- Sputnik Brasil, 1920
Panorama internacional
Notícias sobre eventos de todo o mundo. Siga informado sobre tudo o que se passa em diferentes regiões do planeta.

Protagonismo: Brasil lidera negociações do Mercosul; Bolívia entra ou não no bloco?

CC BY 2.0 / Palácio do Planalto / Ricardo Stuckert / Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante Sessão Plenária de Chefes e Chefas de Estado do Mercosul, Bolívia, Estados Associados e Convidados Especiais. Buenos Aires, 4 de junho de 2023
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante Sessão Plenária de Chefes e Chefas de Estado do Mercosul, Bolívia, Estados Associados e Convidados Especiais. Buenos Aires, 4 de junho de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 26.10.2023
Nos siga no
Especiais
Desde o início do seu governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) busca retomar o protagonismo diplomático que o Brasil construiu ao longo dos anos, mas que, segundo especialistas, foi enfraquecido durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), principalmente com a América Latina.
O fortalecimento do Mercosul, composto pelos países Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, e ao qual, nos últimos anos, incorporaram-se à Venezuela (temporariamente suspensa do bloco) e à Bolívia — esta última ainda em processo de adesão, aguardando ratificação brasileira — segue, ao que tudo indica, sendo prioridade do governo federal.
Um exemplo desse fortalecimento é a viagem realizada na terça-feira (17) pelo assessor de assuntos internacionais da Presidência, Celso Amorim, para Barbados, no Caribe.
De lá, Amorim acompanhou a reunião entre os EUA e a própria Venezuela.
Projeto de ponte sobre o rio Mamoré, interligando as cidades de Guajará-Mirim, em Rondônia, e Guayaramerín, na Bolívia - Sputnik Brasil, 1920, 06.10.2023
Notícias do Brasil
Ponte Brasil-Bolívia: comissão binacional aprova projeto de R$ 244 milhões
O compromisso firmado prevê um levantamento progressivo de sanções impostas à Venezuela.
A Sputnik Brasil conversou com especialistas para entender melhor como vem sendo feita a movimentação do governo brasileiro pela integração regional e a liderança no Sul Global com a Bolívia no Mercosul e a suspensão de sanções contra a Venezuela.
Presidente da Bolívia, Luis Arce, após reunião com os demais presidentes dos países da América do Sul no Palácio do Itamaraty. Brasília, 30 de maio de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 10.10.2023
Panorama internacional
Economista aposta em entrada da Bolívia no Mercosul até 2024; quais as vantagens para o bloco?
A suspensão de sanções contra a Venezuela é uma preocupação que coloca o Brasil em uma posição de liderança no Sul Global. Pedro Gustavo Cavalcanti Soares, doutor em ciência política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coordenador do bacharelado em relações internacionais da Faculdade Damas, reforça que as suspensões funcionam em parte. Sanções referentes ao comércio exterior permanecem.

''O lado mais importante, no que diz respeito ao comércio exterior, […] permanece de maneira muito pesada. Vale lembrar […] que o final do século 19 e início do século 20 é o começo de um momento histórico em que os Estados Unidos se utilizam de uma prerrogativa de defesa internacional para as Américas — todas as Américas, do Norte, Central e do Sul, [colocando-se] com um país mais forte pela não interferência da Europa. Negócios econômicos, financeiros, políticos, culturais e esse poder que os Estados Unidos vão impor às Américas faz com que tenha um poder de barganha muito forte, considerando esses trâmites com os países'', relembra e pontua o analista.

À Sputnik Brasil, o senador Humberto Costa (PT-PE) reforçou que a baixa das sanções realizadas à Venezuela são vistas como positivas pelo governo brasileiro.

''É importante para a Venezuela a suspensão [das sanções]. Uma boa parte [das suspensões às sanções] permite a recuperação econômica do país vizinho'', destaca o parlamentar. Ele reafirma que, além da importância, existe um compromisso entre as nações. ''Movimento importante, especialmente porque o governo venezuelano assumiu compromisso aos países que dão apoio aos movimentos feitos por lá de forma democrática'', conclui o governista.

Acerca da entrada da Bolívia no Mercosul, Rodolfo Marques, doutor em ciência política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professor na Universidade da Amazônia, pontua que é um movimento positivo.

''No Sul Global existe […] essa situação da Bolívia, que é um país que tem fronteira com o Brasil, tem fronteira terrestre e é importante também, não só na questão dos combustíveis, do gás, mas também na sua situação geopolítica. Então, para além do núcleo original — Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai —, esse fortalecimento junto a outras nações sul-americanas é fundamental dentro do contexto da representatividade do Mercosul'', pontua Rodolfo.

