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O que o caso da turista espanhola morta na Rocinha mostra sobre a PM no Brasil?

© Foto / Tânia Rêgo/Agência Brasil/ Fotos PúblicasExército na Rocinha
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Acompanhada de seu irmão e de sua cunhada, a turista da Espanha Maria Esperanza Ruiz estava voltando de carro de um passeio na Rocinha quando sua vida foi interrompida por um disparo da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Ela foi atingida no pescoço e levada para um hospital na região, mas não resistiu aos ferimentos.

O tour na famosa comunidade carioca havia custado R$ 140.

O caso teve repercussão internacional e colocou nos holofotes, mais uma vez, a crise na segurança pública do Rio de Janeiro.

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Maria havia comprado um pacote turístico para visitar Colômbia, Argentina, Brasil e Peru e estava na capital fluminense após visitar Foz de Iguaçu, no Paraná. O pacote foi comercializado pela agência Exoticca, da Espanha, que subcontratou a Brasil Operadora, que por sua vez subcontratou a Carioca RioTur — empresa responsável pela contratação de Rosângela Cunha, a guia que também estava com Ezperanza no carro, informou o El País.

A venda de pacotes para visitar a Rocinha era comum entre agências de turismo até a violência na comunidade aumentar com a disputa entre diferentes grupos pelo controle do tráfico de drogas. Na mesma manhã da segunda-feira (23) em que a turista espanhola morreu, um tiroteio deixou dois policiais e um suspeito feridos.

A Secretaria de Estado de Segurança do Rio de Janeiro afirmou, por meio do Twitter, que "lamenta a morte da turista espanhola Maria Esperanza Ruiz e acompanha a apuração dos fatos junto à Corregedoria da Polícia Militar e à Divisão de Homicídios da Polícia Civil, que investiga o caso".

O incidente

A versão da PM para a morte de Maria é de que o carro em que ela estava furou um bloqueio policial. Contudo, todos os presentes no veículo negam que tenham ignorado uma ordem de parada das autoridades policiais.

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Ainda que o carro tenha desobedecido uma blitz, o ex-instrutor do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) Paulo Storani ressaltou em entrevista à Sputnik Brasil que o treinamento policial nesses casos não é de disparar.

"Independente de qualquer justificativa que os PMs possam apresentar, não existe norma na Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, não existe nenhum protocolo que possa prever a utilização de força letal contra a força estabelecida quer esteja ocorrendo ou não uma ação policial. O uso de força letal é aplicável quando o policial é submetido à uma força igual, quando alguém atenta contra a vida do policial ou contra as vidas de terceiros. Somente nesses casos pode ser utilizada a força letal."

O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), classificou o episódio como "muito triste e lamentável" e disse que a morte da turista espanhola foi "um ponto fora da curva pra gente, que entristeceu toda a área de segurança".

A violência

Os números da violência, entretanto, mostram que o caso de Maria não é um ocorrência isolada como afirma Pezão: a polícia carioca matou 645 pessoas em 2015.

Tampouco é um caso isolado o registro de tiroteios na cidade do Rio de Janeiro. Levantamento do aplicativo Fogo Cruzado identificou 5.345 tiroteios/disparos de arma de fogo na Região Metropolitana do Rio de Janeiro entre julho de 2016 e junho de 2017. Ou seja, uma média de mais de 14 tiroteios por dia. O resultado das balas foram 1.425 feridos e 1.349 mortos entre policiais e civis.

No Brasil todo, as forças policiais cometeram 3.320 homicídios em 2015. Os números são do Atlas da Violência de 2017, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

A publicação ainda mostra que foram registrados 59.080 homicídios em 2015, sendo que 71,9% deles foram cometidos com armas de fogo. A vítima mais comum dessa violência tem um perfil definido: jovens e negros.

A cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. De acordo com informações do Atlas, os negros possuem chances 23,5% maiores de serem assassinados em relação a brasileiros de outras raças, já descontado o efeito da idade, escolaridade, do sexo, estado civil e bairro de residência.

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O ex-chefe do Estado-Maior da PM carioca e doutorando em sociologia Robson Rodrigues afirmou em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil que a polícia brasileira é violenta, mas que o fato dela estar inserida em uma sociedade violenta deve ser levada em consideração.

"Uma sociedade que apoia o 'bandido bom bandido morto' aprova uma ação letal da polícia contra determinados segmentos. Agora, quando ocorre essa lamentável falha, esse erro e esse crime, vão atacar o policial. Há todo um incentivo social de um setor que perigosamente tem se tornado a maioria na nossa sociedade para que essas ações mais violentas se reproduzam. Há um anseio para que as pessoas possam andar armadas e para que os policiais sejam violentos, existe uma aprovação social da violência policial. Não há reprovação quando esta [violência] acontece contra criminosos e pobres."

Desde o começo do ano, 110 policiais militares já foram assassinados em todo o Estado do Rio de Janeiro. 

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