Chanceler da Sérvia: não há justiça na região controlada pela OTAN

© AFP 2023 / Patrick DomingoIvica Dacic em janeiro de 2015
Ivica Dacic em janeiro de 2015 - Sputnik Brasil
Nos siga no
A Sérvia não quer entrar na OTAN, mas precisa de boas relações com os seus vizinhos, que são todos membros desta aliança ou aspiram a sê-lo, disse o ministro das Relações Exteriores desse país, Ivica Dacic, em entrevista exclusiva à Sputnik Sérvia.

Não obstante a triste história da presença da OTAN nos Bálcãs, o passado é passado, e agora é preciso buscar um modo de convivência, acredita o chanceler sérvio, destacando, contudo, que de modo nenhum trata-se da adesão à OTAN:

"Nós não pretendemos aderir à OTAN, mas sendo rodeados por países membros desta aliança, queremos relações de parceria. E o importante é que essas relações sejam sinceras. Em Bruxelas, eu e o ministro [da Defesa, Bratislav] Gasic declaramos que não temos a intenção de aderir à OTAN, porque guardamos a dura e triste experiência do passado recente. Um dos membros do Conselho do Atlântico Norte perguntou-me qual era o obstáculo principal para o povo sérvio. Eis o que eu respondi: a experiência histórica, os bombardeios da Sérvia são a principal causa da atitude negativa dos habitantes da Sérvia".

Contudo, Dacic considerou a OTAN como "um fator importante de estabilidade" na região. Porém, isto não exclui os padrões duplos. E o chanceler da Sérvia parece ser otimista ao acreditar nas relações equilibradas nos Bálcãs.

Ucrânia e padrões duplos

Portanto, a vida continua, frisa Dacic. "Se a gente faz política, devemos compreender que não é possível mudar o passado, devemos pensar como podemos proteger agora os nossos interesses", diz.

Zoltan Dani - Sputnik Brasil
Há 16 anos, começava ofensiva da OTAN contra Iugoslávia
Na sua entrevista, o chanceler da Sérvia confessa que o seu país é vítima da "política de padrões duplos". Está ficando claro que as relações mútuas na União Europeia estão deterioradas, e as notícias sobre as tentativas da resolução pacífica do conflito na Ucrânia trazem certo alívio:

"É já um passo para diante, e, se me permitem a expressão, depois de uma série de notícias ruins da Ucrânia, [as ações conjuntas no quadro do quarteto de Normandia] são precursoras de uma compreensão mútua total de que a crise só pode ser superada por via política, isto é, por via de negociações".

O conflito na Ucrânia, segundo o chanceler, é um exemplo dos padrões duplos. E a falta de confiança internacional é uma das fontes desta política errada:

"Antes não havia possibilidade de mediação exatamente por falta de confiança. Houve situações quando uma das partes afirmava que a Rússia estava contra a prorrogação do mandato da Missão [da OSCE]. Eu liguei então ao ministro [das Relações Exteriores da Rússia, Sergei] Lavrov, e ele me disse que a Rússia está a favor da prorrogação. E agora há quem afirma que a Rússia não quer que os chefes de grupos de trabalho trabalhem em base permanente e insiste na mobilidade do pessoal. Há uns dias eu falei com Lavrov, ele nem sequer mencionou este assunto. Isso quer dizer que a fonte de muitos problemas era a falta de canais de comunicação e discussão bons".

A posição do chanceler sérvio pode parecer desesperada:

"Se você me pergunta se há justiça nas relações internacionais, eu respondo que não. Faz muito que eu não acredito nisso. Não existe justiça total. Há padrões duplos. O que é permitido às grandes potências não é permitido à Sérvia, lamentavelmente. Sabe, alguém disse: quando os elefantes fazem o amor, é o gramado quem sofre. E sofre ainda mais se eles lutam".

A Sérvia sofreu muito com a OTAN na década dos 1990, com bombardeios da então Iugoslávia e depois com o conflito kosovar. O problema do Kosovo que impede a Sérvia de fazer parte da União Europeia: antes de aderir, deve reconhecer este território como Estado independente. O que não acontece, porque a Sérvia não gosta de ultimatos. Dacic disse que um processo de aproximação com o novo governo do Kosovo está em curso, cuja finalidade é "normalização das relações", e não condições da independência kosovar.

Se a Sérvia quer se considerar Europa, "nem por isso pode se permitir proteger a [sua] integridade territorial com menor empenho do que a da Ucrânia", asseverou. E a Europa também.

Feed de notícias
0
Para participar da discussão
inicie sessão ou cadastre-se
loader
Bate-papos
Заголовок открываемого материала