Governador da Califórnia quer investigar preços do GNL dos EUA após êxito nas exportações para a UE

Os preços globais do gás natural dispararam na primavera de 2022, após a escalada da crise no conflito de procuração da OTAN contra a Rússia na Ucrânia. Os países europeus agravaram a situação ao rejeitar o gás da Rússia — que responde por 25% da produção global, em favor do gás natural liquefeito (GNL) norte-americano, mais caro.

O governador da Califórnia, Gavin Newsome, pediu ao governo federal que lançasse uma investigação formal para descobrir por que os preços do gás natural em seu estado são tão altos.

"Desde o final de novembro de 2022, os preços do gás natural no atacado em todo o Ocidente aumentaram para níveis alarmantes que excedem em muito os preços no resto do país", escreveu Newsom em um discurso à Comissão Reguladora Federal de Energia (FERC, na sigla em inglês). "Os preços da eletricidade no mercado de operadores independentes do sistema da Califórnia, regulamentado pela FERC, e no mercado de desequilíbrio energético ocidental também aumentaram porque os preços da eletricidade são diretamente afetados pelos custos do gás natural no atacado", observou o governador.

Expressando preocupação com os residentes "que sofrem o fardo econômico dos preços extremos e inesperadamente altos do gás e das contas de energia elétrica" e observando que os setores comercial, agrícola, de serviços públicos de água e esgoto da Califórnia também foram afetados, Newsom salientou que a crise de preços está chegando "além das pressões inflacionárias gerais" que já atingem os californianos.

Sugerindo que o tempo frio por si só "não pode explicar a extensão e a longevidade do pico de preços", Newsom pediu à FERC para "concentrar imediatamente seus recursos investigativos em avaliar se a manipulação de mercado, comportamento anticompetitivo ou outras atividades anômalas estão impulsionando esses preços elevados contínuos no mercados ocidentais de gás".

Newsom passou meses envolvendo empresas de energia dos EUA em uma batalha verbal, acusando-as de comportamento "ganancioso" e sugerindo que os preços do petróleo, gasolina e gás natural estão altos porque os produtores estão especulando sobre a instabilidade do mercado global. A abordagem de Newsom ecoa a do presidente Biden, que culpou o "aumento de preços de Putin" e a "exploração de lucros de guerra" por parte das empresas petrolíferas pelos aumentos dos preços da energia, e ameaçou bater neste último com um imposto inesperado.

Os observadores discordaram das demandas de Newsom por uma investigação, sugerindo que a crise na Ucrânia, os constantes envolvimentos militares dos EUA no Oriente Médio e na África e a venda de suprimentos domésticos de gás natural para a Europa podem ter algo a ver com os preços mais altos. Outros sugeriram que uma investigação federal apenas revelaria que a Casa Branca é a culpada pela crise. Outros ainda pediram ao governador que se concentre em como suas próprias políticas podem ter impactado os preços, argumentando que o foco do estado em energia "verde" como a energia solar em detrimento dos hidrocarbonetos, além do fechamento de usinas nucleares, pode desempenhar algum papel.

A Califórnia, a maior economia dos EUA, importa quase 90% de seu gás natural, com a maioria de seus suprimentos tradicionalmente produzidos em bacias do Texas e do Novo México, além dos estados das Montanhas Rochosas e do Canadá.

Os preços à vista do gás natural no sul da Califórnia atingiram cerca de US$ 19,40 (cerca de R$ 100,84) por milhão de BTUs no mês passado, mais de quatro vezes a média nacional dos EUA de cerca de US$ 5,50 (aproximadamente R$ 28,59) por milhão de BTUs e mais perto da média europeia de US$ 20,18 (quase R$ 105) por milhão de BTUs.

Os Estados Unidos aumentaram as exportações de GNL para a Europa em quase 140% nos primeiros 11 meses de 2022, com a região respondendo por cerca de três quartos das exportações norte-americanas.