Сomo Irã pode retaliar contra EUA por meios não bélicos?

© AP Photo / Rich PedroncelliProtestos contra ações militares dos EUA no Irã, Califórnia, 9 de janeiro de 2020
Protestos contra ações militares dos EUA no Irã, Califórnia, 9 de janeiro de 2020 - Sputnik Brasil
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Apesar da opção de Trump pelo agravamento das sanções econômicas em detrimento da intervenção militar, especialistas advertem que Irã pode ripostar usando meios não bélicos.

Teerã pode agravar deliberadamente o conflito. O resultado seria o colapso das bolsas americanas e uma recessão global. Esta previsão foi feita por um dos principais economistas do mundo, Nouriel Roubini. Será que este cenário pode ser real?

O recuo de Trump

Logo o após o assassinato pelos norte-americanos do general iraniano Qassem Soleimani na noite de 3 de janeiro, Teerã passou a considerar o Pentágono como organização terrorista. Mas a reação iraniana não ficaria por aqui. Logo em seguida, o Irã anunciou sua intenção de sair completamente do acordo nuclear alcançado em 2015 e exigiu a retirada total dos EUA do Oriente Médio.

A reação iraniana culminaria com o disparo de dezenas de mísseis sobre diversas bases americanas no Iraque. Pareceu então ser inevitável um confronto bélico em grande escala entre os dois países. Contudo, Trump optaria por prometer um agravamento das sanções econômicas ao invés de uma intervenção militar.

"Nenhum americano ficou ferido devido aos ataques iranianos. Nós não sofremos nenhumas perdas. Todos os nossos soldados estão bem e nossas bases militares sofreram danos mínimos", disse Trump, acrescentando que o Irã agora "parece estar se retraindo, e isso é bom para todos os envolvidos".

Contudo, o Comando Central dos EUA reconheceria mais tarde que 11 militares norte-americanos tinham sido feridos durante os ataques de mísseis iranianos. Apesar disso, a Casa Branca manteria sua posição inicial.

Comentadores políticos não deixaram de notar e realçar a contradição desta opção de Trump, pelo agravamento das sanções econômicas, com as declarações belicistas proferidas logo após o assassinato do general, ao ameaçar destruir os poços de petróleo e locais culturais iranianos.

As ondas de choque econômicas do assassinato

A morte de Qassem Soleimani e a retaliação militar do Irã contra bases americanas no Oriente Médio fizeram disparar os preços do petróleo e dos metais. Em meados de janeiro, o Brent atingiu os US$ 71,5 por barril, enquanto o preço do ouro bateu o recorde dos últimos sete anos.

As bolsas mundiais também reagiram negativamente aos acontecimentos, tendo os índices das bolsas dos EUA, Europa e Ásia entrado todas elas em baixa.

Uma vez assente a poeira, a crença manifestada pelos analistas em como Washington e Teerã se absteriam duma escalada do conflito provocou uma subida recorde do índice do fundo de ações S&P 500. Os investidores convenceram-se que a nenhuma das partes em liça conviria um agravamento da contenda e mesmo que tal

Consequências de retaliação iraniana

Esse otimismo é rechaçado pelo mundialmente famoso especialista norte-americano em finanças internacionais Nouriel Roubini. Ele garante que o Irã não só possui meios para agudizar a crise, como também tem motivos para fazê-lo. E alertou que o resultado seria o disparo dos preços do petróleo, uma recessão à escala mundial e, eventualmente, uma mudança de poder nos EUA.

Roubini é da opinião que os mercados ainda não se deram conta da gravidade da situação. Os EUA, nos dias de hoje, estão muito menos dependentes do petróleo importado. No entanto, basta um aumento repentino do preço do barril, mesmo que não seja muito acentuado, para provocar uma depressão econômica, como aconteceu em 1990. Roubini considera a atual abordagem do mercado como ingênua e totalmente ilusória. É que o risco de uma estagnação do crescimento, ou mesmo de uma recessão global, é agora muito maior.

O especialista alerta ainda para o fato que mesmo um pequeno aumento do preço do óleo cru faria cair o mercado de ações dos EUA pelo menos 10%, o que significaria um duro golpe na confiança dos investidores, dos empresários e dos consumidores.

O choque petrolífero atingiria o poder de compra das famílias americanas, reduziria a demanda interna e se refletiria negativamente na economia dos EUA.

As ondas de choque atingiriam igualmente os grandes importadores de petróleo, como o Japão, China, Índia, Coreia do Sul e Turquia. Os bancos centrais não iriam poder aumentar as taxas em resposta ao crescimento das cotações do petróleo, tendo já esgotado todas as opções que tinham de sua redução, refere Roubini em um artigo publicado no Project Syndicate.

O choque atingiria ainda outros mercados, que poderiam cair 20%. No cômputo final, aconteceria uma severa estagnação da economia mundial, segundo o especialista.

Roubini conclui que, apesar de tudo, a probabilidade de uma guerra em larga escala no futuro imediato por enquanto permanece baixa, de 20%, na opinião dele, enquanto as chances de simplesmente se voltar ao cenário anterior ao assassinato são ainda menores, de cerca de 5%. O mais provável é que a situação se agrave, com conflitos indiretos e confrontos diretos que aumentariam o risco de uma guerra em larga escala.

Os trunfos na manga do Irã

Os iranianos poderiam usar o trunfo que representa o estreito de Ormuz. O estreito de Ormuz, um canal que conecta o golfo Pérsico e o oceano Índico, é uma das principais rotas mundiais de comércio. Entre 30% a 40% da produção mundial de petróleo é escoada por ele. Qualquer coisa que aconteça por ali se reflete no preço do petróleo, afetando de imediato a economia do mundo todo.

Por isso, e segundo dados avançados por um dos maiores bancos americanos de investimento, o JP Morgan, um bloqueio, por exemplo, de 6 meses do estreito de Ormuz faria disparar o preço do barril para US$ 150, criando condições para uma recessão mundial. Mesmo que o bloqueio se resumisse a um mês, a cotação do petróleo atingiria os US$ 80.

Conflito não traria nada de bom

"Os rendimentos dos títulos obrigacionistas diminuíram, o rali observado no mercado acionário americano estagnou, os investidores fogem para moedas tidas por mais seguras, como o iene japonês", garantem os gestores de ativos financeiros do banco francês Société Génerale.

"Este conflito pode ocasionar um golpe irreversível na confiança do mercado na recuperação da economia mundial, situação que está sendo agravada com a guerra comercial entre os EUA e a China", asseguram especialistas do banco Crédit Agricole, também francês.

"Um forte agravamento da situação no Oriente Médio conduzirá ao colapso dos mercados mundiais de capitais bem como daquele que é considerado o barômetro da economia americana – o índice de ações S&P 500. Como resultado, o preço do petróleo Brent quebraria a marca de US$ 50, afetando significativamente o mercado acionário russo e a cotação do rublo. Neste cenário, o orçamento russo se beneficiaria enormemente das reservas acumuladas em 2019", prevê Aleksander Razuvaev, chefe do Centro de Informação Analítica Alpari.

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