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Operação militar especial russa
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Rússia usa tempo a seu favor ao realizar operação na Ucrânia em ritmo lento, diz militar brasileiro

© Sputnik / Konstantin MikhalchevskyMilitar russo na vila de Aleksandrovka, que ficou sob controle das tropas pró-russas, durante a operação militar da Rússia na Ucrânia, na região de Kherson, na Ucrânia, em 15 de agosto de 2022
Militar russo na vila de Aleksandrovka, que ficou sob controle das tropas pró-russas, durante a operação militar da Rússia na Ucrânia, na região de Kherson, na Ucrânia, em 15 de agosto de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 18.08.2022
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Após mais de 170 dias da operação russa em território ucraniano um redesenho da geopolítica mundial começa a acontecer enquanto um horizonte de cessar-fogo parece distante. Mas o tempo empregado na operação é nocivo para os que a realizam ou para os que enviam armamento a Kiev?
A operação russa na Ucrânia entrou em seu 176º dia nesta quinta-feira (18). Iniciada em 24 de fevereiro, a ação tem como objetivo a desmilitarização e desnazificação do território ucraniano. Até o momento, Moscou continua firme em seu propósito e avança, principalmente na região de Donbass.
No entanto, a mídia tem apontado que a movimentação russa acontece em passos lentos. Para Robinson Farinazzo, especialista militar e oficial da reserva da Marinha do Brasil entrevistado pela Sputnik Brasil, o ritmo atende aos objetivos do líder russo, Vladimir Putin, o qual teria "interesse em fazer a operação da forma mais devagar possível".
"É importante lembrar que o efetivo militar empregado por Moscou nesta operação é mínimo, eles poderiam 'pesar a mão' muito mais do que estão fazendo [...], o que leva a reforçar essa impressão de que não se tem pressa [para concluir a operação]. Mas não acho, de forma nenhuma, que a maneira como está sendo conduzida a ação indique incompetência militar, estão é usando o tempo ao seu favor", analisou o especialista.
O comandante também destaca que na história militar do país – passando pelo período de Napoleão até a invasão alemã em 1941 e recentemente a Síria –, Moscou sempre "soube jogar muito bem com o tempo em suas operações".

"E para as pessoas que pensam que a operação na Ucrânia pode ser curta, vale lembrar a ação na Síria que já dura quase oito anos. Portanto, se Putin quiser estendera agora em território ucraniano ele pode, porque tem efetivo e musculatura militar para isso."

