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'Muito problemático': Itamaraty aprova novos embaixadores, mas passa má impressão, diz analista

© Foto / Agência Senado /Pedro França Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira discursa ao lado da embaixadora Maria Luiza Viotti, durante audiência no Senado Federal, em Brasília, 11 de maio de 2023
Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira discursa ao lado da embaixadora Maria Luiza Viotti, durante audiência no Senado Federal, em Brasília, 11 de maio de 2023
 - Sputnik Brasil, 1920, 25.05.2023
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Durante o mês de maio, o Senado Federal fez uma verdadeira força-tarefa para acelerar indicações de Lula para postos-chave no exterior. A Sputnik Brasil conversou com especialista para saber se há escanteio de bolsonaristas e aumento da representatividade feminina no Itamaraty.
Nesta quinta-feira (25), o Senado Federal aprovará mais quatro nomeações para a chefia de embaixadas brasileiras, finalizando a primeira leva de indicações do governo Lula para postos no exterior.
Após meses sem apreciar os nomes indicados pelo chanceler de Lula, Mauro Vieira, a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado realizou três sessões durante o mês de maio para apreciar a nova comissão de frente da política externa brasileira.
Dentre os sabatinados, estão nomes de peso como Maria Luiza Viotti, indicada para comandar a embaixada do Brasil em Washington, e Antonio de Aguiar Patriota, ex-ministro das Relações Exteriores de Dilma Rousseff, agora de malas prontas para assumir a embaixada do Brasil no Reino Unido.
© Foto / José Cruz / Agência BrasilEmbaixadora Maria Luiza Viotti, que chefiará a embaixada brasileira em Washington, concede entrevista à Agência Brasil (foto de arquivo)
Embaixadora Maria Luiza Viotti, que chefiará a embaixada brasileira em Washington, concede entrevista à Agência Brasil (foto de arquivo)
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Embaixadora Maria Luiza Viotti, que chefiará a embaixada brasileira em Washington, concede entrevista à Agência Brasil (foto de arquivo)
De acordo com o doutorando em Ciência Política pelo IESP-UERJ e pesquisador do Núcleo de Estudos Atores e Agendas de Política Externa (NEAAPE), Eduardo Morrot, as indicações demonstram empenho do governo em indicar nomes de sua confiança, alinhados com o pensamento de política externa de grupos ligados ao assessor internacional de Lula, Celso Amorim.
"Essas mudanças são importantes. Ao indicar diplomatas que são de sua confiança, o governo consegue efetivar na prática a sua política externa", disse Morrot à Sputnik Brasil.
O especialista lembra o caso de Nelson Foster, diplomata associado ao bolsonarismo, que ainda chefiava a embaixada do Brasil em Washington durante a visita de Estado de Lula aos Estados Unidos, em fevereiro de 2023.
"Esse exemplo é clássico. Na ocasião, Nelson Foster estava de férias, então nem apareceu para acompanhar a viagem de Lula. E talvez tenha sido melhor assim", considerou Morrot.
© Foto / Palácio do Planalto / Ricardo Stuckert / CC BY 2.0Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante reunião ampliada com o Presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden. Casa Branca, Washington (EUA), 10 de fevereiro de 2023
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante reunião ampliada com o Presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden. Casa Branca, Washington (EUA), 10 de fevereiro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 25.05.2023
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante reunião ampliada com o Presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden. Casa Branca, Washington (EUA), 10 de fevereiro de 2023
Nesse sentido, o especialista considera natural e desejável que o governo "aponte nomes de sua confiança para embaixadas-chave, como a de Washington, Buenos Aires, demais grandes potências e escritórios de representações da ONU".
No entanto, dentre os embaixadores sabatinados até agora existem nomes associados ao governo Bolsonaro, como o de Kenneth Félix Haczynski da Nóbrega, ex-secretário de Negociações Bilaterais no Oriente Médio, Europa e África, indicado para ocupar o posto de embaixador do Brasil na Índia e no Butão.
Promovido a ministro de primeira classe no primeiro semestre do governo Bolsonaro, Kenneth da Nóbrega participou de missões controversas, como a realizada pelo então presidente e seu filho Eduardo Bolsonaro a Israel, para avaliar a compra de spray nasal para o tratamento da COVID-19, em março de 2021.
© AFP 2023 / GIL Cohen-Magen Primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu (à esquerda), e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) em cerimônia em Jerusalém, 15 de dezembro de 2019 (foto de arquivo)
Primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu (à esquerda), e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) em cerimônia em Jerusalém, 15 de dezembro de 2019 (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 25.05.2023
Primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu (à esquerda), e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) em cerimônia em Jerusalém, 15 de dezembro de 2019 (foto de arquivo)
"A ideia desse novo governo é romper com a prática do anterior, que era a de escantear embaixadores que não tinham pensamento alinhado a Bolsonaro", lamentou Morrot. "Se o embaixador segue os princípios da diplomacia brasileira, pode ser indicado."
O especialista lembra que diplomacia também é uma política pública e, apesar do cargo de embaixador ser político, trata-se de uma função pública, que demanda pessoas qualificadas para a sua execução.

