No entanto, nas últimas semanas, funcionários destes veículos de imprensa baseados em Moscou estão entrando na fila para receber a "maligna" vacina russa.
Relatos pessoais de correspondentes que vivem em Moscou
Na sexta-feira (8), Andrew Kramer, correspondente do jornal americano The New York Times, revelou ter tomado a primeira dose da vacina Sputnik V, enaltecendo "a boa-fé dos cientistas russos por continuarem a longa e histórica prática de desenvolvimento de vacinas", e acrescentando que Moscou foi até capaz de evitar alguns problemas logísticos que estão ocorrendo no Ocidente.
"Os especialistas ocidentais se concentraram maioritariamente na questionável rápida aprovação [da vacina] e não no seu design, que é semelhante ao das vacinas produzidas pela Universidade de Oxford e pela [farmacêutica] AstraZeneca", afirmou Kramer. De igual modo, outro correspondente do jornal The New York Times em Moscou, Anton Troyanovsky, admitiu ter tomado a vacina.
“The politicized rollout only served to obscure the essentially good trial results — what appears to be a bona fide accomplishment for Russian scientists.”@AndrewKramerNYT on why he — like many journalists, including me — got the Russian shot: https://t.co/hyZ5RHNpOl
— Anton Troianovski (@antontroian) January 9, 2021
"O lançamento politizado só serviu para obscurecer os resultados essencialmente bons dos testes – o que parece ser uma conquista de boa-fé para os cientistas russos."
Andrew Kramer (The New York Times) conta por que ele - como muitos jornalistas, inclusive eu – tomou a vacina russa.
Na semana passada, a agência Bloomberg lançou um artigo positivo sobre a vacina russa, escrito pelo analista farmacêutico Sam Fazeli, que notou que "a Sputnik V poderá ser uma forte candidata tal como as vacinas criadas em laboratórios ocidentais", com uma eficácia de mais de 90%.
No geral, veículos de imprensa ocidentais tiveram uma reviravolta em sua percepção da Sputnik V. Por exemplo, a agência estatal alemã Deutsche Welle também adotou um tom menos crítico, por meio do jornalista Sergey Satanovsky elogiando a logística na distribuição da vacina russa. Em particular, pontuou que o médico responsável por aplicar a vacina nele deu um documento de 16 páginas sobre o medicamento.
Sputnik V no Hemisfério Sul: caso do Brasil
Na quarta-feira (13), o Fundo Russo de Investimentos Diretos (RFPI, na sigla em russo) informou que dez milhões de doses da vacina Sputnik V contra a COVID-19 seriam disponibilizadas ao Brasil no primeiro trimestre de 2021, planejando a entrega de 150 milhões de doses do imunizante ao país sul-americano até o final deste ano.
Como parte da parceria com a União Química, o RFPI vai facilitar a exportação de tecnologia da Sputnik V para o Brasil, incluindo fornecimento de documentos e biomateriais. Por sua vez, produção da Sputnik V já foi iniciada no Brasil neste mês.
Foi também informado que um grupo de cerca de 20 brasileiros, que trabalham na Embaixada da Rússia no Brasil, já está sendo vacinado com a Sputnik V.
'De volta' à Rússia
A reviravolta dos veículos de imprensa ocidentais em relação à Sputnik V não passou despercebida na Rússia. Na terça-feira (12), o jornal Kommersant de Moscou publicou um artigo sobre a mudança de atitude, declarando que a "Sputnik entrou em órbita".
"Nas últimas semanas, artigos neutros ou mesmo positivos sobre a vacina russa Sputnik V apareceram em vários meios de comunicação ocidentais", segundo artigo. "Antes disso, o tom da cobertura das conquistas da Rússia na luta contra o coronavírus era predominantemente crítico."
Para os russos, as razões da crítica estrangeira à Sputnik V são claras: dinheiro e xenofobia. Porém, tanto para os correspondentes ocidentais quanto para os cidadãos russos, quando sua saúde está em risco, não importa de onde vem a vacina – se funciona, funciona.