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Encontro Brasil-Argentina: analista diz que é cedo para falar em estabilidade nas relações

© José Cruz/Agência BrasilEncontro entre o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e a ministra de Relações Exteriores, Comércio Internacional e Culto da Argentina, Diana Mondino. Brasília, 15 de abril de 2024
Encontro entre o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e a ministra de Relações Exteriores, Comércio Internacional e Culto da Argentina, Diana Mondino. Brasília, 15 de abril de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 15.04.2024
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Após meses de embates e diferenças ideológicas, o Brasil recebeu nesta segunda-feira (15) a primeira visita oficial de uma representante do governo da Argentina. Com intensa agenda em Brasília, a ministra das Relações Exteriores Diana Mondino teve encontros com o homólogo Mauro Vieira e o vice-presidente Geraldo Alckmin.
Para a cientista política, pesquisadora do Observatório Político Sul-Americano (OPSA) e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Beatriz Bandeira de Mello, apesar de enviar um sinal positivo ao governo brasileiro com a visita da chanceler argentina, ainda é cedo para dizer que as relações Brasil-Argentina estão estáveis.

"A visita acontece em um momento delicado, depois do encontro do presidente argentino, Javier Milei, com o empresário Elon Musk na semana passada. Nesse encontro, Milei ofereceu ajuda a Musk no caso envolvendo o ministro Alexandre de Moraes, o STF [Supremo Tribunal Federal] e as investigações sobre a atuação das chamadas milícias digitais no Brasil. Esse comportamento do Milei, notadamente pró-Estados Unidos e distante da América do Sul, tem contribuído para um esfriamento das relações entre Brasília e Buenos Aires. Nesse caso, a ministra atua para minimizar arestas e evitar maiores conflitos entre as partes", pontua à Sputnik Brasil.

Conforme a especialista, durante os governos Alberto Fernández, na Argentina, e Jair Bolsonaro, no Brasil, as relações entre as duas maiores potências da América do Sul também ficaram estremecidas, situação que começou a ser revertida com o início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que quase levou à entrada de Buenos Aires no BRICS, que foi rejeitada este ano por Milei.
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"A possibilidade de ruptura das relações diplomáticas é remota, dada a complementariedade econômica e comercial entre os países, mas não há dúvida de que as diferenças ideológicas contribuem para que a relação bilateral se mantenha em caráter inercial, ou seja, através da simples manutenção de agendas protocolares. A título de exemplo, o Ministério de Relações Exteriores da Argentina declarou em nota que a relação bilateral é uma 'verdadeira política de Estado para ambos os países', o que denota a importância do Brasil para Buenos Aires para além das declarações de Milei", explica.

Entre os assuntos discutidos no encontro com Vieira, estavam infraestrutura fronteiriça, cooperação em energia e defesa, além de integração e a Hidrovia Paraguai-Paraná.
"O Brasil pode atuar como mediador na questão da Hidrovia Paraguai-Paraná, por exemplo, já que Argentina e Paraguai têm divergências em questões relacionadas à cobrança de tarifas hidroviárias. A chanceler Diana Mondino também apresentou a proposta de estabelecer um mecanismo de cooperação em matéria fluvial, além de citar a complementariedade energética e nuclear. A questão da integração, sobretudo o papel do Mercosul, também é algo que precisa ser discutido entre Brasil e Argentina, uma vez que ambos os governos possuem posições diferentes em relação ao bloco", analisa a especialista.
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'Tentar manter o que explodiu por baixo'

