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'Não vejo Biden desejoso de Lula como comandante' das negociações de paz na Ucrânia, afirma analista

© Foto / Flickr.com / Presidência da República / Ricardo StuckertPresidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (à esquerda), com o homólogo dos EUA, Joe Biden, em Washington, nos EUA, em 10 de fevereiro de 2023
Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (à esquerda), com o homólogo dos EUA, Joe Biden, em Washington, nos EUA, em 10 de fevereiro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 11.02.2023
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Embora alinhados em questões domésticas, Lula e Biden abrem uma nítida divergência quando se trata do conflito ucraniano. No encontro bilateral ontem (10), o presidente do Brasil reforçou a necessidade de um diálogo de paz entre Rússia e Ucrânia entabulado por países neutros, sem cravar, contudo, uma posição específica a favor de um ou de outro.
A posição enigmática de Luiz Inácio Lula da Silva contrasta com a do presidente dos EUA, Joe Biden, cujo governo já remeteu bilhões de dólares em ajuda militar à Ucrânia.
Na avaliação do cientista político Guilherme Carvalhido, Biden não foi muito receptivo à proposta de Lula de tratativas de paz mediadas por nações independentes a fim de encerrar a operação militar especial da Rússia na Ucrânia, que completa um ano no próximo dia 24.

"Há uma abertura de negociação da posição do Brasil para que Lula seja um articulador das posições equilibradas em busca da paz. Mas não houve, digamos assim, um acolhimento total por parte de Biden dessa posição. Não vejo Biden desejoso de ver Lula como um comandante [da interrupção do conflito]. Pelo contrário, ele quer que Lula tenha os interesses norte-americanos acima dessa posição. Por isso essa paz não se coloca como uma posição favorável ao acolhimento de Biden", observou.

Houve respaldo, porém, dos principais líderes europeus: Emmanuel Macron, chefe de Estado da França, saudou Lula publicamente via redes sociais. Olaf Scholz, chanceler alemão, também sinalizou positivamente à iniciativa de diálogos de paz proposta pelo presidente brasileiro.
Neste sábado (11), o coro por tratativas de paz engrossou em um artigo publicado no jornal francês Le Monde.
Citando Lula, os presidentes da Argentina e da Colômbia, Alberto Fernández e Gustavo Petro, respectivamente, a ministra espanhola Ione Belarra e o veterano político francês Jean-Luc Mélenchon defenderam o cessar-fogo e as negociações entre Rússia e Ucrânia para encerrar o conflito.
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Segundo Carvalhido, a intenção de Lula é construir a imagem dele a partir do ponto de vista dos primeiros governos, ou seja, como um grande articulador político. Para isso ele precisa se encontrar com os grandes líderes globais.
Externamente, a ambição do presidente é ser esse articulador político "forte na visão dos grandes jogadores mundiais".

"E começa com a Europa e com os Estados Unidos. O objetivo dele era o início de articulação para uma busca da paz entre Rússia e Ucrânia. Só que ele não teve esse retorno porque não é exatamente o mesmo objetivo que Biden tem. Ele não teve esse sucesso. [Mas] foi o início de uma busca para uma tentativa dessa articulação. Não dá para saber ainda se é um êxito ou um fracasso porque é o início de uma discussão que ele busca colocar. Mas a resposta de Biden não foi uma resposta, digamos assim, voltada para esse objetivo de Lula", avaliou.

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O chanceler russo, Sergei Lavrov, deve visitar o Brasil em abril, segundo informação publicada pelo portal UOL. Sua vinda ao país é a leitura de que "Lula vai ouvir o lado russo também antes de se posicionar mais concretamente em relação a essa questão", afirma Carvalhido.

"Lula quer a paz, mas ele vai primeiro escutar concretamente o ministro das Relações Exteriores russo para tomar uma decisão em abril. O que Lula está fazendo nessa conjunção? Ele não quer sedimentar uma posição favorável à Ucrânia ou favorável à Rússia antes de ouvir concretamente a posição russa. Sem dúvida a vinda de Lavrov é decisiva para a decisão definitiva da posição de Lula. Ele não se posicionou externamente quanto a isso porque ele quer, de fato, tomar uma decisão política nesse sentido. Logo, a vinda do chanceler russo é muito importante para a posição de Lula, que, no meu entender, ainda não está fechada mesmo com essa visita a Biden. E isso efetivamente só coloca a posição clássica de querer a paz. Mas qual a posição da paz que o Lula terá ainda depende muito dessa negociação com o governo russo."

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O especialista vê, agora, a necessidade de Lula escutar também o que a Rússia quer, posição que é contrária aos Estados Unidos.
Ele crê que há uma tendência maior e favorável a Biden, mas sem uma posição concreta ainda para uma tomada de decisão nesse aspecto.

"Há uma grande dúvida sobre qual a posição de Lula. Acho que ele vai permanecer em cima do muro porque é uma situação difícil para o Brasil. Além disso, o papel ideológico [com] que Lula quer se posicionar no mundo não é nem favorável totalmente a Biden, tampouco favorável à posição russa. Ele quer abarcar o papel de finalização do conflito entre Rússia e Ucrânia. Mas não necessariamente se posicionando integralmente por parte de um ou por parte de outro. Por isso a posição em cima do muro, a posição neutra, digamos assim, que Lula vem tomando nos últimos tempos. Uma posição clássica de Lula no seu histórico enquanto presidente no passado. E vejo ele buscando a repetição dessa posição novamente agora. E reticente, digamos assim, à posição de se colocar mais favorável a um ou mais favorável a outro."

O presidente dos EUA, Joe Biden (à direita), e o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, caminham ao longo da colunata ao lado do Rose Garden, na Casa Branca, em Washington. EUA, 10 de fevereiro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 11.02.2023
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Carvalhido não tem dúvidas de que Biden está aproveitando que "há uma simetria entre ele e Lula por causa, principalmente, da questão dos ataques antidemocráticos que houve antes de Biden assumir lá nos Estados Unidos e também do dia 8 de janeiro por parte dos manifestantes antidemocráticos em Brasília".
Criticou também o valor proposto pelos EUA para o Fundo Amazônia: apenas R$ 50 milhões.

"É um valor irrelevante. Na prática não houve nada, não houve uma discussão efetiva, não houve uma execução, e sim um início da colocação deste [valor] como [parte de] um processo que tem na Europa um desejo de que isso [o aporte] aconteça, sobretudo a partir do ponto de vista da Alemanha, e [como um gesto que segue] uma tendência da França. Mas não há ainda uma tendência efetiva de Biden no governo americano para que esse fundo se estabeleça concretamente", finalizou.

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