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Líder da direita no mundo? Bolsonaro não foi ao Reino Unido e aos EUA sem razão, aponta analista

© AP Photo / Jonathan HordleO presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, assina livro de condolências à rainha Elizabeth II, na Lancaster House, em Londres, em 18 de setembro de 2022
O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, assina livro de condolências à rainha Elizabeth II, na Lancaster House, em Londres, em 18 de setembro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 19.09.2022
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Jair Bolsonaro está fazendo importantes viagens internacionais a poucos dias das eleições no Brasil. Quais são seus objetivos ao participar do funeral da rainha Elizabeth II no Reino Unido? O que esperar de sua fala na ONU, em Nova York? Para especialista, presidente aproveita oportunidade para fortalecer eleitorado e conquistar votos de indecisos.
A poucos dias do primeiro turno das eleições, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro participa, em Nova York, da 77ª Sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Antes do evento, o chefe de Estado brasileiro marcou presença no funeral da rainha Elizabeth II, que ocorreu nesta segunda-feira (19), em Londres.
Para Leonardo Puglia, doutor em sociologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), é inegável que o presidente visa impulsionar sua candidatura a partir dessas viagens para o exterior, sobretudo para fortalecer seu nome entre um eleitorado já consolidado, além de conquistar mais votos entre os indecisos.

"Ele está fazendo uso eleitoral dessa viagem. Ele precisa de novos votos para ir para o segundo turno, e, nesse sentido, ele tem tentado se colocar como um estadista", avalia Puglia.

Foto tirada em um protesto contra a presença de Bolsonaro no Reino Unido - Sputnik Brasil, 1920, 18.09.2022
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Para o sociólogo, a estratégia, embora ambiciosa, apresenta algumas contradições, esbarrando principalmente no "estilo do presidente brasileiro", ora muito sincero, ora "estridente" em demasia. O especialista avalia que Jair Bolsonaro acerta ao buscar uma imagem de estadista no exterior, mas falha nesse propósito porque continua a se comunicar "de forma estridente para as suas bases".

O analista aponta como exemplo o discurso feito em Londres, na Embaixada do Brasil. Segundo ele, "foi um ato de campanha eleitoral, mas ele [Jair Bolsonaro] voltou a falar para as suas bases, abordando temas como ideologia de gênero, comunismo e Lula".

Tornou-se comum que o presidente brasileiro leve a sua chamada agenda de costumes, que trata de questões ideológicas e compõe uma das principais bandeiras de sua gestão, para o exterior, dado que as pautas também possuem representantes na América Latina e na Europa. Questionado sobre a estratégia do presidente do Brasil de buscar encontros com outros líderes de direita, Puglia aponta que, com isso, "ele tenta mostrar para o mundo que faz parte de uma articulação internacional".
O presidente Jair Bolsonaro assina o livro de condolências à Rainha Elizabeth II na Embaixada do Reino Unido em Brasília. 12 de setembro de 2022. - Sputnik Brasil, 1920, 18.09.2022
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Entretanto, o analista avalia que o chefe de Estado do Brasil falha ao buscar essas alianças e marcar encontros com líderes de países como Equador e Polônia, que, segundo ele, são "pouco relevantes no espaço político". Além disso, segundo Puglia, essa é uma "tentativa de mostrar força, mas demonstra fraqueza", pois não haverá espaço para "debater propostas concretas para o desenvolvimento desses países".
Apesar disso, ainda existe um ponto de discussão que pode alçar o presidente brasileiro ao epicentro do debate internacional a partir do seu discurso na ONU: a Rússia e o conflito na Ucrânia. Embora não haja nada confirmado, é possível que o presidente Jair Bolsonaro faça críticas às sanções ocidentais sobre a Rússia, em especial diante da crise inflacionária global. Essa estratégia já lhe rendeu a simpatia de outros chefes de Estado, que também são críticos às sanções.
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Leonardo Puglia apontou que, "evidentemente, é difícil prever ou determinar se Bolsonaro falará sobre o conflito". Entretanto, se ele mencionar o tema em sua fala, "seria uma situação positiva para ele, pois é uma defesa alinhada com a tradição do Itamaraty, que sempre buscou um mundo multipolar", e um recado importante para outros países, sobretudo na América Latina e África, que também se opuseram às sanções.
O sociólogo disse que, de acordo com sua experiência acompanhando a repercussão das declarações de Bolsonaro sobre Rússia e Ucrânia, o tema divide opiniões entre seus apoiadores, uma vez que uma parte deles ainda é muito alinhada aos Estados Unidos. Outra, não mais.

"Recentemente, ele [Bolsonaro] disse que iria intensificar a relação com a Rússia, e parte de seus eleitores gostam disso. Se ele fizer um discurso para a sua base, como é esperado, ele deve falar desse assunto", comentou Puglia.

Segundo o sociólogo, é inevitável que o chefe de Estado faça do palanque na ONU um discurso de campanha, enaltecendo as recentes ações do seu governo, e com ataques aos "inimigos do presidente". No entanto, em sua opinião, um discurso mais ideológico tem poucas chances de atrair novos eleitores.
"Isso não convence novos eleitores. Ele saiu do Brasil para fazer campanha, mas a campanha está aqui."
Questionado se o presidente, ao adotar essa estratégia, não estaria radicalizando demais o nicho eleitoral, o analista avalia que existe uma tensão dentro da campanha, "que se verifica nos atritos entre Flávio e Carlos Bolsonaro, dois de seus cinco filhos". Para ele, Carlos Bolsonaro tem um papel muito forte na estratégia política do presidente, mas seus planos, às vezes, são contidos por um perfil mais pragmático pregado por Flávio.
"Existe uma estratégia de manter a base forte e unida. Embora isso dificulte o crescimento, ele motiva as bases. Jair Bolsonaro quer criar bases fortes, de forma que isso se torne uma bola de neve na campanha. Ele quer se consolidar, além de tudo, como um líder de direita forte no mundo", comentou.
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