Mais de 200 cientistas apelam para OMS reconsiderar suas recomendações para COVID-19

© AFP 2023 / Fabrice CoffriniLogotipo da Organização Mundial de Saúde (OMS) em Geneva
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Ao todo, 239 cientistas afirmam ter provas de que o coronavírus pode se espalhar pelo ar e infectar pessoas, pelo que pedem à Organização Mundial da Saúde (OMS) que reveja suas recomendações.

A OMS há muito que vem defendendo a ideia de que a doença é principalmente disseminada de pessoa para pessoa por gotículas do nariz ou da boca que são expelidas quando uma pessoa doente tosse, espirra ou fala, rapidamente caindo no chão, informa o jornal The New York Times (NYT).

Segundo o NYT, o coronavírus está se disseminando em bares e restaurantes, escritórios, mercados e cassinos, dando origem a surtos de infecções que cada vez mais confirmam o que muitos cientistas vêm dizendo há meses: o vírus permanece no ar em espaços fechados, infectando os que estão por perto.

Por essa razão, cientistas fizeram soar o alarme, afirmando ter evidências de que o vírus SARS-CoV-2, que causa a doença COVID-19, sobrevive no ar em espaços fechados.

Em uma carta aberta, que pretendem publicar brevemente em uma revista científica, 239 cientistas de 32 países defendem que quer seja transportado em grandes gotas que permanecem no ar após espirro ou em gotas exaladas muito menores que podem se espalhar por uma sala, o coronavírus é transmitido pelo ar e pode infectar pessoas quando inalado.

Se for confirmado que a transmissão por via aérea é um fator significativo na pandemia, especialmente em espaços lotados com pouca ventilação, as consequências para a contenção seriam significativas.

Máscaras poderiam ser necessárias dentro de casa, e os profissionais da saúde necessitariam de máscaras especiais N95 que filtrassem até mesmo as menores gotículas respiratórias.

Sistemas de ventilação em escolas, casas de repouso, residências e empresas poderiam precisar minimizar a reciclagem do ar e adicionar novos filtros poderosos.

Luz ultravioleta seria necessária para matar partículas virais que flutuassem sob a forma de aerossóis dentro de casa.

Posicionamento da OMS

Mesmo em sua última atualização sobre o coronavírus, a OMS reiterou que a transmissão aérea do vírus só é possível após procedimentos médicos que produzam aerossóis, ou gotículas menores que cinco mícrones. Um mícron é igual a um milionésimo de um metro.

De acordo com a OMS, ventilação adequada e máscaras N95 são necessárias apenas nessas circunstâncias, continuando a enfatizar a importância da lavagem das mãos como estratégia de prevenção primária.

Benedetta Allegranzi, líder do comitê de prevenção e controle de infecções da OMS, afirmou ao jornal NYT que as evidências de propagação do vírus pelo ar não eram convincentes e que a pesquisa era inconclusiva.

"Especialmente nos últimos meses, temos afirmado várias vezes que consideramos a transmissão por via aérea como possível, mas ainda não apoiada por evidências sólidas ou mesmo claras", declarou.

Segundo o NYT, especialistas e inclusive colaboradores da OMS sob anonimato observam que a organização tem uma visão rígida e excessivamente medicalizada das evidências científicas, sendo lenta e avessa ao risco na atualização de suas orientações.

Já no início de abril, um grupo de 36 especialistas em qualidade do ar e aerossóis instou a OMS a considerar as crescentes evidências sobre a transmissão aérea do coronavírus.

Chamados pela OMS para uma reunião, prevaleceu a opinião dos partidários ferrenhos da lavagem das mãos, informa o NYT.

Os especialistas ouvidos na reunião queixaram-se que a OMS estaria fazendo uma distinção artificial entre aerossóis minúsculos e gotas maiores, mesmo que as pessoas infectadas produzam ambos, relatou ao NYT a especialista Linsey Marr.

Segundo Marr, cientistas não têm sido capazes de cultivar o coronavírus a partir de aerossóis em laboratório, mas isso não significa que os aerossóis não sejam infectantes, visto que a maioria das amostras dessas experiências é provida de salas hospitalares com bom fluxo de ar que diluiria os níveis virais.

Já na maioria dos edifícios, "a taxa de troca de ar é geralmente muito menor, permitindo que o vírus se acumule no ar e represente um risco maior", acrescentou.

Especialistas advertem que transmissão por via aérea não significa gotículas à deriva pelo ar, capazes de infectar muitas horas depois.

Para Linsey Marr, o coronavírus parece ser mais infeccioso quando as pessoas estão em contato prolongado a uma curta distância, especialmente dentro de espaços fechados, e ainda mais em eventos com muitos portadores sintomáticos - exatamente o que os cientistas esperam da transmissão por aerossol.

Divergências múltiplas

O NYT recorda que não é a primeira vez que a OMS e alguns cientistas entram em divergências, recordando a polêmica sobre o uso ou não de máscaras bem como o fato de a organização manter o posicionamento de que a transmissão assintomática é rara.

A especialista da Universidade de Oxford (Reino Unido) Trish Greenhalg afirmou ao NYT que mesmo não havendo "nenhuma prova incontestável de que o SARS-CoV-2 viaje ou seja transmitido significativamente por aerossóis, também não há absolutamente nenhuma evidência do contrário".

Já o professor universitário britânico Paul Hunter alerta que a adoção de medidas rigorosas de controle na ausência de provas faria com que hospitais em países de baixa e média renda se vissem forçados a desviar recursos escassos de outros programas cruciais. Propõe, por isso, um princípio de precaução.

A OMS "deve considerar as necessidades de todas as nações-membros, incluindo aquelas com recursos limitados, e certificar-se de que suas recomendações sejam norteadas pela disponibilidade, viabilidade, cumprimento e implicações de recursos", afirmou, por sua vez, e na mesma linha de cautela, Benedetta Allegranzi.

Soumya Swaminathan, cientista-chefe da OMS, garantiu que os membros da agência estavam tentando avaliar as novas evidências científicas o mais rápido possível, mas sem sacrificar a qualidade de sua revisão.

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