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Em sinal de exaustão, França suspende transferências gratuitas de armas para a Ucrânia

© AFP 2023 / Lionel BonaventureProjéteis na oficina das forjas da comuna francesa de Tarbes, que produz munições de 155 mm, que servem aos canhões de artilharia Caesar franceses em uso pelas Forças Armadas ucranianas, em 4 de abril de 2023
Projéteis na oficina das forjas da comuna francesa de Tarbes, que produz munições de 155 mm, que servem aos canhões de artilharia Caesar franceses em uso pelas Forças Armadas ucranianas, em 4 de abril de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 13.11.2023
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A França vai deixar de fornecer à Ucrânia armas dos seus arsenais, por isso Kiev começou a comprar novas armas de empresas francesas usando dinheiro de um fundo especial, disse o ministro francês das Forças Armadas, Sébastien Lecornu.
Paris atribuiu 200 milhões de euros (cerca de R$ 1,05 bilhão) a um fundo destinado a financiar as compras diretas da Ucrânia aos fabricantes de armas franceses. O ministro francês das Forças Armadas, Sébastien Lecornu, anunciou, ainda no domingo (12), que a França não transferiria mais armas dos seus arsenais, encorajando Kiev a comprá-las. Até à data, a ajuda militar da França a Kiev totalizou 3,2 bilhões de euros (aproximadamente R$ 16,8 bilhões), de acordo com um relatório parlamentar elaborado para o Comitê de Defesa e Forças Armadas da Assembleia Nacional Francesa.

A declaração de Lecornu não surgiu do nada: no final de setembro, ele visitou Kiev acompanhado por cerca de 20 fabricantes de defesa. "As transferências [gratuitas] não podem ser feitas indefinidamente", disse o ministro francês a jornalistas na altura.

Em uma entrevista exclusiva à Franceinfo em 29 de setembro, Lecornu explicou que Paris conseguiu se livrar de muitas armas antigas transferindo-as para a Ucrânia e que agora Kiev teria de manter laços comerciais diretos com os fabricantes de armas franceses. O que está por trás da mudança?

"Na França, como em vários outros países da Organização do Tratado do Atlântico Norte [OTAN] e nos EUA, os estoques estão esgotados", disse Earl Rasmussen, tenente-coronel aposentado com mais de 20 anos de serviço ao Exército dos EUA e consultor internacional, à Sputnik. "Eles estão perigosamente baixos. Eles realmente não podem se defender. E os fundos continuam a fluir. É como um buraco negro na Ucrânia. Então você está penalizando seu próprio público também, se eles quiserem, para sua segurança fornecer financiamento ilimitado e armas à Ucrânia. E eu concordaria com o ministro […] francês que essas doações gratuitas não podem continuar indefinidamente. E ele está correto ao dizer isso."

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Segundo Rasmussen, os ucranianos obviamente se beneficiaram do fornecimento de armas francês, especialmente tendo em conta o fato de algumas dessas armas aparentemente terem ido para os mercados ilegais. "Se você consegue de graça, por que comprá-las?", observou ele.
De acordo com o relatório parlamentar francês, Kiev obteve particularmente 30 canhões Caesar; várias dezenas de veículos blindados de reconhecimento AMX-10 RC e Veículos Blindados de Vanguarda (VAB, na sigla em francês); 15 obuseiros TRF1; quase uma centena de mísseis terra-ar Mistral; duas baterias de mísseis antiaéreos Crotale; cerca de 50 mísseis ar-superfície SCALP/Storm Shadow; mísseis guiados antitanque Milan; e barcos Zodiac Futura, entre outros equipamentos.

"Os ucranianos dizem que querem investimentos no seu país, obviamente querem que os fabricantes de armamento invistam o dinheiro inteiramente na construção de fábricas no seu país", disse o especialista. "Claro, como eles compram as armas? Porque eles não têm nenhuma receita real nem nenhuma economia real. E uma vez que você começa a construir uma fábrica na Ucrânia, esse é um alvo justo para a Rússia. Acho que precisa haver uma retaliação […]. O problema é que provavelmente não querem fazê-lo porque as armas parecem estar desaparecendo no mercado negro e o dinheiro parece estar desaparecendo também. Quem sabe o quê [acontece]?"

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Ocidente cavou seu próprio buraco

Nesse contexto, a declaração da ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, de que o Ocidente não só manteria o mesmo nível de apoio à Ucrânia no futuro, mas também o aumentaria, não é válida, de acordo com Rasmussen.

"Eles não podem. O resultado final é que não podem", enfatizou o especialista. "Minha opinião é que eles estão delirando. Eles estão vivendo em uma realidade alternativa. Eles simplesmente não conseguem cumprir. Estava lendo um artigo outro dia sobre algo que deveria ser entregue em 2024 dos EUA à Ucrânia. Mas não temos os produtos químicos, os suprimentos ou a capacidade para [tal], […] mesmo que nossas fábricas pudessem produzi-los, não temos os suprimentos necessários para produzir as munições e as armas necessárias."

Segundo Rasmussen, a questão da cadeia de abastecimento também é um problema: a maior parte da Europa não obtém os seus minerais e outras matérias-primas internamente, mas sim a partir de fornecimentos externos.

"E, então, quem é o principal fornecedor? A Rússia", enfatizou o especialista. "Então eles têm que recorrer a fontes alternativas."

Uma dessas fontes é a China, e é preciso ter em mente que os EUA e os seus aliados também têm atualmente relações tensas com Pequim, observou Rasmussen.
Para complicar ainda mais a situação, os países ocidentais também têm outros contratos, continuou ele. "Agora temos o conflito no Oriente Médio aquecendo. E, então, para onde vão as suas prioridades? Os EUA parecem ter certeza de que a sua prioridade é Israel."

"Portanto o Ocidente mergulhou em um buraco muito, muito ruim, e isso não é bom para o Ocidente", sublinhou Rasmussen.

O tenente-coronel reformado acredita que o único passo na direção certa é uma profunda mudança política no Ocidente.

"A minha opinião é que a única maneira de sair disso é a mudança de liderança política em muitos dos países ocidentais ou os seus líderes […] realmente chegarem a um acordo realista para parar o conflito e parar a matança. Quer dizer, essa é apenas a única maneira. Caso contrário, veremos uma nova escalada. E quem sabe aonde isso poderá levar E, então, ao mesmo tempo, temos um conflito potencialmente multifacetado acontecendo entre a Europa, o Oriente Médio e talvez a Ásia também. Portanto não é uma boa situação", concluiu Rasmussen.

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