Análise: o que está por trás das declarações dos EUA sobre derrota do Daesh?

© AFP 2023 / DELIL SOULEIMANForças dos EUA na Síria (foto de arquivo)
Forças dos EUA na Síria (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
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Os combatentes apoiados pelos EUA no leste da Síria declararam a vitória militar final sobre os terroristas do Daesh (organização terrorista proibida na Rússia). A Agência Sputnik discutiu com especialistas o que pode estar por trás dessas declarações.

Na quinta-feira, a mídia curda informou que as Forças Democráticas da Síria (FDS) libertaram completamente Baghouz, a última cidade que o Daesh detinha no sudeste da Síria, mas depois desmentiram estes dados. A porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders declarou no dia seguinte que a Síria está 100% "limpa de terroristas do Daesh".

Boris Dolgov, especialista do Centro de Estudos Árabes e Islâmicos da Academia de Ciências da Rússia, disse à Sputnik que os combates continuam. Dolgov explicou que as declarações dos EUA e das SDF têm um caráter de propaganda e autopromoção, pois a ideologia do grupo terrorista ainda persiste. O renascimento do Daesh, disse, é possível em algumas áreas.

"Tais declarações sobre a vitória completa sobre o Daesh são feitas pelos americanos e pelas FDS, mas é necessário dizer, em primeiro lugar, que o Daesh como estrutura político-militar terrorista foi suprimida e derrotada pelo exército do governo sírio com o apoio da Força Aeroespacial da Rússia", — disse Dolgov em uma entrevista com a Sputnik.

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Ele explicou que agora algumas unidades do Daesh ainda existentes em diferentes partes da Síria foram derrotadas, é isso que as FDS e os EUA estão anunciando. "Mas dizer que Daesh está completamente derrotado na Síria ainda é prematuro, na minha opinião, porque ainda existem unidades "adormecidas" do Daesh.

Em segundo lugar, essas declarações são, em muitos aspetos, propagandísticas e têm um caráter de autopromoção, para apresentar o lado americano e as FDS como os principais vencedores do Daesh", acrescentou o especialista.

Ao mesmo tempo, Dolgov sublinhou que a ideologia do grupo ainda existe não só na Síria, mas também no Afeganistão e mesmo na Europa. Segundo ele, os ataques terroristas na Europa significam que as forças residuais do Daesh podem aparecer em algumas zonas da Síria se existirem as condições neсessárias.

Outro especialista, professor do Departamento de Ciência Política da Escola Superior de Economia da Rússia, Grigory Lukyanov, explicou que as recentes declarações são políticas e ajudam o líder americano Donald Trump a ganhar pontos para o seu programa eleitoral.

Lukyanov observou que hoje o Daesh está transformado em análogo da Al-Qaeda (organização terrorista proibida na Rússia), com a qual o grupo rompeu relações em 2014. Segundo ele, é impossível lutar contra o Daesh somente "no campo de batalha", e dizer que o Daesh "foi 100% derrotado" significa apenas fazer declarações políticas.

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"Isto é o que a administração Trump e o próprio presidente Trump estão realizando. Suas declarações quanto à vitória sobre o Daesh são os chamados "pontos" em seu programa eleitoral. Se ele não disser que obteve uma vitória convincente sobre o Daesh, ninguém acreditará que ele está cumprindo suas promessas eleitorais", disse ele.

Lukyanov observou que, depois do ataque terrorista na Nova Zelândia, depois de várias declarações, inclusive sobre Israel, esta é outra declaração que se encaixa na lógica de Trump, mas não na lógica da luta real contra o terrorismo.
Os EUA e seus aliados realizam uma operação contra o Daesh na Síria e no Iraque desde 2014, sem o consentimento das autoridades oficiais do país. Em dezembro passado, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou a retirada das tropas da Síria.

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