'OTAN muçulmana' em sua forma atual está condenada ao fracasso, diz especialista

© AP Photo / Hassan AmmarCaças F-15 da Força Aérea da Arábia Saudita
Caças F-15 da Força Aérea da Arábia Saudita - Sputnik Brasil
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Um dos temas mais discutidos das últimas semanas é a criação da Aliança Militar Islâmica. A “OTAN muçulmana” consiste em 39 países do mundo islâmico e, pelo visto, tem potencial de virar o novo eixo de poder na região.

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Porém, a viabilidade do projeto é questionada por vários especialistas. O iraniano Farzad Ramazano Bonesh, especialista em política regional, comentou a situação para a Sputnik Persa.

Uma das razões para a repercussão na imprensa quanto à nova aliança muçulmana estaria ligada à nomeação do ex-general paquistanês, Raheel Sharif, ao posto de chefe da entidade.

Segundo Bonesh, há muito tempo, a Arábia Saudita tenta "contratar" um militar tão experiente e, portanto, a organização vem negociando com o alto oficial sobre seu futuro cargo.

"Durante os últimos anos, a Arábia Saudita está tentado a pôr o Paquistão contra o Iêmen para atrair os militares paquistaneses às filas do seu exército. No entanto, sendo membro da Aliança Militar Islâmica (IMAFT, sigla em inglês) encabeçada pelo Reino Saudita, Paquistão adotou uma postura relativamente imparcial no que diz respeito a essa questão", assegurou Bonesh.

O cientista político assinalou que, para os militares paquistaneses, a coalizão liderada por Riad parece mais um bloco pró-sunita contra xiitas do que uma aliança contra o terrorismo, já que a IMAFT não inclui Irá, Iraque e Síria.

No âmbito das negociações com os sauditas, Raheel Sharif declarou ser uma das condições a participação de Teerã da aliança e a mediação paquistanesa nas negociações entre Irã e Arábia Saudita.

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A ideia de criar seu próprio bloco militar estava sendo elaborada há muito tempo, pois Riad nunca gostou da ideia de o destino do Oriente Médio ser decidido por Washington, Londres e Moscou, frisa o analista.

O resfriamento das relações com Washington e as negociações entre EUA e Irã geram preocupação de Riad. Em 2015, ele finalmente cria o bloco islâmico para por fim a tal situação, ressalta Bonesh.

"A ideia da ‘OTAN muçulmana', desde seu início, pareceu ser uma quimera: os jogadores muito distintos, os objetivos muito diferentes e a falta de um inimigo comum. As declarações quanto à luta contra terrorismo apenas provocam sorriso, dado que vários membros do bloco indiretamente apoiam grupos terroristas e os usam para alcançar seus fins", afirmou o especialista iraniano.

Bonesh acrescentou que a eficiência da aliança é quase zero, enquanto vários participantes da aliança, até algum ponto, dependem economicamente de Riad, não podendo ser considerados como atores independentes.

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"Além disso, quaisquer que sejam os fins proclamados pela aliança, a luta contra terrorismo em particular, tudo isto parece muito engraçado e ingênuo", expressou o especialista.

Ao resumir, Bonesh afirmou que criando esta organização, a Arábia Saudita está perseguindo somente seus interesses e busca realizar sua agenda política através dos outros países muçulmanos.

"Neste sentido, seria errado dizer que esta aliança seja efetiva ou bem-sucedida nos termos de resolução de crises regionais", concluiu.

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