'Sempre precisam de inimigo': por que presença chinesa na África causa histeria americana?

© AP Photo / Greg BakerPresidente da Comissão da União Africana Moussa Faki Mahamat, à esquerda, posa ao lado do ministro chinês das Relações Exteriores, Wang Wi, à direita. Encontro aconteceu em Pequim, no dia 8 de fevereiro de 2018.
Presidente da Comissão da União Africana Moussa Faki Mahamat, à esquerda, posa ao lado do ministro chinês das Relações Exteriores, Wang Wi, à direita. Encontro aconteceu em Pequim, no dia 8 de fevereiro de 2018. - Sputnik Brasil
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O Comitê de Inteligência da Câmara dos Representantes dos EUA estudará as tentativas da China de aumentar sua presença econômica e militar na África. De acordo com o presidente do comitê, Devin Nunes, os investimentos chineses na economia dos países africanos podem fazer com que Pequim reforce sua influência no comércio internacional.

A Sputnik Internacional falou sobre essa situação com Ian Taylor, especialista em relações internacionais da Universidade de St. Andrews, que também é professor da Escola de Estudos Internacionais da Universidade Renmin da China.

Explicando por que os EUA estão altamente preocupados com a crescente presença da China na África, o professor assinalou que Washington tem medo de perder sua influência nesta região, já que ainda desde os anos 60, o Ocidente passou a considerar a África como zona de sua influência. 

"Sendo assim, quando a China ou qualquer outro país começa a reforçar seus laços econômicos e políticos com a África, eles [EUA] ficam altamente alarmados". 

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Para cientista, este processo vem acontecendo desde o início dos anos 2000, quando Pequim começou a intensificar os laços com os países africanos, o que resultou no crescimento da troca de bens e desenvolvimento dos projetos de infraestrutura por todo o continente. Além do crescimento da presença econômica chinesa, houve a política, o que de acordo com Taylor, provocou "histeria" dos EUA.

O especialista ressaltou que o maior interesse da China na região é a economia, sendo esta exatamente a área onde os EUA têm medo de perder suas posições, assinalando que uma grande quantidade dos investimentos chineses na África foi realizada por pessoas privadas ou por empresas estatais, contudo, em nível provincial.

"É ridículo pensar que Pequim seja capaz de controlar a política dos países africanos […] A participação chinesa na economia dos países africanos não é coordenada e quase não é controlada. Os chineses tratam da África da mesma forma que trata todos os outros lugares, uma vez que a principal meta de seu negócio […] é obter lucro", destacou Taylor.

O analista explicou também qual é a diferença na percepção da África pelo Ocidente e por outros países.

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"No que se refere à África […] o presidente norte-americano considera que esses Estados não valem nem mesmo a pena ser mencionados. E depois vemos esta preocupação de Washington quanto à alegada conquista do continente pelos chineses, é um absurdo", afirmou Taylor.

"A verdade é que, a arrogância de um país, ter ouvido sobre as relações de outro país com um continente inteiro, tudo isso não tem nada a ver com os EUA", assinalou o professor, sublinhando que somente Trump age desta maneira.

Em vez de considerar a África como um lugar atrasado, que precisa de uma assistência urgente, tais países como a China, Índia, Brasil, Turquia, Rússia e Malásia encaram a África como uma plataforma para possibilidades, o que ecoa nos corações dos africanos, destacou.

"Esses laços que são baseados em, ao menos, nas tentativas de construir as relações de igualdade ou mutualmente benéficas, são muito mais atrativas para a maior parte dos países africanos do que aquele 'favor' que lhes proporcionam Paris, Washington ou Londres quando eles os visitam. Acho estranho que os políticos ocidentais ainda não entenderam que esse é o caminho a seguir", disse Taylor.

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Para mais, o especialista falou sobre as perspectivas para África em meio a crescente tensão entre a China e os EUA, que se agravaram devido à introdução das tarifas alfandegárias.

Taylor explicou que na África, além de poucos países do ocidente africano, os EUA não possuem uma forte presença econômica. Além disso, a colaboração com estes países africanos está também sendo diminuída, já que no momento, os Estados Unidos não precisam muito do petróleo africano, sendo esta a base, junto com recursos naturais, de suas relações com Washington. Sendo assim, dificilmente o aumento das tensões entre EUA e a China influencie diretamente na situação.

"Porém, o que veremos no futuro próximo é o crescimento da estridência quanto ao crescimento da histeria em torno da presença chinesa na região. Como se sabe, os políticos norte-americanos sempre precisam de um inimigo, e este inimigo muda constantemente […] No momento, o inimigo principal é a Rússia, pelo visto, a China é a seguinte nesta lista", frisou.

Ian Taylor ressaltou que para os EUA, trata-se de uma política habitual: em vez de construir boas relações na área da política e do negócio, eles precisam justificar o crescimento dos gastos orçamentais, já que a China e a Rússia servem muito bem para este objetivo.

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