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Ministro da Saúde rouba protagonismo de Bolsonaro, mas não deve cair, diz especialista

© REUTERS / Adriano MachadoPresidente brasileiro, Jair Bolsonaro, em conferência junto com seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, passa álcool-gel na mão e usa máscara
Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, em conferência junto com seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, passa álcool-gel na mão e usa máscara - Sputnik Brasil
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O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, contradiz as orientações do presidente Bolsonaro e não foi convidado para reunião com o chefe do Executivo nesta semana. No entanto, segundo médico e professor da FGV, Carlos Pereira, o ministro não deve cair.

Na noite de terça-feira (31), segundo o blog da jornalista Andréia Sadi no site G1, o ministro foi surpreendido com o contato de alguns médicos que teriam sido chamados pela Presidência da República para uma reunião presencial. O ministro não foi convidado.

A reunião convocada pelo presidente seria para discutir o uso de cloroquina no combate ao coronavírus. 

Durante a coletiva de imprensa para atualizar sobre a situação do coronavírus no país, nesta quarta-feira, o ministro foi questionado por jornalistas sobre o fato. Mandetta respondeu que a convocação do presidente era "política" e que o seu foco era técnico. Quanto ao uso de cloroquina, o chefe da pasta da Saúde alertou que os efeitos do medicamento ainda precisariam ser testados.

O episódio, no entanto, suscitou comentários nos bastidores. Segundo vozes na imprensa, o ministro da Saúde do Brasil parece sofrer um processo de desgaste no governo, em função de sua visível divergência das ideias de Bolsonaro e do seu crescimento político junto à opinião pública. Comentaristas mais ousados chegaram a vislumbrar a possibilidade de uma demissão da autoridade.

​O médico e professor de Economia Política e Políticas Públicas da EBAPE, Escola Brasileira de Administração Pública, da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro, Carlos Pereira, não acredita entretanto que Mandetta seja destituído do cargo.

"Acho que os custos políticos do presidente Jair Bolsonaro de descartar um ministro que ocupou o protagonismo durante toda a pandemia serão enormes", afirmou Pereira para Sputnik Brasil.

Segundo o médico, enquanto a pandemia durar, Mandetta tende a continuar no cargo, ainda mais se seguir consistente com as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e sinalizar responsabilidade para a população.

O professor explicou que, desde o início do mandato, Bolsonaro tenta ocupar o protagonismo, mesmo diante de um governo que precisa forjar coalizões. Ele tem recorrido às mídias sociais, focando as mensagens em seu nicho de eleitores conservadores. Ao mesmo tempo, os ministros atuam de forma independente. 

"Tem se formado uma espécie de divisão de trabalho. Enquanto o presidente se ocupa da tarefa de alimentar essa sua base mais conservadora, os seus ministros elaboram e decidem as políticas concretas, a despeito da orientações do presidente", afirmou.

Para Carlos Pereira, a postura do presidente é relativamente legítima, por considerar as graves consequências para a economia, decorrentes de uma política de quarentena da população. No entanto, a sociedade escolheu outro caminho.

"A sociedade brasileira e a sociedade mundial têm dado prioridade ao cuidado e à proteção da saúde no momento e, de certa forma, jogaram para o futuro os problemas econômicos", ponderou o acadêmico. 

O ministro Mandetta atende a esse apelo popular e o conflito com a Presidência é resultado dessas posições polares. No entanto, Bolsonaro estaria muito isolado em função de sua animosidade com outros poderes, com a mídia e diversos atores políticos. 

"Se o ministro Mandetta for demitido, o isolamento de Bolsonaro vai se tornar maior ainda. Se ele já tem perdido apoio político junto ao Legislativo e junto aos governadores, ele também vai perder progressivamente o apoio político junto à sociedade", concluiu.
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