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Ao apagar o papel da URSS na 2ª Guerra Mundial, Ocidente regenera fascismo, indica analista (VÍDEO)

© Foto / Akylbek BatyrbekovPessoas carregam retratos de parentes, participantes da Grande Guerra Patriótica, enquanto fazem parte do Regimento Imortal durante as comemorações do Dia da Vitória, marcando o 78º aniversário da vitória sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial, em Bishkek, Quirguistão
Pessoas carregam retratos de parentes, participantes da Grande Guerra Patriótica, enquanto fazem parte do Regimento Imortal durante as comemorações do Dia da Vitória, marcando o 78º aniversário da vitória sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial, em Bishkek, Quirguistão - Sputnik Brasil, 1920, 09.05.2024
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A vitória das forças aliadas sobre a Alemanha de Adolf Hitler, na Segunda Guerra Mundial, é motivo de comemoração pela maioria das nações mundiais há 79 anos.
Após seis anos de conflito (1939–1945) — que deixou mais de 60 milhões de mortos e destruiu várias cidades e um rastro macabro de perversidade do Holocausto —, seu fim, no entanto, tem duas datas.
O dia 8 de maio é celebrado pelos países ocidentais, e o dia 9 de maio é lembrado na Rússia, quando a então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) derrotou as tropas alemãs em Berlim.
Para o historiador João Cláudio Pitillo, um dos maiores especialistas em língua portuguesa sobre esse conflito global, a imagem ocidentalizada sobre os eventos desse período deturpou muito do que se conta até hoje em livros de história e na grande mídia.
Isso explica por que a maioria da população no Brasil, por exemplo, desconhece que a União Soviética foi responsável pela destruição de mais de 75% das forças nazifacistas.

"Esse engajamento da União Soviética na guerra foi maior do que em todos os outros países. Claro que todo mundo que contribuiu na luta contra o fascismo merece o nosso respeito e a nossa consideração, mas não podemos deixar de pesar o papel da União Soviética, que foi muito maior do que todos", afirma o historiador.

Pitillo destaca que a União Soviética combatia o fascismo desde a ocupação da Áustria por Hitler, da China pelo Japão e durante o processo de expansão do fascismo na Europa.
© Sputnik / Renan RebelloHistoriador João Cláudio Pitillo, um dos maiores especialistas em língua portuguesa, sobre a 2ª Guerra Mundial
Historiador João Cláudio Pitillo, um dos maiores especialistas em língua portuguesa sobre a 2ª Guerra Mundial - Sputnik Brasil, 1920, 07.05.2024
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O segredo da vitória, segundo ele, foi o povo soviético, que teve entre seus cidadãos mais de 20 milhões de mortos de fome, frio ou de bombas alemãs.

"Se o povo soviético não quisesse, não teria tido a vitória do Exército Vermelho. Então foi o povo soviético que, apesar de ficar 900 dias sitiado em Leningrado, resistiu."

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Outro ponto importante que ele destaca é a organização social e uma indústria voltada para o fornecimento coletivo e a distribuição econômica dos bens e serviços.
Sem esses elementos, seria impossível resistir ao agrupamento das forças do eixo que invadiu o território soviético, conta ele, "com quantidade enorme de tanques, aviões e o que havia de melhor na indústria alemã".
No período defensivo, que durou 18 meses, a URSS perdeu quase 20% do seu terreno, áreas industriais importantes e muitos soldados e civis. A situação extrema exigiu dos comandantes e cientistas militares soviéticos o desenvolvimento de novas técnicas.

"Você precisava sobrepujar um Exército mais forte, mais numeroso, com muito mais experiência, e não seria lutando de maneira convencional. Essa atuação soviética pode ser dividida entre grandes operações militares, operações guerrilheiras, formações defensivas e engajamento popular", elenca ele.

A Batalha de Moscou

No final de 1941 e início de 1942, as forças nazistas chegaram a poucos quilômetros do centro de Moscou. Algumas unidades avançadas estavam a 20, 30 quilômetros da Praça Vermelha.
Isso fez com que muitas fábricas fossem desmontadas das áreas que os alemães estavam ocupando e reorganizadas para o leste do país, conta ele, com transporte de maquinário, de operários e suas famílias. Essa reorganização, com foco na produção industrial, foi fundamental para a vitória, ressalta o pesquisador.

"A França caiu em poucas semanas. Vimos como a Inglaterra estava sendo posta de joelhos, vimos a Europa Ocidental ser tragada pelo nazismo. É justamente a produção socialista que vai permitir que o Exército Vermelho marche, marche com o que tinha de melhor", conta ele.

E a vitória de Moscou é a primeira derrota do nazismo na guerra. Por isso, é icônica, e vai reverberar no mundo todo, afirma o estudioso.
Logo depois começou a Batalha de Stalingrado. O historiador relata que a cidade foi devastada; "um bombardeio atroz, e só quem acredita na vitória em Stalingrado eram os defensores de Stalingrado".

"Há uma virada da guerra, primeiro de resistir, de impedir que os nazistas dominem a margem do Volga, e outra é a sagacidade do governo soviético de criar a Operação Urano, na margem oriental do Volga, que engana os nazistas e faz o famoso cerco: o sexto Exército alemão é cercado", narra ele. Esse movimento de cerco seria feito várias vezes pelo Exército soviético até a vitória final em Berlim, frisa.

