O que está por trás das tensões criadas por Trump em relação ao Teerã na reta final de seu mandato?

© AP Photo / Carlos BarriaAs bandeiras nacionais dos EUA e do Irã
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Trump usa novas sanções contra o Irã alegando questões de direitos humanos para executá-las, mas na verdade, com essas ações, o presidente dificulta a remoção das sanções para o futuro governo.

O Departamento do Tesouro dos EUA atingiu a República Islâmica do Irã com novas sanções nesta quarta-feira (18), enquanto o Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, divulgava uma declaração intitulada "A Importância das Sanções contra o Irã", insistindo que desfazer as restrições anti-Teerã do governo Trump poderia ser "uma escolha perigosa".

As novas sanções têm como alvo a Fundação Mostazafan do Irã e cerca de 160 de suas subsidiárias supostamente ligadas ao Líder Supremo, o aiatolá Ali Khamenei, bem como ao Ministro da Inteligência do Irã, Mahmoud Alavi, e uma série de outras entidades. Tudo isto por supostas questões envolvendo os direitos humanos.

O que está por trás das novas sanções?

A ação do Tesouro dos Estados Unidos e do Departamento de Estado coincide com a eleição presidencial de 2020, na qual o ex-vice-presidente da gestão Obama, Joe Biden, vem sendo considerado como o provável vencedor da disputa. No entanto, Donald Trump não aceita a provável vitória de seu rival.

A campanha de Pressão Máxima contra o regime iraniano continua a ser eficaz. [A campanha] priva o regime de fundos para realizar suas atividades malignas. Reduzir essa pressão é uma escolha perigosa, destinada a enfraquecer novas parcerias regionais para a paz e fortalecer o regime.

"Claramente, o presidente Trump decidiu intensificar seus esforços contra o Irã anunciando [essas] sanções", comenta à Sputnik Internacional Nader Habibi, professor de Prática de Economia do Oriente Médio, no Centro Crown para Estudos do Oriente Médio da Universidade de Brandeis. "Para fazer isso, ele está renomeando algumas sanções, como sanções por violação dos direitos humanos, e violação de suas atividades antiterrorismo", disse Habibi. "Ambos tornam muito difícil para um futuro presidente remover [estas] sanções com ordem executiva."

O professor acredita que o presidente em exercício está tentando tornar muito mais difícil remover ou cortar as sanções anti-Irã no futuro.

Dr. Rasool Nafisi, analista do Irã e professor da Universidade Strayer, no estado americano da Virgínia, também prevê que a administração Trump está tentando criar um conjunto de medidas irreversíveis contra a República Islâmica.

© AP Photo / Alex BrandonTrump mostra a ordem executiva assinada que aumenta sanções contra o Irã, 24 de junho
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Trump mostra a ordem executiva assinada que aumenta sanções contra o Irã, 24 de junho

A restauração do acordo nuclear com o Irã pode acontecer?

Enquanto isso, reviver o Plano de Ação Conjunta Global (JCPOA, na sigla em inglês) de 2015, também conhecido como o acordo nuclear com o Irã, abandonado unilateralmente pelo governo Trump em maio de 2018, é considerado por Teerã como uma prioridade para lidar com qualquer governo dos EUA após as eleições presidenciais de 2020.

"Biden anunciou que tentará negociar com o Irã e encorajar o país a voltar ao acordo nuclear", destaca o professor Habibi.

Os EUA ainda são membros da ONU. Se cumprirem com suas obrigações conforme [a resolução] UNSCR 2231, [nós] cumpriremos as nossas conforme #JCPOA. Se os Estados Unidos quiserem se juntar novamente ao JCPOA, estamos prontos para negociar os termos para que eles [EUA] recuperem o seu status de "Participante do JCPOA".

Em 18 de novembro, o ministro das Relações Exteriores iraniano, Mohammad Javad Zarif, indicou que o Teerã retornaria ao seu compromisso total de 2015, desde que Biden suspendesse as sanções contra a República Islâmica após assumir o Salão Oval.

O ministro das Relações Exteriores iraniano acredita que, se eleito, Biden poderia suspender todas as sanções "com três ordens executivas".

© REUTERS / Jonathan ErnstJoe Biden acenando a repórteres após eleições presidenciais dos EUA disputadas com Donald Trump
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Joe Biden acenando a repórteres após eleições presidenciais dos EUA disputadas com Donald Trump

Na opinião do dr. Nafisi, os outros signatários do JCPOA saudariam o retorno de Washington aos acordos nucleares.

"Os aliados europeus, como você sabe, não ficaram nada felizes com Trump [...] E eles tentarão fazer todos os tipos de acordos com os Estados Unidos, inclusive com o Irã", disse o analista. "Os europeus não são realmente tão duros com o Irã, exceto pelos direitos humanos, [...] [e] tentarão apoiar o novo governo até certo ponto".

Uma das indicações de que essa suposição é correta é a forma como os países membros da ONU se recusaram a endossar a resolução de Washington de agosto de 2020, com o objetivo de estender o embargo de armas contra o Irã: "[O governo de Trump] não teve apoio nenhum", declara o acadêmico. "Foi o maior fracasso dos EUA".

Dois longos meses

Embora Joe Biden "tenha prometido agir rapidamente para se juntar novamente ao acordo nuclear com o Irã", retornar "ao modo como as coisas eram pode ser impossível", visto que Trump está intensificando as sanções contra a República Islâmica, e vendendo armas avançadas aos rivais do Irã, advertiu o New York Times na terça-feira (17). Como por exemplo os caças F-35, para os Emirados Árabes Unidos, para pressionar ainda mais o Irã, destaca Habibi.

"Acho que no Oriente Médio [Trump] ainda tem algumas opções para movimentos de surpresa que podem provocar um confronto com o Irã" sugere Habibi. "Por exemplo, um ataque militar contra instalações nucleares iranianas, ou um ataque cibernético, ou qualquer tipo de sabotagem que possa provocar uma resposta e causar instabilidade na região."

© AP Photo / Vahid SalemiMulher passa por muro grafitado da antiga embaixada dos EUA em Teerã, capital do Irã (foto de arquivo)
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Mulher passa por muro grafitado da antiga embaixada dos EUA em Teerã, capital do Irã (foto de arquivo)

Na semana passada, Donald Trump, supostamente, perguntou aos seus conselheiros sêniores sobre as potenciais opções para atacar a principal instalação nuclear do Irã, usando como justificação os relatórios do órgão atômico da ONU, informando que o estoque de material nuclear da República Islâmica havia aumentado significativamente, informou o Wall Street Journal em 16 de novembro.

No final, qualquer que seja o resultado dos processos eleitorais pendentes, a administração Trump estará no comando da política externa dos EUA por pelo menos dois meses. Durante este período, muita água pode rolar.
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