O doutor em ciência política e professor na Universidade Nacional de San Martín (UNSAM) Lucho Karamaneff acrescentou à Sputnik Brasil que Vieira e Mondino tentam "manter o que explodiu por baixo" da relação, principalmente política, entre os dois países.
"E por isso vemos a insistência de Mondino e Vieira em falar de políticas de Estado. Isso implica que o que encontraremos daqui para frente pode ser mais do que uma política de avanços e desenvolvimento, pode ser uma política de manutenção e sustentação. Não há interesse em detonar totalmente a relação. Não há interesse e também não há possibilidade. O principal parceiro comercial da Argentina é o Brasil, e para o Brasil também é importante e significativa a relação com a Argentina", argumenta.
Assim como Bandeira de Mello, o especialista acredita que o encontro não vai trazer grandes avanços em um primeiro momento, especialmente em termos de integração. "É algo que sempre foi difícil, mesmo com governos com orientações semelhantes. Nesse contexto, é ainda mais complexo […]. Estamos com um presidente na Argentina que sempre intensifica o discurso. Isso é importante destacar, intensifica o discurso. Em outras questões, a Argentina está subordinada, e em termos comerciais é dependente do Brasil. Nesse contexto, o que podemos ver é que a relação e o vínculo também estão precários. Hoje falaram sobre uma possível reunião em algum momento entre Milei e Lula, sem confirmação. Isso me parece estar em jogo devido aos constantes atritos que já ocorreram na relação e principalmente devido ao posicionamento internacional", explica.
Lucho Karamaneff ainda citou a agenda antagonista no âmbito internacional após o início do governo Milei em dezembro do ano passado.
"A Argentina mudou hoje, deu uma guinada, com a posse de Milei, em muitos dos posicionamentos históricos que tinha, e isso é algo que se reflete, por exemplo, no caso do conflito entre Israel e Irã, onde as formas e o que foi dito, e o posicionamento, e os discursos, os comunicados que foram emitidos foram diametralmente opostos."
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Como é a relação econômica entre Brasil e Argentina?

A visita da ministra das Relações Exteriores argentina começou com um encontro com o homólogo brasileiro Mauro Vieira no Palácio do Itamaraty, em Brasília. Terceiro maior parceiro comercial do Brasil, no ano passado as exportações para a Argentina representaram 5,11% da balança nacional, atrás apenas de China e Estados Unidos.
Em novembro, após as eleições na Argentina marcadas por embates do então candidato Javier Milei com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Diana Mondino chegou a visitar o Brasil para tentar aliviar as tensões entre os dois governos, mesmo objetivo da atual agenda.
Conforme a chanceler, os projetos entre Brasil e Argentina são "independentes e superiores" a qualquer gestão, a exemplo da possível parceria para a importação do gás produzido na província argentina de Vaca Muerta.
"A produção está na Argentina, e a necessidade no Brasil. A produção alcança nossa necessidade própria e mais a do Brasil", declarou durante entrevista coletiva. A expectativa é de que o gasoduto que leva o combustível até Buenos Aires seja expandido até o território brasileiro, com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Sobre a polêmica mais recente, quando em encontro com o empresário Elon Musk, o presidente Milei ofereceu ajuda diante das ações judiciais que a rede social X (antigo Twitter) enfrenta no Brasil, Mondino garantiu que o país não vai intervir. "Confiamos na Justiça de cada país. Defendemos a liberdade de expressão em todos os sentidos", enfatizou.
Já Vieira enfatizou que a primeira visita oficial do governo argentino tem "significado essencialmente político muito importante, de intenso diálogo, aprofundado, sobre um conjunto de temas de maior e mais imediato interesse para os dois países".
Na sequência, a chanceler foi recebida pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, quando foram discutidas estratégias para o fortalecimento do Mercosul e ampliação dos acordos comerciais intrabloco. Alckmin lembrou ainda que, dos US$ 28 bilhões (R$ 145,1 bilhões) em produtos exportados ao território argentino no ano passado, a maior parte veio da indústria brasileira.

"A Argentina é um país parceiro, sócio e amigo do Brasil, com quem temos uma relação estreita há longo tempo e com oportunidades de cooperação em todas as áreas. A relação bilateral Brasil-Argentina é estratégica e deve ser aprofundada […]. Precisamos ampliar o comércio e firmar acordos no âmbito do Mercosul para promover as exportações, aumentando os empregos na nossa região e gerando mais renda", enfatizou Alckmin.

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