disso. Em 2009, centrífugas iranianas usadas para enriquecimento de material físsil foram invadidas por um worm (programa de computador malicioso) chamado Stuxnet, provocando então seu mau funcionamento.
Desenvolvido em conjunto por americanos e israelenses, o Stuxnet praticamente "sequestrou" as centrífugas iranianas, controlando sua velocidade de funcionamento e prejudicando os planos da liderança política em Teerã para enriquecimento de urânio. Fora essa arma cibernética de Israel, desenvolvida em conjunto com os americanos, que conseguiu então inviabilizar o programa nuclear do Irã.
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Não à toa, desde o ataque com o Stuxnet, Israel emergiu como uma potência no ramo da guerra cibernética internacional. Aliado ao uso de tecnologias militares de ponta, Israel transformou-se então em uma das nações-símbolo da chamada "diplomacia armamentista".
Tal diplomacia permitiu a Israel construir relações estratégicas com diversos países importantes, sobretudo no Ocidente, reforçando assim a sua posição geopolítica no Oriente Médio e servindo de cabeça de ponte para os interesses estadunidenses na região.
Contudo, a certeza de sua superioridade tecnológica diante de adversários como o Hamas e o Hezbollah culminou por obscurecer o julgamento da inteligência israelense. Muitos acreditam ter resultado justamente desse mau julgamento e da arrogância de Israel aos ataques de 7 de outubro de 2023 ao país, perpetrados pelo grupo Hamas. Afinal, até aquele momento Israel acreditava ser virtualmente invulnerável a uma incursão em grande escala como a que ocorreu.
Isso porque o governo israelense havia construído um dos sistemas de defesa mais sofisticados do mundo em torno da Faixa de Gaza, repleto de sensores avançados e metralhadoras controladas remotamente. Não obstante, Israel também havia implantado uma variedade de equipamentos antimísseis de última geração perto da fronteira com Gaza, o que gerou uma falsa sensação de segurança em meio a possíveis ataques de foguetes e artilharia por parte do Hamas.
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Seja como for, no dia 7 de outubro de 2023 não só a Cúpula de Ferro foi rompida, pois os poucos soldados israelenses instalados na área de fronteira não foram capazes de impedir a incursão de combatentes do Hamas nos territórios controlados por Tel Aviv. Para Israel, paradoxalmente, o culto à superioridade militar e tecnológica desenvolvida ao longo dos últimos anos acabou se tornando seu principal ponto fraco.
O Hamas conseguiu então destruir o mito da invulnerabilidade israelense, provocando uma resposta por parte do governo de Benjamin Netanyahu que muitos têm considerado como – no mínimo – "desproporcional". Com mais de 30 mil mortos palestinos desde o início do conflito, a repercussão negativa em torno das ações de Israel tem aumentado a cada dia, a ponto de a África do Sul ter patrocinado um pedido de investigação junto à Corte Internacional de Justiça sobre possíveis atos de genocídio cometidos por Tel Aviv.
Em teoria, os ataques de outubro por parte do Hamas mostraram que a confiança exagerada em sua superioridade tecnológica colocou Israel em uma posição delicada. Por outro lado, mais delicada ainda é a posição atual dos governos de Netanyahu e de Joe Biden diante da repercussão internacional causada pelas milhares de vítimas palestinas desde o início do conflito.
Situações como essa provam que nem tudo é passível de ser resolvido "a ferro e fogo". Afinal, essa é uma lição que tanto Israel quanto os Estados Unidos parecem não ter aprendido.
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.
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