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Economista explica por que Rússia lidou com crise econômica melhor que Brasil

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Há dois anos, o especialista russo em assuntos econômicos Oleg Shibanov publicou um artigo de fundo, em um dos maiores jornais do país, falando sobre as semelhanças das economias russa e brasileira. A Sputnik Brasil se encontrou com o analista para descobrir o que mudou desde então e quais são as perspectivas da parceria bilateral.

O professor de economia, adjunto do primeiro pró-reitor da Escola de Economia da Rússia, chegou à cidade russa de Vladivostok para participar de um dos eventos acadêmicos e empresariais mais importantes do país, do Fórum Econômico do Extremo Oriente. A Sputnik Brasil, que viajou para o local dos acontecimentos, fez questão de conversar com o especialista para saber sua opinião em relação às recentes perturbações na economia russa e brasileira.

Sputnik Brasil: Há dois anos, o senhor publicou um artigo no jornal RBK, analisando os desafios comuns que tanto o Brasil como a Rússia estavam enfrentando e destacando a conjuntura semelhante destas duas economias. A partir daí muita coisa aconteceu. Como está a situação hoje em dia?

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Oleg Shibanov: Sabe, o que na verdade houve de interessante nestes últimos dois anos, a meu ver, inclusive como acadêmico, foi que de súbito descobrimos a grande influência das decisões macroeconômicas naquilo que se passa no país. Neste aspeto, o Brasil e a Rússia divergiram muito. A coisa é que Nabiullina [presidente do Banco Central russo], que conquista vários troféus de melhor presidente de banco central de várias mídias já por dois anos seguidos, percebeu a seriedade do problema um pouco mais cedo que seus colegas brasileiros. Aliás, a mudança significativa das condições macroeconômicas, inclusive a redução dos preços dos produtos de exportação, acabou por ter um caráter permanente tanto no Brasil como na Rússia. E o problema é que o combate a estes desafios através da política monetária se travou de forma completamente diferente.

O analista precisou que a principal divergência na luta contra a crise consistiu de um planejamento diferente das contramedidas e nas próprias ferramentas usadas no âmbito deste processo.

"Aqui [na Rússia] ela [a política monetária] foi bastante rígida, isto é, uma tentativa de combate à inflação e uma plena consciência, tomada tanto pelo Ministério das Finanças como pelo Banco Central, em relação às mudanças ocorridas. No Brasil, tentaram apagar o fogo com métodos, à primeira vista, bem tradicionais, que se pressupõem na política macroeconômica, ou seja, aumento das despesas do Estado, redução dos impostos e assim por diante, falando em traços largos. E, de repente, se revelou que o entendimento do problema foi um pouco melhor na Rússia do que no Brasil", explicou.

Shibanov também realçou que, no que se trata do setor privado, os brasileiros conseguiram dar maior liberdade às empresas nesse aspeto, ao contrário de Moscou. Neste caso, o Ministério da Fazenda, evidentemente, teve o melhor desempenho.

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"Por outro lado, há sempre a seguinte questão — onde serão melhores as perspectivas? A coisa é que, além da política monetária, também foi importante aquilo que fazia o próprio Estado. Ou seja, um Banco Central é bom, um inteligente Ministério das Finanças também é ótimo, mas aqui se pergunta para onde vai a economia em geral. Bem, e na Rússia, ao contrário do Brasil, ela se dirigiu mais no sentido da estatização, de mais influência do governo e das empresas próximas ao governo, inclusive os grandes bancos", expressou o professor, frisando que no Brasil a economia continuou mais ou menos diversificada, com menos participação do Estado.

O economista relembrou que, segundo várias estimativas, por volta de 70% do PIB na Rússia tem a ver com o Estado, o que não quer dizer que todo este valor seja produzido por ele. De fato, isto significa que muitas companhias, inclusive petrolíferas, de gás e siderúrgicas, têm vínculos fortes com o governo.

"Do meu ponto de vista, estes elementos constituíram um movimento diametralmente oposto. Ou seja, por um lado, uma política monetária ponderada na Rússia, ao contrário daquilo que se passou no Brasil, mas, por outro lado, a nível da política no setor privado, as ações tiveram um caráter mais complexo e, talvez, no Brasil tenham sido até mais confortáveis para os empresários", assinalou.

Shibanov adiantou que ao longo dos últimos dois anos os países se encontraram com desafios, de fato, semelhantes. Contudo, Moscou teve mais dificuldades de acesso aos mercados financeiros devido a sanções e outros acontecimentos "bem tristes".

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"Mas, do ponto de vista do desenvolvimento ulterior, fazemos face a desafios muito parecidos — estamos quase na mesma zona no que se trata do PIB per capita, embora tenhamos uma população menor que o Brasil, ambos os países estão gradualmente envelhecendo. Por isso, a dinâmica consequente é complicada tanto para nós, como para eles. E, claro, todos estes fóruns, não este apenas, mas particularmente a recém-terminada cúpula dos BRICS, são importantes para nos entendermos melhor e podermos coordenar nossas políticas com o fim de avançarmos mais facilmente", opinou.

S: Pois, no Brasil houve outro fator importante: a mudança do governo, evidentemente, também contribuiu para desestabilização do sistema em geral?

OS: Sem dúvida. Que eu saiba, lá tudo está relacionado com a corrupção a nível muito alto. […] E neste caso a luta contra a corrupção se trava de modo bem ativo, o que, a propósito, faz lembrar da Coreia do Sul. Mas, por outro lado, na Rússia também evidenciamos um movimento do caráter parecido — ele ainda não toca os mais altos cargos oficiais, mas já atinge os ministros, o que, na verdade, não é muito próprio da Rússia, se olharmos para sua história. E, neste caso, acredito que […] o Brasil todavia é mais atraente para os investidores hoje em dia, pois não é objeto de sanções como a Rússia.

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Assim, o especialista resume que os desafios perante os dois países são igualmente complexos, porém, o Brasil dispõe de "posições de partida" mais benéficas do ponto de vista de investimentos e capitais. Shibanov adiantou que Brasília e Moscou têm de olhar um para o outro com mais atenção, destacando o papel do Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS no processo.

S: Se as nossas economias são tão parecidas, então, pela teoria de vantagens comparativas, temos poucas oportunidades para cooperação? Ou não será assim?

OS: Ela [esta teoria] não funciona. Há oportunidades excelentes. O que se passa é que nos especializamos em áreas um pouco diferentes. A Rússia, em geral, é um país muito específico, já que, do ponto de vista das exportações, o petróleo e o gás continuam desempenhando um papel importante — às vezes até 60%. Mas, mesmo assim, podemos comerciar um com outro, até de modo ativo. […]

Por exemplo, uma das características do Brasil é que este conseguiu avanços inéditos na agricultura, do ponto de vista russo. E se olharem para aquilo que se passou no Brasil, vão reparar que isto se tenta reproduzir na Rússia. […] Neste âmbito, sempre encontraremos o que trocar, pois trabalhamos em setores um pouco diferentes, poderemos sempre vender algo um ao outro e transferir tecnologias.

Em resumo, o especialista assinalou que o espetro de cooperação russo-brasileiro é bem grande, mas apenas o tempo mostrará se esta vai decorrer de modo "fácil e confortável".

"Porém, acho que temos muitas e muitas chances e variantes de trabalharmos juntos", sublinhou.

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