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Um 'morto-vivo' em busca de sangue que perambula pela Europa e atende pelo nome de OTAN

© AP Photo / Hoshang HashimiSoldados dos EUA, parte da Força Internacional de Apoio à Segurança (ISAF, na sigla em inglês), liderada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), em ação na cidade afegã de Shindand, na província de Herat, a oeste de Cabul, em 28 de janeiro de 2012
Soldados dos EUA, parte da Força Internacional de Apoio à Segurança (ISAF, na sigla em inglês), liderada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), em ação na cidade afegã de Shindand, na província de Herat, a oeste de Cabul, em 28 de janeiro de 2012 - Sputnik Brasil, 1920, 27.12.2023
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Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os aliados europeus dos Estados Unidos acostumaram-se a uma relação de subordinação para com seu patrono do outro lado do Atlântico. Para além disso, é pelo território da Europa que a OTAN, principal símbolo dessa subordinação, vem perambulando desde a década de 1990, em busca do sangue de suas novas vítimas.
Por certo, esse sistema de aliança militar multilateral representado pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) é diferente de qualquer forma de aliança que já existiu na história. Afinal, quando a organização foi estabelecida pela primeira vez, em 1949, tendo a União Soviética como sua principal ameaça, já indicava-se que a aliança pretendia estabelecer a coordenação unificada de todos os planos de defesa nacional dos seus países-membros. Tempos depois, quando a Alemanha Ocidental foi integrada à OTAN, em 1955, sua estrutura militar tornou-se ainda mais complexa e a atribuição permanente de tropas de combate no território europeu passou a ficar a cargo de um comando militar coordenado e supervisionado pelos Estados Unidos.
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Por muitos anos, a OTAN também serviu como uma frente diplomática única, garantindo a submissão política dos europeus a Washington diante das mudanças que vinham ocorrendo na União Soviética e na China de Mao. A dinâmica principal da Aliança Atlântica, portanto, desde muito cedo adquiriu contornos de formulação de uma postura comum (que na verdade era ditada pela Casa Branca) em decorrência de uma suposta ameaça do comunismo soviético e chinês.
Eram os balanços da preparação militar soviética que definiam a agenda diplomática da OTAN, bem como as atividades de seus comitês, quer no planejamento de exercícios conjuntos, quer na aquisição de armas ou disposição de forças no território europeu ocupado pelos americanos. Diante desse contexto, vários cenários de combate contra Moscou foram pensados periodicamente, tornando-se a base conceitual para os exercícios anuais e semestrais que mantinham as tropas da OTAN em estado de prontidão. Com isso, a Aliança Atlântica esteve em alerta permanente durante os primeiros 40 anos de sua existência.
Todavia, como as tropas da OTAN nunca foram atacadas diretamente por um adversário à altura, a aliança nunca foi realmente testada em uma situação de guerra real, o que fez com que seu grau de coesão fosse mantido quase que à força pelos Estados Unidos. Durante a Guerra Fria, que recebeu esse nome justamente pela ausência de um conflito direto entre as duas superpotências, ainda assim foram pensados cenários em torno de uma guerra total envolvendo Moscou e a OTAN. Se a aliança decidisse, por exemplo, pela utilização de armas nucleares contra a União Soviética, imaginava-se que não só os países europeus seriam obliterados em resposta, como também os próprios Estados Unidos seriam devastados no processo.
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Por outro lado, se a aliança decidisse pela utilização ofensiva de tropas convencionais, os europeus provavelmente sofreriam por mais tempo — e de forma isolada — os efeitos de um atrito direto com o Exército Vermelho, enquanto os Estados Unidos assistiriam ilesos do outro lado do oceano, decidindo o melhor momento de intervir. Diante desses cenários nada animadores, nenhum conflito — como se esperava — acabou ocorrendo entre as duas partes, resultando no fato de que a OTAN na prática nunca correu riscos reais à sua existência, ainda mais com o fim da União Soviética, em 1991.
Durante a década de 1990, por sua vez, tornou-se claro que a Federação da Rússia não representava qualquer tipo de ameaça imediata à OTAN, com o governo russo da época procurando na verdade aderir às instituições ocidentais, e não as antagonizar. Por vários anos, portanto, a burocracia da aliança entrou em verdadeira estagnação, demonstrando sua falta de capacidade para articular e justificar a necessidade de sua existência. O caminho escolhido pela OTAN, então, foi recorrer a intervenções militares diretas em regiões que não eram de sua responsabilidade e que estavam fora de seu escopo original de ação, como os Bálcãs, no final dos anos 1990, e o Norte da África e o Oriente Médio, em meados dos anos 2000.
Tal situação fez com que os países europeus perdessem inteiramente sua autonomia perante os novos desígnios políticos da Casa Branca com relação à atuação da OTAN, que agora estendia-se para muito além de suas funções originais. Em qualquer caso, a Aliança Atlântica obedecia pura e simplesmente aos interesses geopolíticos de momento dos Estados Unidos, seu principal financiador e mantenedor militar, apesar de um grande desconforto causado em parcelas da população europeia, que, corretamente, não viam mais sentido na continuidade da OTAN.
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Era mais do que claro, como já mencionado, que o simples compromisso ocidental de que "uma ameaça a um determinado país-membro era uma ameaça a todos" (como versava o Artigo 5 da carta de fundação da OTAN) perdera totalmente o sentido, pois tal ameaça não existia, a não ser para os formuladores de políticas em Washington. A OTAN, portanto, deixou de representar um compromisso de segurança mútua estabelecido na Guerra Fria para se tornar uma instituição que formalizava a "presença dos Estados Unidos" na Europa; logo a manutenção de sua estrutura, assim como as suas frequentes reafirmações de propósito e toda a sua pompa política, nada mais era do que um disfarce para a obtenção dos objetivos americanos no continente, contra os quais os europeus não tinham condição de protestar.
Quando a OTAN, por fim, começou suas ondas de expansão para o leste no início do século XXI, ficou evidenciado que tal movimento atendia aos interesses geopolíticos estadunidenses, que ainda viam na Rússia uma ameaça dormente à sua hegemonia nas relações internacionais, por atuar (sobretudo durante os anos 2000) como um ator político independente. Os americanos se ressentiam com um mundo que vinha se tornando cada vez mais multipolar, empreendendo então todos os esforços possíveis para defender sua posição privilegiada no tabuleiro europeu e global. O resultado de tudo isso foi que a OTAN, um verdadeiro "morto-vivo" do tempo da Guerra Fria, continua perambulando livremente pelo território europeu. E o faz atualmente se alimentando do sangue dos ucranianos. Quando este terminar, restará ao "morto-vivo" escolher quem será a sua próxima vítima.
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.
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