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Padrão duplo: especialista explica porque Biden criminaliza Rússia, mas defende Israel

© AP Photo / Miriam AlsterO presidente dos EUA, Joe Biden, durante reunião com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, para discutir a guerra entre Israel e o Hamas, em Tel Aviv, Israel, em 18 de outubro de 2023
O presidente dos EUA, Joe Biden, durante reunião com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, para discutir a guerra entre Israel e o Hamas, em Tel Aviv, Israel, em 18 de outubro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 20.11.2023
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Em seu último artigo de opinião no jornal The Washington Post, o presidente dos EUA, Joe Biden, afirma estar "de coração partido" com os acontecimentos na Ucrânia e em Gaza. Para avaliar até onde vai o envolvimento dos EUA nos conflitos, a Sputnik convidou o cientista político e reitor de Futuros Globais da Curtin University, Joe Siracusa.
Os EUA ainda são considerados por muitos analistas políticos a maior potência mundial da atualidade. Mas essa posição tem sido posta em descrédito por uma série de fatores que vão desde a enorme dívida pública norte-americana à ascensão da China no cenário global.
Com imenso interesse em fortalecer suas alianças comerciais e bélicas — aquecendo assim uma de suas indústrias mais pujantes — para fazer frente ao crescimento chinês, Washington manifestou interesse imediato no conflito ucraniano, fomentando a ajuda ocidental para o fornecimento de recursos militares e financeiros para sustentar o esforço armamentista da Ucrânia.
Como se não bastasse a tensão geopolítica na Europa, o Oriente Médio se viu mergulhado em um conflito graças a um atentado perpetrado pelo grupo militante palestino Hamas contra Israel, após longos meses de duros conflitos localizados e uma política violenta de ocupação de Tel Aviv em Gaza. Mas o que justifica o envolvimento norte-americano em um conflito, ao criminalizar a Rússia pelo seu pragmatismo político em salvaguardar suas zonas de influência — na medida da expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para o Leste Europeu — e o apoio de Washington à política de extermínio do Hamas por Israel?
De acordo com o cientista político Joe Siracusa, "os EUA sublinharam a guerra na Ucrânia, especialmente quando pensaram que as tropas russas estavam cometendo atrocidades e salientaram o sofrimento do povo ucraniano em tempo de guerra".

"As pessoas sofrem dos dois lados. Então há um duplo padrão aqui. Enquanto o presidente [Joe] Biden está fazendo barulho político sobre o que diz que as tropas russas estão fazendo e o que o presidente [russo Vladimir] Putin estaria permitindo, na verdade, ele está acusando o presidente Putin de crimes de guerra e coisas do gênero, já quando se trata de Israel, onde Benjamin Netanyahu, o líder de Israel, está na verdade cometendo crimes de guerra, não há comentários da administração Biden", ressaltou o especialista.

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Para Siracusa, o presidente norte-americano tem ignorado o assassinato e a morte de milhares de palestinos, incluindo milhares de mulheres e crianças, o que pode ser caracterizado como os dois pesos e duas medidas de Washington para com Moscou e Tel Aviv, mas é um padrão que, segundo ele, os EUA imaginam ser um padrão internacional.
"Quando se trata de Israel, há, de fato, uma dupla moral, porque ele está dizendo que os israelenses podem fazer o que quiserem e que a morte de pessoas inocentes é um dano colateral", salienta o especialista, afirmando que os conflitos, no entanto, começaram por razões muito diferentes.
Para o cientista político, quando Biden decidiu apoiar a Ucrânia, decidiu atrelar o seu carro político à Ucrânia.
"Ele pensou que seria muito fácil para os ucranianos resistirem à incursão [russa] e reagiu exageradamente. Mas é preciso entender que Biden, que completou 81 anos nesta segunda-feira [20], após o fim da Guerra Fria em 1990, tinha alguns assuntos inacabados com a Rússia soviética", pontuou. "Ele tem uma russofobia embutida [em seu discurso], assim como ele faz com os chineses também. É que ele está programado para a Guerra Fria original. E ele se envolveu nisso sem realmente perguntar ao povo norte-americano."
Segundo Siracusa, as agências de inteligência dos EUA decidiram que a China era o inimigo público número um e a Rússia o número dois, mas sem consultar o povo norte-americano. Não houve qualquer declaração de guerra no curso dos acontecimentos. "Ele está, na verdade, em uma quase guerra por procuração com a Rússia", afirmou. "Se você dá às pessoas armas, munições, aviões e tanques para matar soldados de outra nação, você está literalmente em guerra com eles", explicou.
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"Chama-se homicídio qualificado. É isso que é. Você sabe, você é um cúmplice. Torna-se assim cúmplice desta guerra sem qualquer explicação ao povo americano. E você deve ter em mente que temos a mentalidade de Biden e ele é um prisioneiro do establishment da política externa e da elite política em Washington e, durante o curso da minha vida, nos envolveu no Vietnã, nos envolveu no Afeganistão, nos envolveu no Iraque, envolveu-nos no Irã e em tudo o resto. Estas são pessoas que aterrorizam permanentemente o povo americano. E, claro, todos estão em dívida com o complexo industrial-militar", pontuou ele.

Quando convidado a comentar o conflito no Oriente Médio e a postura de Israel, o especialista explica que "fazer uma má aposta permite aos israelenses fazerem o que quiseram durante os últimos 20 anos. E apostar em uma solução de dois Estados pressupõe que as pessoas com quem estamos lidando não são apenas cegas, mas também estúpidas. Todos podem ver que uma solução de dois Estados não vai funcionar, porque só funciona se a Organização para a Libertação da Palestina [OLP], se a Autoridade Palestina puder intervir, e ninguém quer que isso aconteça e não vai acontecer".
Para Siracusa, a comunidade internacional parece desejar algo que é virtualmente impossível de acontecer pela realidade que se demonstra nas lideranças políticas envolvidas no conflito. Segundo ele, não importa quantas conferências forem feitas, ou ainda, quantos acordos monetários financiados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) forem realizados, "simplesmente não vai funcionar".
"E a destruição lá é tão ruim, quero dizer, quem vai pagar a conta? Quem vai reconstruir esse lugar? Você sabe, 60% das moradias desapareceram. [...] A infraestrutura acabou. Os sistemas de esgoto desapareceram. As escolas desapareceram. Quero dizer, na melhor das hipóteses, Gaza, se estiver lá, será apenas um pouco reconstruída, será um caso perdido durante os próximos cem anos", concluiu.
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