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Provocações são parte da estratégia do Ocidente para vilificar a Rússia, dizem especialistas

© AP PhotoChamas e fumaça sobem da Ponte da Crimeia, que conecta a Rússia à península da Crimeia, após explosão, em 8 de outubro de 2022
Chamas e fumaça sobem da Ponte da Crimeia, que conecta a Rússia à península da Crimeia, após explosão, em 8 de outubro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 10.10.2022
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Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas afirmam que ataques à infraestrutura russa vão ao encontro da estratégia de forçar Moscou a dar respostas duras, que colocarão a Rússia no papel de vilã.
Nesta segunda-feira (10), a Rússia conduziu um ataque maciço de precisão de longo alcance, visando instalações de energia, comando militar e comunicações da Ucrânia. O ataque foi uma resposta de Moscou à explosão da Ponte da Crimeia, que aconteceu no último sábado (8).
Desde que teve início, em fevereiro, a operação especial na Ucrânia era restrita a alvos militares, mas a Rússia avisou diversas vezes que a resposta seria dura se Kiev ou seus aliados do Ocidente cruzassem a linha vermelha. Para Moscou, essa linha foi cruzada com o ataque à Ponte da Crimeia, o que desencadeou a já anunciada resposta firme, com ataques em Kiev e outras regiões da Ucrânia que até então não vinham sendo alvos no conflito.
Para entender o que levou Kiev a cruzar a linha vermelha, sabendo que a resposta seria rápida e firme, e a quem interessa a escalada do conflito, a Sputnik Brasil conversou com Robinson Farinazzo, especialista militar e oficial da reserva da Marinha do Brasil, e com Isabela Gama, especialista em segurança e teoria das relações internacionais e BRICS e pesquisadora pós-doutoranda da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME).
Farinazzo argumenta que o ataque à ponte foi uma aposta alta, que não levou em conta a resposta de Moscou.

"Eles [ucranianos] sabem da criticidade dessa ponte. Ela é vital para o abastecimento da península da Crimeia e para todo moral da população civil que habita ali. A ponte e os reservatórios de água doce, localizados a noroeste da península, são vitais para os habitantes da Crimeia. A Ucrânia atacou sabendo da possibilidade do impacto estratégico que teria a destruição dessa infraestrutura sobre a Crimeia. Parece que eles não ligaram muito para as consequências."

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Para Isabela Gama, uma vez confirmada oficialmente a autoria da Ucrânia, essa seria uma tentativa de provocação e de humilhação. "Mas seria também uma forma de levar a Rússia a cometer atos mais extremos e ter o direito de resposta", diz a especialista.
Até o momento, investigações preliminares indicam que o ataque à ponte foi realizado por serviços ucranianos. Porém, há suspeita de envolvimento de cidadãos russos e estrangeiros na preparação. Questionado sobre que interesses outros países poderiam ter no ataque, Farinazzo destaca que o conflito atual já não é mais entre Rússia e Ucrânia, mas entre a Rússia e o Ocidente.
"Que existe uma participação de estrangeiros no conflito não há qualquer dúvida. Primeiro, porque alguns desses estrangeiros têm sido capturados. Segundo, porque alguns dos equipamentos são extremamente complexos e talvez não tivesse tempo de habilitar operadores ucranianos no uso dos mesmos. Terceiro, porque a quantidade de esquadrões especializados da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte], principalmente da Força Aérea e da Marinha dos EUA, que estão operando no entorno da Ucrânia é enorme", destaca o especialista.
Isabela Gama afirma que há um grande interesse, principalmente por parte dos EUA e alguns países europeus, em provocar a Rússia para forçá-la a tomar medidas mais radicais.

"É importante frisar que é do interesse de muitos que a Rússia continue se radicalizando, para que em algum momento seja a perdedora. Cada vez que a Rússia toma uma atitude como a de atingir a Ucrânia em alvos não militares [...], o restante do mundo vai olhar e continuar vilificando a Rússia. Isso é importante para a guerra de narrativas", destaca Gama.

Questionada sobre a existência de alguma relação entre o ataque à Ponte da Crimeia e o incidente com o gasoduto Nord Stream, em setembro, Gama diz que é preciso evitar especulações neste momento.
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Já Farinazzo destaca que, em relação ao gasoduto, tudo aponta para uma ação coordenada.
"Aquela região ali da Europa, onde se deu o ataque [ao Nord Stream], é coalhada de radares e outros sensores. Ninguém faria uma operação nesse volume sem que outros países que têm vigilância na área soubessem. Foi feito por especialistas, era gente que sabia muito bem o que estava fazendo e dispunha de meios para fazê-lo", afirma Farinazzo.
Ele acrescenta que o silêncio em torno das investigações sobre o ataque ao gasoduto chama atenção.

