Analista: conclusões de Putin em discurso na conferência de Munique permanecem atuais

© AFP 2023 / DON EMMERTPresidente russo Vladimir Putin faz discurso na 70 sessão da Assembleia Geral da ONU, 28 de setembro de 2015
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Há 10 anos, o presidente da Rússia Vladimir Putin falou numa conferência europeia anual de segurança em Munique com o seu famoso discurso sobre as perspectivas de desenvolvimento da política internacional.

O discurso foi dedicado à crítica da política de manutenção de um mundo unipolar pelos EUA e de imposição dos seus valores a outros países. Será que estas conclusões continuam atuais? O analista militar Vasily Kashin dá à Sputnik uma resposta a esta questão.

"Há 10 anos, o presidente da Rússia na conferência em Munique chamou atenção para a transição dos EUA e seus aliados para uma política unilateral de força, o que provoca uma corrida aos armamentos e a proliferação das armas nucleares", comunicou à Sputnik China o analista Vasily Kashin, acrescentando que já naquela época Putin avisou EUA do fracasso da sua estratégia e exortou à criação de um novo sistema de segurança global com base no equilíbrio de forças no mundo.

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Este discurso foi proferido em outra época histórica, antes do início da crise de 2008, mas os EUA, apesar dos sinais da crise, mantiveram a confiança nos seus princípios.

"A política unilateral de hegemonia dos EUA levou à desestabilização da ordem mundial, à sobrecarga das forças e ao aprofundamento da crise nos próprios EUA", acredita Kashin.

Mas já em 2008 a Rússia tinha realizado um forte ataque à hegemonia dos EUA, obrigando a Geórgia, que era apoiada por Washington, a manter a paz após seu ataque contra o território da Ossétia do Sul e as forças pacificadoras russas. Após isso, a parceria com os EUA deixou de ser uma garantia da defesa. 

"A posição russa sobre as questões da futura ordem mundial, incluindo o discurso de Putin em Munique, não foi levada a sério. Isso se deveu em muito ao dogma popular nos EUA que classificava a Rússia como um país em decadência", adianta Kashin.

A política dos EUA em relação à Rússia se baseia, desde os anos noventa, no postulado de que a Rússia se encontra em situação de declínio constante e que os seus avanços políticos e demonstração da força são temporários, por isso os EUA apenas têm que conter a Rússia em várias frentes e o problema irá se resolver.

© AFP 2023 / Savo PRELEVICOutdoor com foto de Vladimir Putin e Donald Trump
Outdoor com foto de Vladimir Putin e Donald Trump - Sputnik Brasil
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Mas qual é a realidade? O analista político acrescentou que, apesar do desenvolvimento da Rússia no século XXI em todos os setores, a tese de "declínio" da Rússia não é questionada. Foi isso que, segundo o analista, tornou o alcance de um compromisso impossível e predeterminou uma série de crises futuras, que influenciaram negativamente a imagem dos EUA no mundo.

Rússia perturbou as intenções dos EUA na Síria em 2012 e reagiu eficazmente ao apoio dos EUA a Kiev, conta Vasily Kashin. O ponto crucial do conflito sírio, a cidade de Aleppo, foi reconquistada em 2015 com apoio da Rússia.

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Entretanto, acrescenta o analista, a Rússia não tem intenções de concorrer com os EUA, a Rússia só quer alcançar um sistema equilibrado nas relações com os outros países.

"Quero acrescentar que tudo o que o presidente russo criticou na conferência de segurança de Munique em 2007, isto é, o problema da expansão da OTAN no Leste da Europa, a política unilateral e a saída unilateral do Tratado sobre Mísseis Antibalísticos (ABM), todos estes problemas são atuais. Trump, sem dúvida, espera que as relações com a Rússia sejam melhoradas, mas a expansão da OTAN a leste e a política externa dos EUA são ainda questões problemáticas", comunicou à Sputnik China o diretor da Universidade das Relações Exteriores e Desenvolvimento Regional da China Feng Shaolei, acrescentando o posicionamento de tropas da OTAN perto da Rússia e o reforço do sistema de defesa antimíssil dos EUA.

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Feng Shaolei acrescentou também que, já em 2007, o presidente da Rússia Vladimir Putin tinha identificado todos estes problemas, mas eles continuam permanecendo sem alterações.

"Em minha opinião, as teses, destacadas no discurso de Putin na conferência da segurança em Munique em 2007, ainda continuam atuais hoje em dia. Passando 10 anos, as suas palavras não podem ser consideradas como desatualizadas", comunicou à Sputnik China o analista do Centro das Relações Exteriores da Universidade de Línguas de Pequim Jia Lieying.

O Analista acrescentou que Putin tinha criticado um mundo unilateral, apoiando as ideias de multipolaridade. Além disso, o presidente russo criticou o uso da força militar em relação a outros países, exortando todos os países a respeitarem os princípios da ONU.

Em ambiente de expansão ativa da OTAN e reforço de sua presença militar no Leste, os EUA continham o desenvolvimento estratégico da Rússia. Agora é possível acrescentar que isso foi o fator que intensificou gradualmente a oposição entre os países e influenciou negativamente a segurança regional e a situação em todo o mundo, por isso, segundo os analistas, o novo presidente dos EUA tem que recordar tudo o que foi dito por Putin há 10 anos, porque tudo isso ainda é atual.

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