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Mídia colocou arma na mão do autor do atentado contra Cristina Kirchner, diz analista

© AFP 2023 / JUAN MABROMATAManifestante leva cartaz em defesa da vice-presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, em ato realizado em Buenos Aires após atentado, 2 de setembro de 2022
Manifestante leva cartaz em defesa da vice-presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, em ato realizado em Buenos Aires após atentado, 2 de setembro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 02.09.2022
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O atentado político contra a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, não se deu por acaso. A arma não foi colocada por um neonazista na cabeça da ex-presidente à toa, é fruto de um discurso de ódio gestado há mais de dez anos. Essa é a avaliação de especialista ouvido pela Sputnik Brasil sobre a tentativa de assassinato da líder argentina.
Em discurso feito logo depois do ataque, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, disse que o discurso de ódio no país quebrou a convivência pacífica. Segundo ele, esse clima hostil "se difundiu a partir de diferentes espaços políticos, judiciais e midiáticos da sociedade argentina". O mandatário decretou feriado nacional nesta sexta-feira (2) e estimulou manifestações contra a violência política. Grandes atos devem ser realizados em todo o país, e uma greve geral foi convocada para a segunda-feira (5) por movimentos sindicais.
A Argentina acorda. IMPRESSIONANTE
Fabián Restivo, jornalista e analista político argentino, disse à Sputnik Brasil que a construção do discurso de ódio contra Kirchner e o peronismo "tem mais de dez anos" e foi gestada por setores da oposição e dos grandes veículos de comunicação.

"Aqui você vê nos canais de TV e rádio coisas como 'esse presidente gordo de m****, inútil, corrupto, idiota'. Ou frases como 'Cristina filha da p***'. Você passa o dia inteiro assistindo a isso nos horários principais. Isso gera a exacerbação da violência. Não é só um garoto que pegou uma arma e foi para lá", declarou.

O comentarista Baby Echecopar é dos criticados por Restivo por disseminar discurso de ódio. Echecopar foi alvo de denúncia na Defensoria Pública. Baby já disse que Cristina é "o câncer da Argentina", que "se Cristina segue na Argentina, a Argentina termina" e que os peronistas são uma "raça diferente, uma raça de pessoas de m****". Outro jornalista bastante criticado é Eduardo Feinmann.

"Ele [o autor do atentado] pôs a arma na cabeça da Cristina, mas foi a mídia que pôs a arma na mão desse cara", declarou.

Restivo, que também é presidente da Fundação Pepe Mujica, destaca que a Argentina viveu uma semana bastante tensa, com declarações dos expoentes do macrismo incitando um acirramento de ânimos.
Desde a apresentação de uma denúncia do Ministério Público pedindo o banimento de Cristina da vida pública, apoiadores da ex-mandatária têm feito uma série de atos em apoio da peronista. No último sábado (27 de agosto), a oposição — por meio da polícia de Buenos Aires, governada pelo oposicionista Horacio Rodríguez Larreta — tentou impedir uma marcha em Buenos Aires, o que elevou as tensões.
Mais e mais pessoas vêm ao centro de Buenos Aires

Imagem aérea dos convocados que se aproximam da Praça de Maio em apoio e solidariedade à vice-presidente Cristina Kirchner
Três dias antes do atentado, o deputado e ex-ministro Ricardo López Murphy, da aliança opositora Juntos pela Mudança, publicou uma nota chamada "Ordem ou caos", em que defende a repressão às manifestações peronistas e fala em uma "luta" entre "nós e eles".
"São eles ou nós. É ordem ou é caos. Tempos difíceis estão por vir, pois estamos diante de uma quadrilha de criminosos, incendiários, políticos corruptos e incompetentes. Temos o dever de enfrentá-los sem hesitação, pela liberdade. O único caminho é a lei", escreveu o parlamentar, na segunda-feira (29 de agosto).

A ex-ministra Patricia Bullrich, presidente do partido Pro — do ex-presidente Mauricio Macri —, fez uma provocação aos kirchneristas um dia antes do ataque. "Os kirchneristas têm que saber que com a gente não se mexe. Não se mexe com a gente, é isso que temos que transmitir", declarou.

© AP Photo / Marcos BrindicciA vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, durante a cerimônia de posse, em dezembro de 2019
A vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, durante a cerimônia de posse, em dezembro de 2019 - Sputnik Brasil, 1920, 02.09.2022
A vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, durante a cerimônia de posse, em dezembro de 2019
Restivo cobra uma posição mais firme do governo Alberto Fernández para coibir a disseminação de discurso de ódio e impedir até mesmo que haja um novo golpe de Estado na Argentina.
"Isso chegou até aqui porque deixaram eles chegarem até aqui. O presidente Fernández poderia ter reposto a Lei de Mídia, derrubada por Macri. E o pior de tudo é que isso [o atentado] não é o resultado final. Eles pode ir além", disse.

Questionado pela Sputnik Brasil, Restivo apontou que "tudo está sendo guiado para se ter um golpe". "Há mais de um ano eu estou falando isso. Vivemos isso em 1976, que acabou em uma ditadura. É uma coisa óbvia essa orientação."

Para o analista, a oposição segue buscando um acirramento de ânimos, apesar das declarações contrárias ao atentado.

"De jeito nenhum [estão trabalhando para acalmar os ânimos]. Hoje o macrismo está dizendo que foi uma armação da Cristina. Eles não dão ré nunca, não recuam. E nosso governo é um governo que recua. Estamos em uma guerra territorial. O espaço que você não ocupa é ocupado pelo inimigo. Ou o nosso governo não quer compreender [a gravidade da situação]. Ou estamos sendo governados pela oposição. Só chegou a esse ponto porque o governo recua", lamentou.

O jornalista acredita que mais de um milhão de pessoas estarão nas ruas na Argentina nesta sexta-feira (2) em uma grande mobilização contra o atentado político. Imagens que circulam nas redes sociais já indicam uma concentração multitudinária em Buenos Aires.
A praça
Restivo avalia que "se aquela pistola tivesse atirado, esse país inteiro estaria pegando fogo". "Não teria como controlar. A população argentina é muito explosiva. Esse país poderia acabar hoje", afirma.
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