Início de guerra inacabável: como vinha se tornou lugar de fuzilamento no Afeganistão

© AP Photo / Allauddin KhanVida cotidiana em Kandahar, Afeganistão
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Com o começo dos ataques aéreos dos EUA no Afeganistão em 2001 contra posições de militantes no país, os civis estavam esperançosos que a guerra pudesse acabar. Mas isso não aconteceu.

Até hoje os habitantes locais sofrem as consequências da guerra, que até então não há perspectivas de término.

O camponês Nagahan do povoado Arghandab (província de Kandahar), localizado no sul do Afeganistão, sobreviveu aos ataques de 7 de outubro de 2010.

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Era o quarto dia da festa muçulmana do Sacrifício. Às 9 da manhã, Mahommad Nagahan, de 27 anos, apesar de ser feriado, estava trabalhando na vinha perto da sua casa. Familiares e amigos estavam ao seu redor, quando de repente começaram os ataques dos bombardeiros. Explosões de mísseis dominaram a área, até então nunca atacada. Depois de três horas, ele e outros sobreviventes, cobertos de sangue e cercados pelos mortos, foram levados ao hospital do “polígono de fuzilamento”.

Mesmo em seu pior pesadelo, Mahommad nunca tinha chegado a imaginar que a sua vinha chegaria a se tornar um polígono de fuzilamento. No seu local de trabalho, ele perdeu ambas as pernas.

"Eu ainda escapei facilmente", disse em entrevista à Sputnik Dari.

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No ataque aéreo de 7 de outubro de 2010, morreram 13 compatriotas de Mahommad e outros 16 ficaram seriamente feridos. A maioria das vítimas eram primos, primas e amigos dele. 

Seis anos se passaram. Os ferimentos ainda doem. Após passar um ano no hospital, Mahommad disse que perdeu muito sangue e que, por falta de dinheiro, não fez cirurgias que deveriam ter sido feitas. Ele continua tomando anestésicos.

O entrevistado lembra que, logo após o bombardeio, a chefia das Forças Armadas dos Estados Unidos admitiu que a iniciativa de lançamento de bombas contra civis foi um erro, pediu desculpas e prometeu prender os pilotos responsáveis pelos ataques e cobrir os gastos das despesas médicas, durante três meses, das vítimas. A promessa de ajudar as vítimas não foi cumprida até hoje.

"Eu só sei que eles não cumpriram suas obrigações referentes a nós. Eles jogaram um pouco com a gente e nos abandonaram à própria sorte. O ataque aéreo destruiu todos os nossos pertences: plantações, casas, instrumentos", contou.

O entrevistado foi obrigado a se mudar de sua aldeia para Kandahar. Trabalhou por um tempo como alfaiate e depois abriu uma pequena padaria, de onde tira o sustento para alimentar seu pai e irmão mais novo. Trabalhar se tornou uma prática difícil para Mahommad, pois agora ele só tem metade do corpo.

© Foto / Kasra RouyeeMahommad Nagahan
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Mahommad Nagahan

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