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Aquecimento global trará mais desastres naturais para América Latina?

© REUTERS / Alvin BaezFuracão Irma atinge o Caribe
Furacão Irma atinge o Caribe - Sputnik Brasil
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Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) divulgou em 7 de outubro um relatório alertando sobre a possibilidade de um aquecimento superior aos 2 °C relativamente ao nível pré-industrial. Cientista dá sua previsão sobre como este processo pode afetar a América Latina.

O recente relatório do IPCC tem como objetivo limitar o aumento da temperatura no mundo a 1,5 °C em vez dos 2 °C indicados pelo Acordo Climático de Paris, mas reconhece que isso exigiria "mudanças sem precedentes" a nível global.

A América Latina está na lista das regiões que podem sofrer mais com os efeitos negativos das mudanças climáticas.

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Em entrevista à Sputnik Mundo, a diretora de Ciências da Atmosfera e Hidrosfera do Instituto Geofísico do Peru, doutora Yamina Silva, comentou quais os países da região que correm maior risco e como prever consequências graves.

Na América do Sul, os menos preparados para danos do aquecimento global são o Peru e Bolívia. A situação é um pouco melhor no caso da Colômbia e Equador, mas também não estão preparados o suficiente para enfrentar o fenômeno climático, sublinha a especialista.

"De qualquer forma, um aquecimento forte será dramático e catastrófico [para estes países]. É preciso esclarecer que os mais afetados serão os países que têm muita pobreza e aos que falta capacidade de recuperação", afirmou.

Um dos países sob este risco é o Peru. Apesar de ter avançado quanto á prevenção e gestão de riscos, o progresso ainda é insuficiente, afirma a doutora.

Além de problemas de aquecimento global, a região é afetada também pelos sismos. No caso do Caribe, existe uma permanente ameaça de furacões, sendo uma região sensível a qualquer mudança.
Inundações e secas

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O estudo do IPCC aponta que o nível do mar aumentará 10 cm mais em 2100 caso o aquecimento global seja de 2 °C, com países insulares como Kiribati, no Pacífico, correndo o risco de desaparecer neste século.

Felizmente, na América Latina não há pequenas ilhas que possam desaparecer por essa razão, mas na região existe outro problema candente: a degradação da floresta amazônica.

O desmatamento terá um efeito negativo sobre a zona dos Andes, causando redução da umidade, explica a cientista, o que gerará menos precipitações. Segundo ela, o problema é mais grave na zona do Altiplano (área mais larga dos Andes) e no norte do Brasil, onde há um alto risco de secas.

"Na América latina já temos mais regiões com problemas de secas e isto está ligado à variabilidade que temos tanto no Pacífico, como no Atlântico. Com o aquecimento global é possível que estes fenômenos se intensifiquem", advertiu Silva.

Outro problema da região é a falta de água, que até provoca conflitos sociais internos em torno de seu uso.

Mesmo assim, a interlocutora da Sputnik acha pouco provável que surjam as chamadas "guerras climáticas" na América Latina. Porém, reconhece que no passado a região passou por problemas aparentemente causados pela escassez de água, como uma guerra entre a Bolívia, o Chile e o Peru.

Haverá mais fenômenos climáticos extremos?

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Nas últimas décadas têm se intensificado os fenômenos climáticos extremos como, por exemplo, o chamado "el Niño costeiro", um desastre ecológico que causou fortes chuvas e deslizamentos de terra no Peru em 2017.

Até hoje não está claro o que provocou o fenômeno, mas se acredita que tem a ver com a variabilidade da temperatura no Pacífico, mais a nível local e nem tanto a nível mundial, enquanto sua ligação com o aquecimento global foi posta em dúvida.

"Há incertezas quanto às causas do aumento da frequência deste fenômeno. O mais provável é que a repetição dos ‘el Niño' nas últimas décadas esteja associada à variabilidade do Pacífico, o chamado fenômeno Oscilação Sul", ressaltou Yamina Silva.

A cientista recorda que o Peru já experimentou desastres climáticos semelhantes no passado, como as chuvas fortes de 1925, mas isso sinaliza que se trata de um acontecimento pouco frequente.

"Poderíamos deduzir que possa começar a ocorrer com mais frequência no futuro devido à subida das temperaturas do planeta, mas não temos por enquanto a certeza na conclusão", constatou.

Possíveis soluções

Seca - Sputnik Brasil
Cientistas predizem chegada inevitável de secas catastróficas
Apesar de a causa principal do aquecimento global serem as emissões de gases de efeito estufa, a especialista destaca que nenhum dos países latino-americanos emite tanto dióxido de carbono como os países mais desenvolvidos do ponto de vista econômico.

"Não temos o nível de desenvolvimento que há no hemisfério norte. A redução das emissões na América Latina tem a ver principalmente com a redução do desmatamento", disse, acrescentando que a necessidade de conservação de floresta está estabelecida no Acordo de Paris.

Por outro lado, afirma Silva, o combate ao aquecimento global prevê a diminuição das emissões industriais, que são poucas na região exceto no Brasil e na Argentina.

Mas, conclui a cientista, para os dois países seria difícil reduzir estas emissões pois se devem ao setor agrário, uma atividade econômica importante para ambos.

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