'Rússia simplesmente segue a corrente do mundo, cada vez menos ocidental'

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O Congresso do Diálogo Nacional da Síria, organizado pela Rússia na cidade de Sochi, mostra a influência que Moscou conseguiu obter no palco internacional quatro anos após enfrentar uma condenação coletiva por parte dos países ocidentais na sequência da reunificação da Rússia com a península da Crimeia, em março de 2014.

Em um artigo publicado pelo periódico francês Le Figaro, vários especialistas analisam que papel internacional a Rússia desempenha hoje em dia.

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Em fevereiro de 2014, Vladimir Putin visitou Sochi para assistir a abertura das Olimpíadas de Inverno. Ao mesmo tempo, a crise ucraniana vinha se convertendo em um conflito armado.

Quatro anos depois, a cidade de Sochi volta a ser o centro das atenções, já que aqui se celebra estes dias o Congresso do Diálogo Nacional da Síria, que tem como objetivo resolver a crise no país árabe. Segundo disse ao Le Figaro Arnaud Dubien, diretor do centro russo-francês Observatoire e investigador do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS), a Rússia já não tem medo de mostrar suas ambições na Síria a partir de uma posição de força.

Após o referendo na Crimeia, qualificado como interferência russa nos assuntos internos da Ucrânia, os EUA e os países europeus impuseram sanções contra Moscou. Entretanto, será que é justo falar de um isolamento diplomático total da Rússia?

De acordo com Cyrille Bret, especialista do Instituto de Estudos Políticos de Paris, a "Rússia nunca esteve sozinha, sempre buscou e encontrou novas alianças com a China e os países africanos".

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Entretanto, em 2018, as relações entre Moscou e o Ocidente seguem sendo bastante tensas, assinala a mídia francesa. Assim, apesar das declarações favoráveis em relação à Rússia do presidente Donald Trump, o Congresso dos EUA votou em julho a favor de impor novas sanções contra Moscou, enquanto Bruxelas optou por prorrogar aquelas já existentes.

Enquanto isso, o líder francês Emmanuel Macron, que ganhou as presidenciais em maio de 2017, inclusive convidou Putin a visitar Paris. Será que este foi o primeiro passo para o melhoramento das relações diplomáticas entre o Ocidente e a Rússia?

"Com muito cuidado, mas com a chegada de Trump, a Europa começa a entender que está em um beco sem saída", assegura Igor Delanoё, especialista do centro Observatoire.

Cyrille Bret, por sua vez, acrescenta que Trump "fez vir à tona as contradições internas que existem entre os republicanos estadunidenses e os europeus".

Os analistas franceses indicaram que, nos últimos anos, a Rússia tem dedicado grandes esforços ao Oriente Médio.

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"Moscou desempenha um papel-chave na Síria, algo que não acontecia desde 1945", explicou Dubien. Ademais, indicou que Putin conseguiu melhorar as relações entre a Rússia, a Turquia e o Irã durante as negociações de Astana.

Um dos entrevistados resume, neste sentido, que a Rússia foi obrigada a se voltar para o Oriente a fim de compensar o seu isolamento na Europa.

"Mas esta virada não tem a ver somente com a China. Moscou também fortaleceu seus vínculos com o Japão, a Coreia do Norte e Mianmar, e, ao mesmo tempo, tem mantido boas relações com a Índia e com o Vietnã", explicou.

Isto também é aplicável a outros países. Segundo Delanoё, a Rússia "está disposta a dialogar com todos os países, inclusive com os que não se comunicam entre si", como Israel e o Irã, ou o Curdistão e a Turquia.

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Devido às sanções ocidentais e à queda dos preços dos hidrocarbonetos, o PIB da Rússia em 2016 ficou ao mesmo nível do de 2009, relembra o Le Figaro. Para fazer frente à pressão proveniente de Washington e Bruxelas, a Rússia iniciou uma política de substituição de importações.

Segundo afirma Delanoё, esta estratégia "não é suficiente para conseguir um crescimento econômico estável". Porém, em geral, "conseguiu avançar muito com poucos recursos", explicou o especialista Arnaud Dubien. Em sua opinião, a Rússia "põe em dúvida a ordem mundial euroatlântica".

"A Rússia simplesmente segue a corrente do mundo, cada vez menos ocidental", concluiu.

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