Exército de Sombras

As ações de guerrilha foram outra estratégia bélica soviética de grande êxito, segundo Pitillo. Chamado de Exército de Sombras, esse movimento guerrilheiro não deu trégua aos nazistas.

"Muitos não tinham nem experiência militar, tomavam a arma do nazista e se lançavam numa luta a partir de florestas, de céu; isso é uma coisa fantástica. Ao final da guerra eram quase 800 mil, inclusive crianças, que participaram desse movimento."

Batalha de Rize, Kursk e Prokhorov

Uma das batalhas mais sangrentas da história da humanidade, segundo o especialista, ocorreu na cidade de Rizev e durou quase todo o período da guerra.
"Uma batalha terrível, uma batalha de resistência, porque a Batalha de Rizev, se os soviéticos perdessem Rizev, de novo os nazistas se colocariam à porta de Moscou."
Também foi icônica a Batalha de Kursk, e a batalha de blindados na cidade de Prokhorov. Segundo ele, a batalha de Kursk representou o início do fim para Hitler, que tentou tomar a iniciativa a leste e os soviéticos criaram um cinturão defensivo, derrotando as tropas inimigas.

Colaboracionismo com o nazismo antes, durante e depois da guerra

Pitillo destaca que, com a ascensão de Hitler, movimentos insatisfeitos com a revolução de 1917 se atrelaram à invasão nazista para tentar destruir a União Soviética, sobretudo na região da Ucrânia, em alguns Estados bálticos e fronteiras com Belarus e Polônia.

"Esses movimentos não tinham nada a ver com nacionalismo, eram fascistas. Porque se fossem nacionalistas, teriam total poder, tranquilidade para discutir com a União Soviética modelos de gestão autônomos, semiautônomos, como aconteceu em várias partes da União Soviética."

Mesmo com o fim da Guerra Fria, os países imperialistas voltaram a criar um ambiente anticomunista no mundo, e isso tem servido para o retorno do fascismo como contraponto à Rússia.

"O Ocidente, quando apaga o papel da União Soviética na guerra, reabilita automaticamente o fascismo. A Ucrânia se tornou um grande laboratório dessas forças reacionárias e fascistas, a Ucrânia, Polônia, algumas ex-repúblicas da União Soviética, que ficam na parte asiática", comenta ele.

Como exemplo, o historiador comenta que, em viagem recente à Lituânia, ele teve que comprar um antigo broche da União Soviética escondido.

"Se usasse o broche da União Soviética, pagaria uma multa, poderia ser preso. Fui cruzar a fronteira para Kaliningrado. Lá a bandeira da vitória, a bandeira que foi erguida no Reichstag, é proibida. Atravessei a fronteira para Belarus, um ambiente extremamente hostil, criado pelas forças da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte] na Lituânia."

Também na Lituânia, ele diz ter visto a retirada de um monumento no cemitério dos combatentes do Exército Vermelho, em homenagem aos cerca de 3 mil lituanos combatentes que morreram.
"É difícil entender, porque há 30 anos belarrussos, russos de Kaliningrado e lituanos eram um povo só. Não havia fronteira, vivia todo mundo de maneira muito fraterna", questiona ele.

Por que há 2 datas diferentes para a rendição dos nazistas na 2ª Guerra Mundial?

O fato de o Ocidente ter escolhido o dia 8 de maio de 1945 como data da rendição das tropas de Hitler, que seguiram lutando em Berlim com os soviéticos, revela essa tentativa de apagamento da importância da URSS para a vitória, afirma o historiador.

"Então eles se rendem ao leste e ao oeste para os aliados, mas permanecem lutando a leste contra os soviéticos. É ruim que os ocidentais tenham compactuado com a rendição desses inimigos, que ainda estavam matando soviéticos."

A grande indústria cultural, não só na produção de filmes, como também na parte bibliográfica e o advento da Guerra Fria, contribuíram enormemente para disseminar a imagem ocidentalizada da guerra, inclusive no Brasil, argumenta o especialista, que teve a cumplicidade de governos ditatoriais, a começar pela do Estado Novo, sob a batuta de Getúlio Vargas.

"Foi muito virulenta em perseguir comunistas e evitar o trânsito na nossa sociedade de materiais que mostravam o que estava acontecendo no leste [da Europa]. Logo depois há outra ruptura, a repressão do governo Dutra, que vai se subordinar à doutrina Truman, e aí, de novo, um ambiente anticomunista no Brasil."

E, por fim, o golpe de Estado de 1964.

"Tivemos 21 anos de uma ditadura que nos impôs essa versão única, essa versão estadunidense da Guerra Fria, de que os americanos ganharam a guerra praticamente sozinhos, que o dia D foi determinante, que os anglos-estadunidenses eram os únicos defensores da liberdade."

'Precisamos recolocar o Brasil no rumo da verdade histórica'

Segundo ele, a nova versão foi revisada especificamente "para o povo brasileiro", com linguagem jornalística e informativa, de fácil compreensão sobre o tema: "Aço Vermelho: os segredos da vitória soviética na Segunda Guerra Mundial".
Segundo ele, a nova versão foi revisada especificamente "para o povo brasileiro", com linguagem jornalística e informativa, de fácil compreensão.

"É um livro para a formação do povo brasileiro, mas também minha homenagem a todos os homens e mulheres soviéticos que combateram na Grande Guerra pela Pátria e que muitos deles pagaram com a vida. Essas pessoas são inestimáveis, merecem o nosso respeito", conclui ele.

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