Justiceiro mexicano expõe delitos civis no Periscope: cidadania ou invasão de privacidade?

A figura do justiceiro mexicano de um século atrás deu uma guinada radical: agora ele caminha temerário, a qualquer hora, munido apenas com um aplicativo de smartphone chamado Periscope, com o qual grava evidências de pequenos delitos cometidos no dia-a-dia por cidadãos e funcionários públicos nas ruas da Cidade do México.

Seu nome é Arne aus den Ruthen, funcionário responsável pelo cumprimento das regras de convivência pública na delegação de Miguel Hidalgo, na capital mexicana, expôs esta semana nas redes sociais o chefe do Gabinete da Presidência, Francisco Guzman, ao filmar seus carros impedido a passagem de uma rampa para deficientes.

Y con ustedes Francisco Guzmán Ortiz, Jefe de la Oficina de Presidencia, hombre respetuoso de los derechos de terceros,...

Posted by Amador Iván Domínguez Romero on Thursday, February 25, 2016

Guzman teve que pedir desculpas no Twitter e anunciou que iria pagar a multa correspondente.

Me disculpo con los vecinos de la #DelegaciónMH por las molestias ocasionadas. Estoy solicitando las multas correspondientes para pagarlas.

— Francisco Guzman O (@Fco__Guzman) 25 de fevereiro de 2016

Lamento lo sucedido. Todos los ciudadanos, especialmente quienes tenemos una responsabilidad pública, debemos ser ejemplo de civismo.

— Francisco Guzman O (@Fco__Guzman) 25 de fevereiro de 2016

Armado com sua câmera de celular há cerca de quatro meses, o justiceiro grava infrações civis que podem ser visualizadas em tempo real por usuários do Periscope. 

"Aqui todo mundo vai cumprir a lei", diz ele em um de seus vídeos.

Conhecido localmente como “City Manager”, as multas distribuídas por Aus den Ruthen cobre de tudo: de estacionamento nas calçadas a lixo jogado na rua.

As transmissões ao vivo dos enfrentamentos verbais entre o funcionário e os cidadãos de um país onde a impunidade é galopante já lhe renderam muitos simpatizantes, mas também deram voz a críticos que acreditam que o constrangimento público viola o direito à privacidade.

Em entrevista à AFP, a chefe da Comissão de Direitos Humanos da Cidade do México, Perla Gómez, disse que o tema é preocupante, na medida em que ameaça “conquistas” sobre "os limites que devem ter a autoridade".

Mira @UCS_CDMX. Lomas Altas 217, Miguel Hidalgo #AsuntosInternos pic.twitter.com/S42YLyDie3

— Arne aus den Ruthen (@arnemx) 29 de fevereiro de 2016

​Aus den Ruthen foi acusado de gravar rostos de menores de idade e de pessoas alheias aos delitos que ele registra. Mas, para ele, as vitórias têm sido maiores do que os erros.

"Quando se viu um alto funcionário da Presidência se desculpar por violar as regras de trânsito? Agradeçam ao Periscope", escreveu o vigilante no Twitter esta semana.