Políticos, ativistas e igreja do Brasil reagem à fala de Putin sobre 'progenitor 1' e 'progenitor 2'

© AP Photo / Nelson AntoineParticipantes de parada gay segurando a bandeira da comunidade LGBT, São Paulo (foto de arquivo)
Participantes de parada gay segurando a bandeira da comunidade LGBT, São Paulo (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
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O presidente russo, Vladimir Putin, comentou a tendência em alguns países ocidentais de substituir as definições de pai e mãe por "progenitor 1" e "progenitor 2". Tal declaração causou reações divergentes, inclusive entre os brasileiros.

Vladimir Putin afirmou, durante um encontro com representantes do grupo de trabalho para preparação de sugestões de alterações à Constituição, que na Rússia as definições de "pai" e "mãe" devem ser preservadas.

Putin declarou que, enquanto ele for o presidente da Rússia, no país nunca serão usadas as definições "progenitor 1" e "progenitor 2". Hoje em dia, tal prática é aplicada em alguns países ocidentais, por exemplo, nos EUA e na França.

"Enquanto eu for presidente, nunca teremos 'progenitor número 1' e 'progenitor número 2', teremos pai e mãe", disse o presidente.

Ele frisou também que o "casamento é a união entre um homem e uma mulher".

As palavras do presidente russo causaram reações divergentes a nível internacional. Por exemplo, o Ministério das Relações Exteriores britânico disse ter orgulho em legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Por sua vez, o deputado italiano Vito Comencini, do partido Lega, disse que a declaração do líder russo é um exemplo da proteção da sociedade tradicional e dos valores cristãos.

Políticos se dividem

Sputnik Brasil conversou com vários representantes da sociedade brasileira, desde deputados federais até ativistas, para saber a opinião deles quanto às palavras de Vladimir Putin.

Roberto Freire, candidato à Presidência da República pelo PCB (Partido Comunista Brasileiro) em 1989, ex-deputado federal, presidente nacional do Partido Cidadania, sucessor do PPS (Partido Popular Socialista) e do PCB, diz esperar que um dia a Rússia se torne um país com "maior liberdade" e "maior humanismo".

"Essa visão obscurantista de [Vladimir] Putin é conhecida, não é de agora. A sua visão anacrônica em relação aos costumes, em relação ao novo mundo que aí está, provoca exatamente reações deste tipo. Ainda bem que ele [Putin] não será eterno, mas a Rússia é [eterna]. Então, isso será superado, e eu espero que o mais rápido possível, e que tenhamos uma Rússia com maior liberdade, com maior contemporaneidade com o futuro, e com maior humanismo", afirmou o político à Sputnik.

Por sua vez, o deputado federal pelo Partido Republicanos (SP), Celso Russomano, tem uma postura mais contida, dizendo que a questão de ter casamento gay está relacionada às particularidades de cada país.

"Em qualquer lugar do mundo, para que haja casamento entre pessoas do mesmo sexo, é necessária uma legislação. Às vezes, a Justiça se antecipa, como já aconteceu no Brasil, e dá a esta união [entre pessoas do mesmo sexo] a configuração de um casamento. Mas quem é competente para legislar é sempre o Parlamento, em qualquer país do mundo. Então, eu não vejo com estranheza a declaração do presidente Putin, até porque esta é uma questão muito polêmica. Depende muito da religião, da condição daquele país, daquilo que o país aceita, e se este país é mais conservador ou menos conservador", disse.

Joaquim Passarinho, deputado federal (PSD-PA), diz defender a posição de Putin e também afirmou acreditar que a maioria dos brasileiros não apoia este tipo de união.

"Acho que a Rússia é diferente do Brasil. O presidente Putin tem muito mais uma relação direta lá com um governo mais autoritário. O Brasil é uma democracia. Eu defendo também a mesma posição dele [Vladimir Putin], mas acho que deveremos fazer isso dentro do Parlamento, dentro do diálogo e da democracia, para que a gente possa fazer com que o Brasil tenha uma lei que respeite o direito da maioria, a vontade da maioria brasileira que eu acho também que é contra este tipo de união estável", disse Passarinho.