Bolívia no Mercosul: como especialistas e governistas enxergam a entrada

Dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) da Bolívia apontam que as importações bolivianas do Brasil passaram de US$ 1,5 bilhão (a cotação à época aponta R$ 3,5 bilhões); em 2006, para US$ 3,8 bilhões (a cotação à época aponta R$ 9,9 bilhões); e, em 2014, um crescimento de 146%.
Em dados recentes, é possível notar que, já em 2022, os números caem para US$ 1,8 bilhão (equivalente a R$ 9,5 bilhões). Segundo o líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE), o potencial para uma corrente comercial mais robusta permanece.

''O ingresso da Bolívia como membro pleno poderá ensejar projetos econômicos em áreas de grande potencial, como a exploração e o processamento de minérios raros, a exemplo do lítio. Esse mineral, chamado de 'o petróleo branco', é crucial na fabricação de baterias e outros insumos de ponta para a indústria de materiais elétricos'', enseja o líder do PT na Câmara.

A Bolívia passou por muitas turbulências políticas nos últimos anos envolvendo o ex-presidente Evo Morales, com candidaturas, cassações e prisões.
Em paralelo, durante o governo Bolsonaro, o Brasil foi alijado do jogo político e diplomático, perdendo relevância não só regionalmente, mas também a nível global.
De volta ao poder político, o presidente Lula (PT) se movimenta para mudar a realidade política. Um dos feitos é a aprovação da entrada da Bolívia no Mercosul.
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante sessão Plenária de Chefes e Chefas de Estado do Mercosul, Bolívia, Estados Associados e Convidados Especiais, Buenos Aires, 4 de junho de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 23.09.2023
Panorama internacional
Brasil exerce papel importante na ONU 'levando países do Mercosul a ter mais voz', diz pesquisador

"Esses movimentos que o governo Lula vem desenvolvendo são importantes nesse cenário, não só para integrar as nações sul-americanas, mas para propor uma cooperação maior, inclusive no quesito comercial", pondera Rodolfo Marques.

Um aspecto considerado "importantíssimo" pelo líder do governo na Câmara diz respeito à integração energética entre Brasil e Bolívia.
"Em 1999, começou a entrar em operação o famoso gasoduto Brasil-Bolívia, que traz gás natural daquele país para ser consumido nos grandes centros econômicos brasileiros. Esse gás natural boliviano desempenha [um] papel de relevo na alimentação das nossas termelétricas, contribuindo dessa maneira para a segurança energética do nosso país. Em 2016, tal gasoduto transportou 29 milhões de m³/dia", realça Guimarães.
A Bolívia ocupa uma posição central na América do Sul, integrando as grandes bacias hidrográficas e os grandes biomas do subcontinente. Ela é, portanto, considerada o principal eixo geográfico da integração física da nossa região. "Sem a Bolívia, os grandes projetos da Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana [IIRSA] não se realizarão", pondera Guimarães.
Reunião de coordenação sobre o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 27.09.2023
Panorama internacional
Analista: veto europeu ao acordo Mercosul-UE vem de pressão dos setores agrícolas francês e alemão
O parlamentar destacou que ao governo brasileiro "interessa uma Bolívia próxima, próspera e mais integrada com o Mercosul". Segundo o líder do governo na Câmara, o Brasil tende a "se beneficiar muito de um entorno mais estável, […] desenvolvido e […] integrado".
A integração, conclui o petista, regional, soberana e integradora, "tem centralidade na nova política externa do governo Lula".
A pauta já seguiu para o Senado. Em entrevista à Sputnik Brasil, o senador Humberto Costa adiantou que "até novembro ele deve estar totalmente aprovado, e a entrada da Bolívia já garantida".
Acerca das expectativas em relação à cooperação entre a Bolívia e os outros países-membros do Mercosul, os governistas pontuam ser as melhores possíveis. Com a entrada da Bolívia, o bloco passa a constituir uma frente com 300 milhões de habitantes, numa área de 13,8 milhões de km² e com PIB de quase US$ 4 trilhões (R$ 19,9 trilhões).

"O atual contexto econômico mundial, que inclui forte desarranjo das cadeias globais de valor, indica a necessidade de investir em cadeias regionais de produção, amparadas em políticas de desenvolvimento sustentável. Ambientalmente sustentável e socialmente sustentável. Isso só será possível com mais integração regional. E mais Mercosul", finaliza José Guimarães.

Feed de notícias
0
Para participar da discussão
inicie sessão ou cadastre-se
loader
Bate-papos
Заголовок открываемого материала