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Indígena russa lança livro no Brasil e defende formação de advogados índios

ENTREVISTA COM ALEXANDRA GRIGORIEVA 2 DE 27-10-15 e
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Aleksandra Grigorieva, indígena que vive no extremo norte da Rússia, tem 75 anos e veio ao Brasil para participar dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, no Estado de Tocantins. Lá ela lançou seu livro, uma obra ricamente ilustrada e que estuda a cultura de etnias do mundo inteiro.

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Os Jogos tiveram início na cidade de Palmas na sexta-feira (23) e se estendem por 13 dias, reunindo mais de 2 mil atletas indígenas de 23 países, que se juntam a mais de 24 etnias brasileiras.

O torneio conta com 16 modalidades esportivas indígenas e, paralelamente, com diversas manifestações culturais que têm o objetivo de celebrar a diversidade, a cultura nativa e as tradições de Tocantins e do mundo.

Nessa programação cultural, um dos destaques é a participação de Aleksandra Grigorieva, pós-doutora em Antropologia, estudiosa dos costumes indígenas e uma das incentivadoras dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas. Ela falou com exclusividade à Sputnik Brasil sobre seu livro, a diversidade étnica e as heranças culturais dos povos do mundo.

Sputnik: Qual a importância deste evento realizado em Palmas, no Estado de Tocantins?

Aleksandra Grigorieva: Todos os anos eu participo do Fórum Mundial de Povos Indígenas. São 370 milhões de indígenas no mundo todo. No Fórum de 2010 eu coloquei a questão: por que não existem Jogos Olímpicos Indígenas? Essa foi uma ideia minha. Em 1972, em Munique, Roman Dmitriev foi o primeiro representante de uma minoria nativa da Rússia a se tornar campeão olímpico de luta-livre. Então, com inspiração nele, tive essa ideia. Em 2012, no Canadá, queriam realizar estes jogos, mas em função da crise, isso não aconteceu. E agora esses jogos estão sendo realizados no Brasil, o que me alegra muito, pois o meu sonho se realizou. Isso é histórico. E o presidente do seu país é uma mulher, e pela primeira vez uma mulher está organizando um evento desse.

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S: Também estamos felizes de recebê-la aqui. Por que a senhora escolheu o Brasil para lançar o seu livro? Nesta sua obra há alguma parte dedicada aos índios brasileiros?

AG: No mês de abril aconteceu o 14.º Fórum Mundial de Povos Indígenas, e os representantes indígenas brasileiros sempre foram os mais ativos. Foi por isso.

S: Como foi a sua formação?

AG: Eu sou de uma região do extremo norte, na Sibéria. O povo que vive lá é formado por 1.000 a 1.500 pessoas. Eu nasci num povoado pequeno assim, na tundra, e consegui chegar até o Brasil de vocês. Depois eu fui para Yakutsk, concluí a universidade e logo senti mais sede de conhecimento. Fui para Moscou, onde escrevi a dissertação sobre a medicina tradicional dos povos do Extremo Oriente Russo.

S: O que a senhora acha que existe em comum entre os indígenas brasileiros e os indígenas russos?

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AG: Como as etnias brasileiras falam a língua delas e nós não temos tantos tradutores aqui em Tocantins, eu ainda estou vendo e estudando, e depois poderei contar com mais exatidão para vocês. Mas tenho observado que temos muito em comum com os indígenas locais. Por exemplo, no dia 21 de junho eles celebram o solstício, assim como nós celebramos na mesma data as noites brancas. Se eu morasse mais tempo aqui, iria descobrir mais semelhanças desse tipo, e poderia comparar. Mas até agora eu ainda tive pouco contato.

S: A possibilidade do desaparecimento dos povos nativos é um motivo de preocupação?

AG: Sim, mas agora, com a organização permanente dos Fóruns Mundiais de Povos Indígenas, começaram a surgir também as leis protetoras. Recentemente foi elaborada uma declaração, a Carta dos Povos Indígenas do Mundo, na qual eu sou autora de um artigo, o 24, que trata de medicina popular.

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S: Que herança cultural indígena pode ser transmitida para as futuras gerações?

AG: Idioma, cultura. Eu fiquei muito feliz com os indígenas canadenses, que agora estudam o próprio idioma. E os povos russos também começaram a estudar os próprios idiomas. Alguns povos têm conseguido elevar para um nível totalmente novo o estudo dos próprios idiomas e culturas. Eu viajei muito pela Rússia e vi que muitos povos indígenas têm um conhecimento de altíssimo nível, muitos deles com educação superior. Aqui eu perguntei para as pessoas e elas não têm esse nível de educação.

O mais importante que eu tenho para falar é que os povos indígenas precisam ter advogados formados que sejam desses povos. Justamente para desenvolver a legislação para defender os seus interesses e os interesses dos povos indígenas do mundo.

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