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Dólar ou real: Argentina precisa de uma nova moeda?

© AP Photo / Natacha PisarenkoPropaganda de casa de câmbio perto de supermercado na cidade argentina de Gualeguaychú, província de Entre Ríos
Propaganda de casa de câmbio perto de supermercado na cidade argentina de Gualeguaychú, província de Entre Ríos - Sputnik Brasil, 1920, 14.09.2023
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Entre as várias ideias que têm sido ventiladas para reverter a crise econômica na Argentina, muitas apontam para a utilização de outras moedas, em diferentes níveis. Mas quais seriam as consequências práticas dessas mudanças?
Recentemente, um ex-economista do FMI sugeriu uma alternativa interessante para a crise argentina: em vez de dolarizar a economia, como propõe o candidato a presidente Javier Milei, os argentinos poderiam atrelar o peso ao real.
"Se a Argentina quer tanto uma indexação cambial — a dolarização é, afinal, apenas uma indexação —, atrele-se ao Brasil. O Brasil é um exportador de commodities (como a Argentina), tem grandes superávits comerciais (ao contrário da Argentina) e um banco central muito confiável (ao contrário da Argentina). Tal fixação poderia funcionar para a Argentina", disse o economista no final do mês passado.
Nas redes sociais, os comentários foram alvo de chacota dos internautas. Mas a Sputnik Brasil consultou dois economistas para explicar se a proposta é mesmo pouco razoável ou se seria uma boa alternativa para um país que convive com uma inflação de 100% ao ano.
Aqui está meu tweet de 22 de agosto sobre o assunto. Não creio que qualquer tipo de indexação seja uma boa ideia, mas se a Argentina realmente quiser uma, deveria indexar-se a outra moeda de commodities que seja um grande parceiro comercial e tenha um banco central altamente confiável. Esse é o Brasil.
Segundo a professora de economia da Fundação Getulio Vargas Carla Beni, é importante destacar, antes de tudo, que Brooks é, historicamente, um entusiasta do Brasil, e deve ter se apoiado no fato de que o país tem apresentado resultados macroeconômicos muito positivos.
Para Beni, no entanto, trocar uma moeda emitida por um banco central local por uma de outro país já é algo bem complicado. E mais ainda se for levada em conta a rivalidade entre Brasil e Argentina, que atinge várias áreas.
"Essa é uma questão cultural fortíssima, que vai além das questões monetárias. A economia argentina já trabalha com o dólar fisicamente. As pessoas têm acesso, têm dólares em casa, vendem imóveis em dólares há mais de 40 anos. Há uma naturalidade da movimentação do dólar. Então a sociedade argentina, se ela tiver que fazer alguma mudança de base, ela vai ter mais aderência ao dólar do que ao real, sem dúvida", comenta a economista em conversa com a jornalista Melina Saad, da Sputnik Brasil.
Embora a rejeição ao dólar seja menor, a professora não vê com bons olhos a proposta de dolarização da economia argentina, que se baseia em um modelo "muito problemático".
"Atrelar uma moeda a outra é muito complicado, além de representar uma perda total de controle das ferramentas de política monetária. Esse modelo é muito problemático e não costuma dar certo."
A especialista acha previsível o sucesso do direitista Javier Milei nas pesquisas eleitorais com seu discurso de combate à inflação e dolarização. Mas a ideia, na prática, é simplória e ineficiente, segundo ela.
"Se perguntarmos a um cidadão argentino qual o grande problema da Argentina, ele dirá que é a inflação. Aí surge um candidato que fala que vai eliminar o problema central. Como? O problema da inflação é causado pela moeda, a moeda é fraca, então a gente para de emitir uma moeda e troca pelo dólar, que é uma moeda forte. O banco central não é a origem do problema. Essa é uma saída simplista, simplória e ineficiente."
Seja levando a cabo a ideia de dolarização ou aderindo a uma hipotética indexação ao real, o ponto mais sensível seria que a economia da Argentina ficaria diretamente submetida a circunstâncias econômicas externas, afirma, também em declarações à Sputnik Brasil, o professor de economia do Ibmec Walter Franco.
"Se você tiver alguma modificação na taxa de juros, no Brasil ou nos Estados Unidos, uma maior ou menor demanda, modificação na forma como essas moedas são negociadas nos seus países de origem, quando a Argentina atrelar a sua moeda a qualquer moeda externa, ela sofrerá essas consequências, que são externas à sua própria sociedade", explicou o analista.
Para Franco, é indiferente dolarizar ou atrelar ao real, porque a problemática será a mesma. Entretanto ele considera que a indexação poderia ser uma saída temporária. Por exemplo, poderia ter como base a adoção de uma cesta de moedas.
"Aí teríamos que ver a balança comercial argentina: para onde mais exporta, de onde recebe mais recursos? É dólar, é euro ou são os reais? O peso poderia ter um atrelamento a uma média dessas moedas", argumentou Franco. "Tudo isso deve ser feito apenas por um período transitório, até que haja uma estabilidade do preço. E consequentemente, em seguida, você volta a ter a moeda original."
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