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Fórum de paz para Ucrânia proposto por Lula busca evitar confronto de maior proporção, diz analista

© Foto / Palácio do Planalto / Ricardo Stuckert / CC BY 2.0O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (à direita), recebe o chanceler alemão, Olaf Scholz, em Brasília. Brasil, 31 de janeiro de 2023
O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (à direita), recebe o chanceler alemão, Olaf Scholz, em Brasília. Brasil, 31 de janeiro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 01.02.2023
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva propôs nesta terça-feira (31) a criação de um fórum de paz para auxiliar as negociações entre Rússia e Ucrânia diante do conflito em solo europeu. Especialista ouvido pela Sputnik Brasil aponta que esse mecanismo é necessário em razão do cenário de consolidação de um embate de trincheiras.
Lula defendeu a construção do mecanismo de diálogo entre Rússia e Ucrânia após encontro com o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, que havia pedido que o Brasil se comprometesse com o envio de munições a Kiev. O mandatário brasileiro, no entanto, negou a solicitação e disse que sua guerra é contra a fome, não contra a Rússia.
"O Brasil não tem interesse em passar munições para que elas sejam utilizadas no confronto entre Ucrânia e Rússia. O Brasil é um país de paz [...]. O Brasil não quer ter nenhuma participação [nesse conflito], mesmo que indireta", disse Lula.
Na oportunidade, o presidente brasileiro fez um apelo às lideranças mundiais para que se concentrem nas negociações de paz. Lula afirmou que tem ouvido "muito pouco" sobre essa possibilidade e defendeu a construção de um fórum internacional reunindo países interessados em fomentar as negociações entre Rússia e Ucrânia. Entre os possíveis participantes, ele mencionou Estados Unidos e China.
Para o historiador Leonardo Trevisan, professor de economia e relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), um esforço de paz é necessário para a resolução do conflito na Ucrânia, evitando que escale para um "confronto inimaginado". O analista avalia que a postura de Lula, de evitar se envolver diretamente com o conflito, é coerente com a tradição diplomática brasileira.

uma guerra com posições cristalizadas se encaminhando para uma guerra de trincheira, da qual o mundo tem horríveis memórias, desde a Primeira Guerra. Então [alimentar o conflito] é o caminho da insensatez. Frente a esse cenário de uma consolidação de posições e de perdas humanas e materiais, não há dúvida alguma de que há uma necessidade de fazer esforços por uma paz. Até hoje, o que a gente teve — e já não foi pouco — foram algumas tentativas que não deram certo. Então o que o presidente Lula está fazendo é absolutamente coerente com a história da diplomacia brasileira e com as posições tradicionais da política externa brasileira."

"O Brasil em nenhum conflito toma posição. Isso é de décadas. O Brasil sempre procura ter uma posição de equidistância de terços. Não é diferente. E sempre apoiando uma posição de negociação de paz. A posição do presidente Lula está coerente com essa história da diplomacia brasileira", reforça.
Manifestantes satirizam relação entre o presidente dos EUA, Joe Biden, e o da Ucrânia, Vladimir Zelensky, durante ato do Primeiro de Maio do Partido Liberal Democrático da Rússia. Moscou, 1º de maio de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 17.01.2023
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Para Trevisan, dificilmente o Brasil vai querer "liderar" esse grupo ou ser, sozinho, o protagonista de uma negociação de paz. O especialista destaca que a Turquia de Recep Erdogan já tentou exercer esse papel, mas não conseguiu "a carga suficiente" para conduzir esse processo. Por isso, na visão do especialista, é tão importante a construção de uma iniciativa que envolva mais países, em especial a China.
"O Brasil está propondo não que um país específico seja o negociador, mas um fórum de paz. [A ideia é] criar uma espécie de entidade, de grupo cuja função seja exatamente essa, de um fórum de paz para mediar uma situação de extrema atenção como essa da Ucrânia."

"Nós temos que olhar, e nós temos, de um lado, a Rússia e, do outro lado, a Europa com os Estados Unidos. Essa é uma situação de uma tensão que pode levar a um confronto inimaginado. Então, portanto, cabe a um fórum, a um grupo de países, assumir essa responsabilidade. Eu não vejo o Brasil em uma posição de protagonismo nesse grupo, apenas de proponente da criação dele", reforça.

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Trevisan destaca que o conflito "sintetiza uma grande mudança no mapa geopolítico do mundo", em razão do embate de hegemonia entre Estados Unidos e China.
"Essa guerra, na prática, representa uma definição da Europa sobre de qual lado ela pretende ficar. Com qual lado ela pretende comercializar mais. Nós estamos nesse embate, que é um embate tecnológico, é um embate comercial, é o embate de preponderância geopolítica. A Europa está sendo convidada a fazer uma escolha. Como a Europa já tinha feito uma escolha de maior aproximação com a China, os Estados Unidos, de alguma forma, cobraram uma posição mais próxima daquilo que eram as tradicionais alianças entre Estados Unidos e Europa, desenhadas desde a Segunda Guerra Mundial com a Organização do Tratado do Atlântico Norte [OTAN]. É disso que nós estamos falando", analisa.

"Nós estamos diante de uma escolha europeia sobre com qual dos lados a Europa pretende se alinhar economicamente. O lado chinês tem as ofertas, mas o lado americano também tem. De alguma forma esta pressão dos dois lados está muito presente nas definições que a Europa terá que enfrentar. A Europa terá que enfrentar no pós-guerra da Ucrânia uma escolha tão difícil quanto [a que] tinha na pré-guerra da Ucrânia: qual dos dois lados vai privilegiar quando fizer acordos comerciais, Estados Unidos ou China. O presidente Lula, quando fala de um fórum de paz, ele está falando do redesenho geopolítico do mundo pós-Guerra Fria, pós-ascensão de uma nova potência desafiando a potência original. É disso que nós estamos falando. Quando nós olhamos esse quadro, nós percebemos com mais sutileza o rol de interesses envolvidos em uma guerra em que esses dois atores, Ucrânia e Rússia, de algum modo, não são os atores preponderantes desse conflito."

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