Como agressão contra Iugoslávia mudou OTAN?

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F-117 visto perto de Kosovo em 4 de abril de 1999 - Sputnik Brasil
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Em 1999, a OTAN celebrou seu 50º aniversário com bombardeios da Iugoslávia, influindo não apenas nesse país europeu, mas também na própria aliança, que passou de uma "aliança defensiva" a uma força que se atribuiu a si mesma o direito de atuar militarmente fora de suas próprias fronteiras, ignorando as normas do direito internacional.

Após o fim da Guerra Fria, os representantes da aliança prometeram à Rússia que ela não se iria expandir e manteria seu caráter defensivo. Hoje se tornou claro que essa promessa não foi cumprida: a OTAN está se alargando, enquanto participa de ações militares na Líbia, no Iraque e na Síria.

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Em entrevista à Sputnik Sérvia, analistas sérvios partilharam suas opiniões sobre as razões por que a OTAN decidiu interferir nos assuntos da Iugoslávia em 1999 e como essa intervenção se tornou decisiva para a transformação da aliança, que após o fim da Guerra Fria perdeu a possibilidade de explorar a velha concepção de defesa contra a União Soviética e que procurava implantar sua nova doutrina de "intervenções humanitárias".

"Apesar de se posicionar como uma aliança defensiva, de fato, desde o início esse foi um pacto agressivo, e por isso, em resposta à sua criação, surgiu o Pacto de Varsóvia. Após o colapso do Pacto de Varsóvia, a aliança mostrou imediatamente sua verdadeira face, violando suas promessas sobre ausência de intenções de se expandir para Leste", declarou o major-general aposentado Mitar Kovac, presidente do Fórum de Segurança da Eurásia.

O diplomata Zoran Milivojevic, por sua vez, declarou que a OTAN representa um instrumento para exercício de dominação e expansão da influência do Ocidente.

"Essa estratégia político-militar permite controlar os territórios 'ocupados' e os integrar completamente na zona de influência do Ocidente. Por isso, a primeira condição para aderir à UE é a adesão à OTAN. Os instrumentos de força são a maneira mais fácil de realizar o controlo e a influência direta sobre um sistema político", revelou ele.

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Mitar Kovac sublinha que se trata, em primeiro lugar, de luta por recursos econômicos.

"A razão para o permanente alargamento da OTAN são seus interesses econômicos. Os governos dos países ocidentais e centros informais ligados ao grande capital estão por trás da aliança. O Ocidente sempre aspirou penetrar em novos mercados e obter novos recursos ao preço mais baixo possível. É a verdadeira essência e lógica da OTAN", afirmou ele.

Nesse sentido, para Milivojevic, os bombardeios da Iugoslávia foram um elemento necessário na cadeia de transformação da OTAN de "defensor" em conquistador agressivo de recursos. Ele sublinhou que, além de "se apoderar de um território que tem importância geoestratégica excecional", a aliança também tinha outros objetivos na Iugoslávia.

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"A agressão contra o nosso país era necessária para sair do quadro restritivo da Aliança Atlântica, ou seja, do seu artigo número cinco, que prevê assistência mútua entre os países membros apenas no caso de agressão contra um deles. Além disso, os bombardeios foram um pretexto para atrair a Alemanha para operações militares diretas, pela primeira vez desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Além disso, foi treinado o mecanismo das chamadas ‘intervenções humanitárias’ que posteriormente foi usado em outros países", revelou ele.

Ambos os especialistas opinam que a agressão contra a Sérvia era inevitável.

"Poderíamos ter evitado uma agressão apenas se tivéssemos entregue Kosovo antecipadamente e tivéssemos mudado o nosso sistema político e as posições na arena internacional. Tudo isso ainda hoje é fácil de identificar: seu objetivo é quebrar completamente a resistência dos sérvios. Se a Sérvia se tornasse totalmente dependente em temos militares e políticos, o problema, segundo a OTAN, estaria resolvido", concluiu Milivojevic.

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