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Daniel Scioli tenta conquistar no primeiro turno sucessão de Cristina Kirchner

Daniel Scioli, candidato à presidência da Argentina.
Daniel Scioli, candidato à presidência da Argentina. - Sputnik Brasil
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A Argentina terá eleições presidenciais no domingo. Será o primeiro turno de um pleito que tem três principais candidatos: Daniel Scioli, considerado o mais forte e o que tem o apoio da Presidente Cristina Kirchner; Mauricio Macri e Sergio Massa. O jornalista argentino Fernando Cibeira comenta para a Sputnik Brasil.

O candidato Daniel Scioli é governador da Província de Buenos Aires; Mauricio Macri, prefeito da capital argentina; e Sergio Massa, empresário. A seguir, sobre as eleições na Argentina, a entrevista com Fernando Cibeira, editor de Política do jornal “Página 12” e colunista do site El Destape.

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Sputnik: A Argentina terá eleições presidenciais que definirão o sucessor de Cristina Kirchner. Daniel Scioli, apontado como favorito, já pode ser considerado o vencedor do pleito?

Fernando Cibeira: Segundo o resultado das primárias e também pelo que apontam todas as pesquisas, é uma questão fora de discussão que Daniel Scioli será o vencedor do pleito no domingo. Todavia, há uma dúvida em torno da diferença que ele possa ter sobre o segundo colocado, e se esta diferença poderá ser suficiente para que ele seja declarado sucessor da Presidente Cristina Kirchner. Se não for, a Argentina terá segundo turno em 22 de novembro. O sistema eleitoral argentino é estranho. Há duas formas de um candidato ser considerado vencedor definitivo do pleito: uma delas é obtendo 45% dos votos; a outra é conquistando 40% dos votos com uma diferença de 10 pontos em relação ao segundo colocado. Talvez esta possibilidade seja mais plausível para que Daniel Scioli seja declarado, já no domingo, o presidente eleito da Argentina.

S: Até que ponto os concorrentes mais próximos, Mauricio Macri e Sergio Massa, podem representar ameaças para Daniel Scioli?

FC: Sim, Mauricio Macri e Sergio Massa podem mesmo representar esta ameaça que você apontou para o Daniel Scioli. Entretanto, o que os pesquisadores não se animam a prognosticar com exatidão é o que poderá acontecer caso seja necessária a realização de um segundo turno. Se o concorrente de Scioli será Macri ou, mais dificilmente, Massa. Também há dúvidas se um dos dois poderá unificar todos os votos da oposição a Cristina Kirchner e a seu candidato oficial. Os pesquisadores também dizem que o próprio Scioli poderia receber votos da oposição, em caso de um possível segundo turno. De qualquer forma, é uma opção muito difícil.

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S: No Brasil, diz-se que os três principais candidatos argentinos são afinados com as ideias do peronismo. Em sua opinião, dos três candidatos, qual o que melhor representa os ideais peronistas?

FC: Scioli e Massa são peronistas. Macri, claramente, não o é, embora nos últimos dias venha fazendo tentativas desesperadas para captar os votos dos peronistas, que são muito fortes, principalmente no interior da Argentina. Mauricio Macri se deu conta de que os votos dos peronistas são indispensáveis a quem pretenda se eleger presidente do país. Ciente deste fato, Macri inaugurou na Cidade de Buenos Aires um monumento ao General Perón, junto a alguns velhos dirigentes do peronismo, de má imagem pública, como o sindicalista Moyano e o ex-Presidente Eduardo Duhalde. Diferente é o caso de Scioli e Massa, que, embora tenham iniciado suas campanhas utilizando tons mais próximos de suas ideias liberais, hoje são reconhecidos como peronistas. Deles dois, é Scioli, com seu discurso a favor da produção, de uma maior igualdade social e da integração regional, quem representa melhor as ideias do peronismo.

S: Por aqui também se afirma que Daniel Scioli não é propriamente o candidato dos sonhos de Cristina Kirchner, embora ela o apoie abertamente para a sua sucessão. Até que ponto estes comentários têm fundamento?

FC: Scioli representa um estilo muito diferente do que Néstor e Cristina Kirchner impuseram à Argentina nos últimos 12 anos. Scioli é um moderado com uma ideologia de centro porém próxima do peronismo tradicional, ainda que os Kirchner tenham representado um estilo mais combativo, com um discurso de esquerda. Por este motivo, em princípio, é verdade que Scioli não era o candidato favorito da presidente nem do kirchnerismo. Mas os candidatos que representavam melhor o kirchnerismo não tinham intenções de votos. Desta forma, Cristina Kirchner decidiu apoiar Daniel Scioli, o único que lhe garantiria a possibilidade de ser a grande vencedora deste pleito de domingo. Uma vez que declarou seu apoio a Daniel Scioli, Cristina Kirchner passou a estar presente em vários atos de sua campanha.

