Cuba x EUA: Fim do embargo econômico deve demorar

© AP Photo / Andrew HarnikBandeira cubana tremula sobre sua nova embaixada em Washington.
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Depois de 54 anos do rompimento das relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos, a Embaixada de Cuba foi reaberta oficialmente nesta semana em Washington. O embargo econômico à Ilha, no entanto, permanece. O especialista Jonuel Gonçalves comenta que a paz diplomática beneficia os Estados Unidos, mas restam as questões econômicas.

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O professor de Relações Internacionais Jonuel Gonçalves, da UFF – Universidade Federal Fluminense, afirma que a primeira impressão da retomada das relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos remete ao fim da Guerra Fria nas Américas, que na visão do especialista já estava prolongada demais. “Os dois países, tanto Cuba quanto os Estados Unidos, precisavam resolver esse problema. Os EUA, porque vinham encontrando muitos obstáculos no seu relacionamento com a América Latina”, diz Gonçalves. “O que estava acontecendo é que os países latino-americanos, mesmo aqueles que não concordam com o regime cubano, reconheciam esse regime para contrariar e fazer oposição aos EUA e demonstrar independência em relação à política exterior norte-americana, que hoje não tem os meios de pressão que tinha antigamente para obrigar vários países a fazer bloqueio ou acompanhar suas posições.”

Segundo Jonuel Gonçalves, a paz diplomática beneficia os EUA. “Todas as grandes propostas americanas para as Américas vinham sendo reprovadas, como, por exemplo, a ALCA – Área de Livre Comércio das Américas. A própria OEA – Organização dos Estados Americanos, que é vista como uma entidade de influência norte-americana, tem perdido substância, conteúdo e até mesmo impacto, e isso era um problema para os Estados Unidos.”

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Apesar do restabelecimento das relações diplomáticas, o especialista considera que ainda vá levar um bom tempo para que os dois países reassumam as relações em sua plenitude, pois há muitas questões ainda a ser resolvidas, como, por exemplo, as exigências de pagamentos recíprocos por indenizações: os EUA exigindo reparações sofridas por suas empresas em Cuba, e Cuba exigindo a restituição de seus bens bloqueados. “Isso deve demorar muito tempo, porque os encontros de contas não são fáceis de fazer, na medida em que cada um apresenta uma visão diferente. Em relação às indenizações pedidas pelos norte-americanos em decorrência das nacionalizações, provavelmente vão tentar transformar isso em investimento ou compra de ações, porque é provável que grandes setores da economia cubana venham finalmente a ser privatizados, como aconteceu na China. Quanto aos bens cubanos congelados nos EUA como retaliação, esse problema é mais fácil de resolver, a não ser que Cuba peça uma atualização de juros, o que levaria a mais discussão.”

Para o especialista, as negociações entre Cuba e Estados Unidos devem ainda ocupar todo o próximo mandato presidencial dos EUA, que deve ser de Hillary Clinton. E como último acordo estaria a base militar norte-americana de Guantánamo, em Cuba. “Em relação à base de Guantánamo, é muito provável que esse seja um dos instrumentos que o Governo norte-americano vai tentar usar obtendo em troca uma ampliação dos direitos humanos em Cuba.”

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Sobre o fim do embargo econômico, Jonuel Gonçalves explica que o caso vai depender da votação do Congresso dos EUA. “Aí já não é a Administração que resolve. Nem Obama nem seu sucessor. É o Congresso, que tem maioria republicana, e uma parte republicana conta muito com o voto da comunidade cubano-americana, que é um voto importante, por exemplo, na Flórida. Portanto, vai depender como essa comunidade está vendo este acordo. Até agora é de forma menos conservadora do que se esperava.”

Para o professor da UFF, o embargo não tem sentido nenhum, e não funciona, é uma medida política.

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