Mulheres

A primeira leva de nomeações do governo Lula a postos no exterior frustrou aqueles que apostavam em uma maior participação feminina nos cargos de alto escalão da diplomacia brasileira. Dentre os 19 nomes enviados ao Senado até agora, somente um é feminino – o da embaixadora Maria Luiza Viotti.
"Isso é visto como algo muito problemático", acredita Morrot. "Esse número não é proporcional à quantidade de diplomatas mulheres no Itamaraty, que é de 23% dos quadros, muito menos da quantidade de mulheres na sociedade brasileira."
O especialista nota que o novo governo fez indicações femininas para cargos importantes dentro do Ministério das Relações Exteriores, como no caso da embaixadora Maria Laura Rocha, indicada para a Secretaria-Geral do Itamaraty.
© Foto / Pedro FrançaEmbaixadora Maria Laura da Rocha durante sabatina no Senado Federal, Brasília, Brasil (foto de arquivo)
Embaixadora Maria Laura da Rocha durante sabatina no Senado Federal, Brasília, Brasil  (foto de arquivo)  - Sputnik Brasil, 1920, 25.05.2023
Embaixadora Maria Laura da Rocha durante sabatina no Senado Federal, Brasília, Brasil (foto de arquivo)
"Nas demais secretarias internas do ministério, que organizam a política exterior no nível regional, temos um aumento de presença feminina para 30%", revelou Morrot. "Apesar de isso ainda não configurar uma paridade, é significativo quando comparado aos 23% de mulheres no ministério atualmente", ponderou Morrot.
Deslizes nas indicações femininas devem ser cada vez mais custosos politicamente não só para o governo, mas também para o alto escalão do Itamaraty. Em janeiro de 2023, foi refundada a Associação das Mulheres Diplomatas do Brasil (AMDB), dirigida pela embaixadora Irene Vidal Gala, com o objetivo de criar um "Itamaraty mais igualitário e representativo".
"Aspiramos a que o Itamaraty reflita a cara do Brasil e, para alcançarmos este objetivo, buscamos formular e apresentar medidas formais que promovam a entrada e a ascensão de mulheres na carreira diplomática", versa o site da AMDB.
A segunda onda de nomeações para cargos de chefia no exterior deve contar com pelo menos mais três mulheres: Claudia Vieira Santos para a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Carla Barroso Carneiro para a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e Paula Alves de Souza para chefiar a delegação permanente na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), reportou o portal G1.
© Foto / UNICAMP Embaixadora Irene Vidal Gala, coordenadora da Associação de Mulheres Diplomatas do Brasil (AMDB), durante reunião na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) (foto de arquivo)
Embaixadora Irene Vidal Gala, coordenadora da Associação de Mulheres Diplomatas do Brasil (AMDB), durante reunião na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) (foto de arquivo)
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Embaixadora Irene Vidal Gala, coordenadora da Associação de Mulheres Diplomatas do Brasil (AMDB), durante reunião na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) (foto de arquivo)
"De qualquer forma, o governo passa má impressão nessa primeira leva de indicações por ter só uma mulher. Espero que isso seja melhor pensado para as futuras indicações", concluiu Morrot.
Nesta quinta-feira (25), a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal deve apreciar as indicações para o cargo de embaixador na Indonésia, Malawi, Eslováquia e Países Baixos.
No dia 18 de maio, foram apreciados os nomes para Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, Peru, Grécia, Israel e representantes na Organização Mundial do Comércio e na Organização dos Estados Americanos.
Anteriormente, em 11 de maio, a Comissão aprovou os nomes indicados para a missão permanente junto às Nações Unidas, junto à Organização de Aviação Civil Internacional e para as embaixadas brasileiras na Argentina, EUA, França, Santa Sé, Cuba, Índia e Egito.
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