Ativistas lamentam

A reação à fala de Putin por parte de diferentes grupos protetores da comunidade LGBT é mais homogênea.

Assim, Maria Eduarda Aguiar, advogada, ativista transexual e presidente do Grupo Pela Vidda, até chegou a dizer ser "assustador" ter países como a Rússia.

"Quem conhece a Rússia sabe que lá há um grande preconceito contra a população LGBT. É lamentável, mas não é surpresa esse tipo de declaração [...] É bem assustador você ter um país como a Rússia e saber que é até perigoso a gente ter que viajar para lugares assim. Foi uma declaração completamente lamentável do Sr. Vladimir Putin", disse.

A ativista pensa que os gays também são capazes de cuidar dos filhos, mesmo que estes não sejam concebidos de forma biológica.

"É mais um reflexo do preconceito. Casais LGBT que não podem ter filhos de forma biológica adotam muitas crianças e cuidam muito bem delas. Acredito que para criar uma criança só precisa você ter amor e ter vontade de criar um filho ou uma filha. Na minha opinião, não há necessidade de ser um casal hétero. Isso não vai fazer diferença. Essa fala dele é reflexo também da discriminação e do preconceito que existe em relação às pessoas LGBT."

© AP Photo / Esteban FelixBandeira LGBT
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Bandeira LGBT

Júlio Moreira, ativista e diretor do Grupo Arco-Íris, disse à Sputnik que a Rússia está indo contra avanços da "sociedade civilizada", conquistados nos últimos anos.

"Lamento, porque a Rússia é um país importante no cenário internacional, com uma influência muito grande e está indo contra toda a história e todos os avanços que a sociedade civilizada vem tendo nos últimos anos", afirmou.

Já Toni Reis, presidente da Aliança Nacional LGBTI+, afirmou sentir pelo povo russo, argumentando que uma sociedade deve ser avaliada pelo tratamento das minorias.

"Eu sinto muito pelo povo russo. Com certeza ele [Putin] não tem essa sensibilidade de perceber que uma sociedade deve ser julgada pelo tratamento que dá às minorias. Nem sempre as maiorias têm que impor o seu gosto, o seu tipo", falou.

"Se você não é gay, você não precisa aceitar ou não aceitar. Acho que é só respeitar a questão da cidadania e da dignidade humana", completou o ativista.

Palavra de pastor

A Sputnik Brasil pediu também a opinião de César Carreira, pastor da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, em Brasília.

O pastor apoiou a declaração de Putin. Carreira alegou que "ninguém nasce gay", citando um estudo de Harvard. 

"[Vladimir] Putin, como cristão ortodoxo, respalda os ensinamentos bíblicos. Concordo com a declaração do presidente, é comprovado cientificamente que ninguém nasce gay, é uma questão de escolha, por isso não podemos legalizar [...] No ano passado, um estudo de Harvard pesquisou o comportamento de 475 mil pessoas e concluiu que não existe um gene gay, é uma questão comportamental."

César Carreira citou também a decisão da Corte Europeia de Direitos Humanos, em Estrasburgo, de que "nenhuma nação era obrigada a aceitar o casamento gay".

O pastor admitiu que antes existiriam preconceitos contra os homossexuais no Brasil e no exterior, porém, nos dias de hoje isso mudou.

"De uns tempos para cá, começou um discurso contra o preconceito que os homossexuais sofrem, não só no Brasil como em outras nações. O que é uma verdade, ocorria esse preconceito. Só que isso mudou. Hoje as pessoas estão sendo apoiadas a incentivar a prática homossexual, a gente vê isso nas escolas. Professores que ao invés de aplicar a matéria abrem esse tipo de debate para incentivar as pessoas."

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