Contenção de Rússia e China: para que serve presença dos EUA no Afeganistão?

© AP Photo / Rahmat GulAgentes das Forças de Segurança do Afeganistão e os soldados norte-americanos
Agentes das Forças de Segurança do Afeganistão e os soldados norte-americanos - Sputnik Brasil, 1920, 31.03.2021
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Autoridades norte-americanas não estão apressadas para retirar as tropas do Afeganistão, uma vez que consideram estrategicamente importante sua presença militar a fim de conter Rússia e China, contaram especialistas à Sputnik.

No final de fevereiro do ano passado, durante cerimônia no Qatar, os EUA e o movimento radical Talibã (organização terrorista proibida na Rússia) celebraram em mais de 18 anos de guerra o primeiro acordo de paz, que prevê a retirada de tropas estrangeiras do Afeganistão em 14 meses e o início de novo diálogo entre forças afegãs após o acordo de troca de prisioneiros. No entanto, na semana passada, o presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou que seria difícil realizar a retirada das tropas norte-americanas até 1º de maio, como é previsto pelo acordo realizado por Trump.

"No âmbito da estratégia dos Estados Unidos para privação do acesso de Rússia e China aos mercados de energia e controle destes mercados, bem como com objetivo de busca de aliados nas fronteiras meridionais da Rússia, é bem provável que os EUA estejam prontos para cooperar com o Talibã", disse à Sputnik a tenente-coronel reformada da Força Aérea dos EUA Karen Kwiatkowski.

Do seu ponto de vista, o atraso da saída das tropas permitirá que Washington pressione o Talibã, atinja suas metas e, como resultado de conversações "não militares", mantenha a presença militar norte-americana no Afeganistão.

Segundo o comentarista político Daniel Lazar, muitos governantes norte-americanos apoiam a ideia da manutenção da presença militar no Afeganistão a fim de utilizá-la no futuro para "destruição da unidade chinesa".

"Os Estados Unidos da América perderão posto avançado na Ásia Central, de onde podem influenciar os acontecimentos na vizinha Xinjiang [região autônoma uigur chinesa], e isso provoca preocupação nos estrategistas da CIA, já que a violação da integridade da China permanece sendo o objetivo final dos Estados Unidos", afirmou o especialista.

© REUTERS / Jim HollanderPôster "Talibã" no Afeganistão
Contenção de Rússia e China: para que serve presença dos EUA no Afeganistão? - Sputnik Brasil, 1920, 31.03.2021
Pôster "Talibã" no Afeganistão

Colapso está perto

A inteligência norte-americana, de acordo com informações midiáticas na semana passada, avisou Biden de que o Afeganistão ficará sendo controlado por talibãs e grupos terroristas, tal como Al-Qaeda (organização terrorista proibida na Rússia), se todas as tropas ocidentais saírem do território afegão antes da concretização de acordo de divisão do poder.

Segundo as palavras de Kwiatkowski, embora os EUA tenham trabalhado por quase 20 anos para criar um governo unificado no Afeganistão, o governo do presidente Ashraf Ghani cairá imediatamente se os "protetores" norte-americanos saírem.

"Se o governo existe, mas não possui poder ou influência nos territórios fora das fronteiras, é possível que seja um governo em desintegração. Trata-se, sem dúvidas, de pré-colapso", ponderou Kwiatkowski.

A tenente-coronel reformada da Força Aérea dos EUA adicionou que alguns funcionários afegãos teriam "muitos anos atrás retirado dinheiro do país e desenvolvido um plano eficiente de 'fuga'".

Por sua vez, Lazar considera que, graças à ajuda econômica norte-americana, a corrupção ganha força no Afeganistão, enquanto anos de ajuda militar deixaram forças afegãs mais debilitadas do que durante a União Soviética. Ainda assim, de acordo com Lazar, as consequências da possível retirada total das tropas americanas são preocupantes.

"Imaginem as consequências da saída dos Estados Unidos. O governo de Cabul desabaria assim como em 1992, o Talibã estabeleceria em vez disso algum califado, e o Daesh [organização terrorista proibida na Rússia], que, sem dúvida, se aproveita de grande financiamento da Arábia Saudita e de outros países do golfo Pérsico, também ganharia poder", concluiu Lazar.
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