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S: Em setembro, o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, esteve em Buenos Aires, prestando apoio a Daniel Scioli, ao lado de Cristina Kirchner. Neste mês de outubro, Daniel Scioli foi recebido em Brasília pela Presidenta Dilma Rousseff. O que o Brasil representa hoje para a Argentina e até que ponto os dois presidentes do Brasil, ambos do Partido dos Trabalhadores, poderão influenciar o voto do eleitorado argentino?

FC: O Brasil é o sócio externo mais importante para a Argentina, e um respaldo do Brasil é muito importante para qualquer candidato. Lula é um político muito conhecido e respeitado na Argentina, e o seu apoio foi muito comemorado pela equipe de campanha de Daniel Scioli. Além disso, ser recebido em Brasília por Dilma Rousseff permitiu a Daniel Scioli transmitir ao mundo, praticamente, a imagem de um presidente em pleno exercício de suas funções. Esta audiência marcou em definitivo a diferença de Daniel Scioli para os outros candidatos, pois eles não tiveram marcos como estes em sua campanha, o apoio declarado de dois presidentes do Brasil, Lula e Dilma. Se estes apoios servem para influenciar o eleitorado argentino, é difícil analisar, mas não resta dúvida de que eles são muito bons para mostrar à opinião pública a capacidade de articulação de um candidato no que tange às relações internacionais. Ao longo da campanha, Daniel Scioli se reuniu com praticamente todos os presidentes da região.

S: Se houver segundo turno, você acredita numa união de Mauricio Macri e Sergio Massa contra Daniel Scioli?

FC: Na metade deste ano, antes das eleições primárias, Massa tentou chegar a um acordo com Macri, porém este o rechaçou. A partir daí, as relações entre eles se tornaram ruins, e ao longo da campanha eles trocaram muitas críticas. Diante disso, pode-se até prever uma aliança da oposição, embora seja algo muito difícil de se concretizar. Por outro lado, muitos eleitores de Massa são peronistas de oposição, e a discussão agora é se num hipotético segundo turno estes eleitores se inclinariam por um peronista como Scioli ou por um opositor como Macri. Os pesquisadores ainda não chegaram a conclusões definitivas. É certo o que disse Massa, que ele mesmo tem mais condições do que Macri de derrotar Scioli num possível segundo turno. Mas até o momento não há pesquisas conclusivas sobre quem será o oponente de Daniel Scioli num eventual segundo turno.

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S: O que se pode esperar do próximo governo argentino? A ênfase recairá sobre a política interna ou a externa? E, em termos econômicos, quais devem ser os compromissos do novo presidente?

FC: Há muitos temas dos quais o próximo presidente argentino deverá se ocupar. Mas, caso este presidente seja mesmo Daniel Scioli, ele já declarou que se ocupará de cada questão de forma gradual e que não haverá “políticas de choque”. A economia argentina apresenta vários problemas. O principal é a escassez de dólares, situação que não é alheia ao Brasil. Também existe a possibilidade de o novo presidente recorrer ao crédito externo, o que a Argentina não pratica há alguns anos. Mas, para isso, o novo presidente teria de chegar a um acordo com os chamados “fundos abutres”, que têm vários processos judiciais contra a Argentina, desde que o país caiu em moratória em 2001. Cristina Kirchner se negou a fazer acordos com esses fundos, e esta negociação terá de ser feita pelo seu sucessor. Além disso, há a questão da alta da inflação, dificuldade que a Argentina enfrenta há muito tempo. Quanto à política externa, além de aprofundar a integração regional, o novo presidente argentino também deverá recompor os laços com os Estados Unidos, que sofreram sérios danos durante o período do kirchnerismo.

S: Qual o legado dos Kirchner (Néstor e Cristina) para a Argentina?

FC: Obviamente, este é um tema de muita discussão na Argentina. Para uns, o kirchnerismo é uma época de vitórias, e para outros é um período de derrotas do país. Porém até candidatos opositores como Mauricio Macri reconheceram o êxito das políticas sociais dos Kirchner, da estatização de fundos voltados para a administração dos recursos dos aposentados, de empresas como a petroleira YPF – Yacimientos Petrolíferos Fiscales, a Aerolineas Argentinas e as empresas do setor de transporte ferroviário. Os Kirchner renegociaram a dívida externa da Argentina, que estava descoberta desde 2001, pagaram em dia todos os títulos em vencimento, e hoje o país tem um baixo nível de endividamento externo em comparação com o que ocorreu no passado. No que diz respeito ao aspecto externo, Néstor e Cristina Kirchner procuraram fortalecer a integração com organismos regionais como o Mercosul, a Unasul e a Celac e aprofundar as relações internacionais da Argentina com potências emergentes como Rússia e China. Daniel Scioli pretende seguir esta linha.

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