"Me choca o silêncio sobre as investigações e também o fato de quase não haver protestos com relação a um ataque dessa magnitude, que vai prejudicar tantas pessoas. O ataque ao Nord Stream vai prejudicar muito, principalmente o setor industrial da Alemanha", destaca Farinazzo.

Ele ressalta que o ataque à Ponte da Crimeia vai desencadear uma escalada no conflito, que interessa principalmente aos EUA.
"Recentemente, eu ouvi uma declaração de um alto funcionário do governo americano dizendo que os EUA conseguiram incomodar a Rússia a um preço mínimo. Que esses cerca de US$ 60 bilhões que eles gastaram com a Ucrânia é uma bagatela em relação aos problemas que eles estão levando para a Rússia. O alto escalão do governo americano tem interesse em prolongar esse conflito", diz o especialista.
Farinazzo acrescenta que considera as chances de negociação entre as partes algo distante. Isso porque, em sua avaliação, "Vladimir Zelensky não controla o que efetivamente acontece na Ucrânia".
"Ele [Zelensky] é uma figura de proa. Representa outros interesses, do Igor Kolomoisky, que foi quem o colocou no poder, de outros oligarcas da Ucrânia e de alguns setores econômicos e militares do Ocidente. Não acho que tenha força para fazer uma negociação de paz", avalia Farinazzo.
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Isabela Gama aponta que o Ocidente seria o mais interessado em prolongar e escalar o conflito.
"Basicamente o mundo já olha para a Rússia como a vilã da história, como na maioria das vezes", diz a especialista, acrescentando que "para o Ocidente, é muito importante levar a Rússia à exaustão, até que desista. Não vejo nenhum esforço, de nenhuma parte, para tentar uma negociação para que se alcance a paz. Nem uma pressão para que realmente esse conflito pare", diz Gama.
Ela ressalta que, embora também seja especulativo, é possível afirmar que haverá outros ataques à infraestrutura russa, como forma de provocar Moscou a tomar atitudes drásticas que coloquem a Rússia no papel de vilã.
"Os EUA não vão se envolver diretamente no conflito. A OTAN não está diretamente envolvida no conflito, não tem homens, não tem soldados morrendo no conflito. Me parece muito fácil incentivar a Ucrânia a atacar a Rússia ou ajudar a orquestrar qualquer ataque contra a Rússia, se quem vai sofrer as consequências diretas é a Ucrânia. Então, sim, acho possível que aconteça mais do que aconteceu com o gasoduto e com a ponte", diz a especialista.
Questionada sobre a postura da Secretaria-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que se disse chocada diante dos ataques às infraestruturas ucranianas, mas não se manifestou com relação ao ataque à Ponte da Crimeia, Gama ressalta que a organização trabalha com "dois pesos e duas medidas".

"Vem sendo assim há muitos anos, a Rússia sempre leva a culpa, sempre é a vilã. Abri diversos sites de notícias de muitos países, e, basicamente, o que sempre leio é mais do mesmo. 'A Rússia precisa parar', 'Que absurdo o que a Rússia está fazendo'. Mas e o que a Rússia tem sofrido ao longo de tantos anos, desde o fim da Guerra Fria? Porque o que a gente vê hoje é resultado de um processo, não é um surto psicótico do [Vladimir] Putin, que decidiu hoje, sábado ou em qualquer dia da semana que ia atacar a Ucrânia por nada", destaca a especialista.

Farinazzo vai além e alerta que a posição da ONU no conflito pode representar o início do fim da organização. Isso porque ela cometeu o erro de escolher um lado.
"A ONU é uma entidade que nunca conseguiu deter um conflito. Ela é responsável por diversos conflitos ao redor do mundo e tem se revelado parcial nesse caso da Ucrânia. A ONU tomou lado, coisa que ela não deveria fazer de forma alguma. Eu acredito que a ONU vai sair desse conflito bem menor. Se ela não fizer uma reforma, não se tornar mais pró-Sul Global, vai ter o mesmo destino da Liga das Nações, que é a extinção", conclui Farinazzo.
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