Turquia 'fez xeque-mate' a Grécia e Chipre no Mediterrâneo Oriental, dizem especialistas

© REUTERS / Murad SezerNavio de perfuração turco Yavuz no Mediterrâneo Oriental, ao largo do Chipre (foto de arquivo)
Navio de perfuração turco Yavuz no Mediterrâneo Oriental, ao largo do Chipre (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
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Segundo dois analistas turcos, o gasoduto EastMed não deve ter sucesso e a política turca, particularmente na Líbia, está privando a Grécia e a República do Chipre de influência no Mediterrâneo.

No início de janeiro, a Grécia, Chipre e Israel acordaram construir o gasoduto EastMed para trazer gás natural do campo Leviatã de Israel e do campo Afrodite de Chipre para a Grécia e, depois, para a Itália e os Bálcãs.

Falando sobre a política externa da Turquia, como o seu acordo com a Líbia sobre os campos de gás, o jornalista e analista político turco Sefa Karahasan disse que as atividades de Ancara poderiam privar a República do Chipre (o sul do país) e a Grécia de "todas as suas aquisições" na região.

Ele observou que os cipriotas gregos estão extremamente preocupados com a política externa "proativa" da Turquia, o que altera o equilíbrio de forças existente na região. Segundo o analista político, o acordo entre a Grécia, Israel e o Chipre sobre a construção do gasoduto EastMed "é o resultado da preocupação destes países e do seu desejo de tomar medidas diplomáticas contra a Turquia, que na realidade lhes fez xeque-mate através do seu acordo com a Líbia".

Karahasan salientou que a implementação do projeto do gasoduto EastMed é extremamente improvável, e que os países que o apoiam estão cientes disso.

"Na verdade, tanto Israel, como o Sul de Chipre e a Grécia sabem que a probabilidade de implementar este projeto é insignificante. A cerimônia urgente de assinatura do acordo do gasoduto EastMed está ligada ao desejo destes países de responderem demonstrativamente ao acordo de delimitação da fronteira marítima entre a Turquia e a Líbia. Em maior medida, foi apenas um evento de demonstração. Por exemplo, a Itália compreende isto, e por isso nem sequer participou da cerimônia de assinatura".

"O projeto EastMed requer um investimento de US$ 15-20 milhões (R$ 62,7-83,4 bilhões) para gerar US$ 10 bilhões (R$ 41,8 bilhões) de renda. Hoje, quando o equilíbrio de poder está mudando ativamente no Mediterrâneo Oriental, a probabilidade de sua implementação é quase zero", disse Karahasan.

Segundo Sefa Karahasan, nenhum país da região poderia ter previsto as ações da Turquia na Líbia.

Relações com a Líbia

"É óbvio que, tendo assinado um acordo com a Líbia, a Turquia mudou radicalmente o alinhamento de forças no Mediterrâneo Oriental, e, na verdade, acabou por aplicar um xeque-mate aos atores regionais". Os cipriotas gregos estão tentando dar alguns passos, junto com Israel e o Egito, com os quais a Turquia tem relações tensas.

"No entanto, ao acordar gradualmente com outros países da região, a Turquia continuará o processo iniciado pelo seu acordo com a Líbia", continua Sefa Karahasan.

"As medidas diplomáticas que a Turquia venha a tomar poderão privar a parte grega de Chipre e a Grécia das suas atuais posições na região. É claro que a situação está causando grande preocupação para o Sul de Chipre".

"Entretanto, há desacordos entre Israel e a comunidade cipriota grega sobre os direitos de operar o campo de Afrodite. Dada esta situação, se a Turquia conseguir superar as tensões com os países da região, terá a possibilidade de formar uma posição completamente diferente na região", explicou o especialista.

Por sua vez, Faruk Logoglu, ex-diplomata e ex-embaixador turco em Washington, observou que, apesar do significado do acordo de delimitação da fronteira marítima turco-líbia, este "passo tardio deve ser complementado não só por uma componente militar, mas também por uma componente diplomática".

Política turca no Mediterrâneo

Por esta razão, de acordo com Logoglu, a Turquia deve se sentar à mesa de negociações com os países da região o mais rápido possível, começando pelo Egito.

"O que a Turquia está fazendo hoje para proteger seus direitos legais? Ela lançou operações de perfuração no Sul de Chipre, mas sob a proteção da Marinha turca. É bastante natural que às vezes seja necessário fazer valer os seus direitos através do poderio militar; mas neste caso, a Turquia foi forçada a fazê-lo porque não tinha usado métodos diplomáticos".

"A situação aqui poderia ter sido diferente; a política atual está errada, pois é tardia. Se você tentar descobrir exatamente onde os erros foram cometidos, vale a pena começar com o estabelecimento de relações com o Egito e Israel", disse o jornalista.

"As oportunidades que a Turquia pode oferecer aos países do Mediterrâneo Oriental, Síria, Palestina, Líbano, Israel e Egito, excedem em muito os recursos que a Grécia e o Sul de Chipre podem oferecer a eles. Se a Turquia perceber isso, será capaz de proteger seus direitos e interesses através da diplomacia, e não pela força", concluiu.

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