Outro ponto que poderia prolongar a operação, visto que tornaria a defesa ucraniana mais robusta e ofereceria mais resistência à investida russa, é o volume de armamento e apoio que o Ocidente envia para Kiev.
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No começo deste mês, os EUA divulgaram o envio de US$ 1 bilhão (R$ 5,11 bilhões) em ajuda militar para Ucrânia, no qual será incluído mais munição para lançadores múltiplos de foguetes Himars, conforme noticiado.
Com esse novo pacote, desde de o começo do conflito em fevereiro, Washington já enviou US$ 9,8 bilhões (R$ 50,9 bilhões) em ajuda militar para Kiev, segundo o site Grid. Isso sem contar com a ajuda enviada por Canadá, Austrália e países da Europa.
Entretanto, na visão do especialista, esse envio pouco alterará o cenário do conflito, uma vez que "essas armas deveriam ter sido enviadas em 2020 para que fizessem a diferença".
"A Ucrânia já tem um certo tipo de problema com efetivo, mas a questão mesmo é a falta de especialistas, como você vai conseguir um especialista em artilharia, um operador de sistemas de comunicações, um motorista de carro de combate, etc, então essas armas sem o pessoal especializado não vão fazer muita diferença."
Farinazzo comenta exatamente sobre o sistema de foguetes Himars, lembrando que quando o mesmo chegou à Ucrânia, as pessoas "ficaram animadas". No entanto, a animação já diminuiu visto que "por experiência, se sabe que só o armamento não muda o cenário militar", essas armas apenas empregam um forte "efeito de propaganda".
O comandante acredita que o apoio a Kiev vai continuar, porém, sublinha que fora os EUA, os países que enviam ajuda sofrem "uma pressão norte-americana para seguirem com os envios".
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"A Europa não tem mais nada a ganhar com esses envios [de armamento]. A Alemanha está perdendo e terá uma enorme contração de sua economia por conta disso. Berlim tinha acesso à energia barata e poderia colocar produtos no mercado com em um preço competitivo, mas agora com o aumento e escassez do gás isso não será mais possível. Na prática, o que a Europa está conseguindo, é perder seu mercado para russos e chineses que estão comprando energia mais barata da Rússia", examina.
Ao mesmo tempo, o comandante contextualiza que, quem paga a conta, é o cidadão europeu comum, que ao receber as taxas de energia em casa, enxerga um valor a ser pago cada vez mais alto.
"Se fizessem um referendo, a sociedade, por estar pagando o preço [...] dificilmente vai querer [que seu governo] continue apoiando essa situação que está levando à falência. Mas essas administrações, pressionadas pelos EUA, estão prolongando isso [...]. Como grandes 'players' norte-americanos da indústria de energia, de defesa, alguns congressistas e algumas ONGs estão ganhando muito dinheiro com isso, a gente não sabe por quanto tempo vai continuar o sofrimento do povo ucraniano", afirma.
Neste momento, é bastante visível que o conflito entre Rússia e Ucrânia ultrapassa as fronteiras ucranianas e chega, através da crise econômica, a outros países, principalmente às nações europeias.
Indagado de o porquê de lideranças locais não pressionarem Kiev para negociar com Moscou a fim de cessar o conflito e, consequentemente a crise, o comandante diz que a Europa "perdeu a representatividade", uma vez que os atuais políticos "estão completamente desvinculados do homem médio europeu" e são eleitos para "atenderem a uma pré-agenda".
"Vejamos o caso do [presidente francês] Emmanuel Macron, que é um banqueiro, ele não sabe o valor da passagem de ônibus, quanto custa o quilo do pão, ele foi colocado ali por grandes conglomerados econômicos para atender uma agenda que nada tem a ver com o homem médio francês", explica.
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Para o especialista, a democracia no Ocidente, em uma forma geral, "se tornou uma grife porque custa milhões para fazer um deputado, um prefeito, primeiro-ministro" e esse candidato só vai conseguir o dinheiro para ganhar eleições contando com apoio desses grandes grupos "que vão cobrar o preço depois" e a necessidade do "homem médio não é prioridade".
"Ou se reforma esse sistema eleitoral ou vai ser sempre isso: líderes desconectados com a necessidade da sociedade. É assim com o Macron, com o Justin Trudeau do Canadá e o Joe Biden nos EUA que está fazendo uma administração desastrosa para classe média e pobre norte-americana. [...] Joga-se toda culpa na Rússia, mas um dos grandes motivadores da atual crise é o fato de que as lideranças perderam completamente a conexão com o eleitor."
Se a solução não vem através de aliados ucranianos, estaria o presidente Zelensky a fim de negociar a paz? Farinazzo acredita que sim, mas no atual momento ele não tem "autonomia para negociar uma paz mesmo que queira, já que a Ucrânia está sendo conduzida pelos 'players' da OTAN e dos EUA".
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Sobre o ataque ucraniano à usina de Zaporozhie, que agora está sob os cuidados da Rússia, o comandante considera que se tal ação continuar, haverá uma "grande tragédia ali", no entanto, ressalta que talvez seja "esse o efeito desejado".

"Esse ataque a Zaporozhie é uma prova, inequívoca, de que as coisas estão indo muito mal para os parceiros da Ucrânia, eles estão vendo que essa 'guerra' está perdida. [...] Historicamente na Europa, quase todas as ofensivas militares foram feitas no verão, o verão europeu está acabando e Kiev não fez uma ofensiva até agora, e dificilmente conseguirá fazer no outono ou no inverno. Em termos militares, quer dizer que a capacidade que os ucranianos teriam de fazer uma grande ação para recuperar terreno, essa oportunidade já passou, e os 'players' em Washington, Berlim, Londres, Paris sabem disso."

Portanto, "esses aliados podem estar forçando [através de uma tragédia como ataque a uma usina nuclear] uma comoção internacional para que se obtenha um desfecho minimamente favorável para essa aliança", sendo essa.

"Uma aposta bastante arriscada e irresponsável", detalha.
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De acordo com dados do o Ministério da Defesa russo publicados ontem (17), no total, 267 aviões ucranianos e 148 helicópteros, 1.757 veículos aéreos não tripulados, 366 sistemas de mísseis antiaéreos, 4.340 tanques e outros veículos blindados de combate, 800 sistemas de foguetes de lançamento múltiplo, 3.312 artilharias de campanha e morteiros, e 4.938 unidades de veículos militares especiais foram destruídos durante a operação russa na Ucrânia.
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