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'Se ele cair, cai também o jornalismo': a luta de Assange contra a censura do Ocidente

© Niklas Halle'nApoiadores do fundador do WikiLeaks, Julian Assange, seguram cartazes do lado de fora da Corte Real de Justiça em Londres, em 10 de dezembro de 2021
Apoiadores do fundador do WikiLeaks, Julian Assange, seguram cartazes do lado de fora da Corte Real de Justiça em Londres, em 10 de dezembro de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 13.09.2023
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Está em cartaz nos cinemas brasileiros o documentário "Ithaka: A Luta de Assange", que acompanha a trajetória incansável de John Shipton, pai do jornalista Julian Assange, para salvar o seu filho de uma possível – e injusta – condenação à prisão nos EUA, apenas por ter revelado ao público verdades inconvenientes sobre o governo americano.
Com o caso de Assange, o Ocidente deixou muito claro que o jornalismo livre é hoje um de seus principais inimigos diretos. Assange, fundador do site WikiLeaks em 2006, tornou-se o principal bode expiatório por trás da divulgação em 2010 de mais de 92 mil documentos secretos relacionados às guerras americanas no Afeganistão e no Iraque.
Em tais documentos, detalhavam-se diversos incidentes de tortura sistemática de civis, crimes de guerra não reportados, corrupção governamental e corporativa, assassinatos policiais extrajudiciais, ataques de drones a pessoas inocentes e outras aberrações, o que causou um verdadeiro alvoroço na mídia e na opinião pública internacional.
Logo, quando Assange começou a ser perseguido por autoridades americanas e britânicas, seu nome passou a representar um verdadeiro emblema pela defesa da liberdade de imprensa e do jornalismo, cuja nobre missão era trazer à luz esquemas de corrupção governamental, bem como os crimes de guerra cometidos pelos Estados Unidos e seus aliados em várias regiões do globo.
No momento em que se tornou alvo do Ocidente por revelar a verdade ao mundo, Assange decidiu se refugiar na Embaixada do Equador no Reino Unido em 2012, saindo de lá sete anos depois, quando enfim foi detido pelas forças policiais britânicas e encaminhado para a prisão de segurança máxima Belmarsh (em Londres). De lá, Assange passou a aguardar por uma decisão judicial sobre sua extradição aos Estados Unidos.
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O documentário "Ithaka", portanto, acompanha justamente esse período através do ponto de vista de John Shipton, pai do jornalista, que viaja pelo Reino Unido, Europa e Estados Unidos para impedir a extradição de Assange à América.
Para além de Shipton, o filme também dedica bastante ênfase a Stella (esposa de Julian), que fez parte da equipe jurídica de Assange durante o seu asilo na Embaixada do Equador. Ao longo do documentário, acompanhamos então Stella e Shipton em sua defesa incansável pelos direitos humanos, e em prol da libertação de Assange das garras do aparato policial britânico.
Como mostrado no documentário, Julian, o prisioneiro político mais famoso do mundo, tem o apoio não somente deles, mas sim de milhões de pessoas ao redor do globo, cujas manifestações de solidariedade a Assange contrastavam com a fria e impetuosa ameaça imposta pelos Estados Unidos, não somente a Julian mas também a quaisquer jornalistas livres.
Afinal, o WikiLeaks apenas escancarou alguns dos mais hediondos episódios do unilateralismo americano durante a era pós-11 de setembro, assim como os planos agressivos de Washington na condução de sua guerra global contra o terrorismo.
Para o público doméstico, a administração Bush dizia que os Estados Unidos não podiam se dar ao luxo de esperar por nova uma ameaça terrorista a seu território, o que obrigou a Casa Branca a implementar uma verdadeira caça às bruxas mundo afora, a começar pelo Afeganistão (em 2001) e em seguida pelo Iraque (em 2003).
Vale lembrar que, para justificar a invasão ao Iraque, os americanos diziam que Saddam Hussein estava escondendo armas químicas, o que acabou se provando uma mentira. De acordo com Washington, o regime de Saddam Hussein também estaria envolvido com a proteção de grupos terroristas que visavam atacar os Estados Unidos no futuro, o que justificava quaisquer medidas drásticas contra aquele país.
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Entretanto, o que os documentos revelados em 2010 pelo WikiLeaks demonstraram, e que o governo americano tentou a todo custo esconder de sua população, é que as forças estadunidenses no Iraque e no Afeganistão estiveram ativamente envolvidas com uma série de crimes de guerra e esquemas de corrupção monumentais. Foi esta revelação que tornou Assange o alvo número um do Ocidente desde então.
Julian foi perseguido por publicar informações verdadeiras sobre assuntos de interesse público e por acreditar que os governos deveriam ser controlados pelo povo e não o contrário. Afinal, as democracias ocidentais, e sobretudo a americana, sempre se gabaram de princípios como a liberdade de imprensa e de opinião.
Entretanto, o caso de Julian Assange provou de forma categórica que esses princípios foram imediatamente jogados na lata do lixo quando se tratou de proteger as maquinações e os excessos dos Estados Unidos no exterior. Além do mais, o WikiLeaks também foi instrumental na revelação dos esquemas de vigilância americana sobre altos funcionários da ONU, bem como de diversos líderes mundiais, inclusive de países parceiros.
Tudo isso com o objetivo de deter o total controle sobre as comunicações de chefes de Estado importantes, exercitando na prática um tipo de espionagem clandestina não autorizada de assuntos domésticos de outras nações.
O documentário "Ithaka" aborda todos esses pontos com bastante clareza e, ao mesmo tempo, com bastante respeito ao sofrimento das pessoas próximas de Assange. Todavia, talvez a principal mensagem do filme seja realmente uma busca incessante por justiça. No âmbito de toda a sua duração, "Ithaka" destaca-se como uma obra obrigatória para todos aqueles que desejem entender melhor as flagrantes contradições do discurso ocidental sobre democracia e direitos humanos.
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Na verdade, os que procuraram defender de forma honrada e profissional justamente estes princípios (como Edward Snowden e o próprio Julian Assange) foram cruelmente perseguidos pelos Estados Unidos e seus aliados, fazendo cair a máscara da "democracia liberal" das elites ocidentais.
Aliás, uma das mais emblemáticas frases ditas por Shipton no decorrer do documentário é que "se ele [Assange] cair, cai também o jornalismo". Shipton não poderia estar mais correto. Afinal, muito embora a extradição de Julian aos Estados Unidos tenha sido negada por uma corte londrina em 2021 por motivos médicos, ele ainda corre o risco de ser enviado à América em algum momento, onde poderá ser preso até o final de sua vida.
Tudo o que já ocorreu com Assange é um sinal bem claro a todo e qualquer jornalista independente que pretenda revelar ao público informações que comprometam as lideranças ocidentais. Não existem princípios e valores no Ocidente. A detenção de Assange é a prova cabal disso. Enquanto isso, o mundo todo continuará acompanhando o seu destino. Liberdade a Julian Assange!
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.
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