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China seguirá comprando soja do Brasil agora, mas esse cenário pode mudar, alerta especialista

© Foto / Pedro Revellion / Palácio Piratini / Fotos PúblicasColheita de soja no Brasil
Colheita de soja no Brasil - Sputnik Brasil, 1920, 22.05.2021
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Para internacionalista ouvido pela Sputnik, por mais que o agronegócio brasileiro tente, através da ministra Tereza Cristina, minimizar os atritos do governo com a China para não afetar as exportações, isso pode mudar no longo prazo, com o investimento de Pequim em novos fornecedores.

Na última quinta-feira (20), durante o Seminário China-Brasil, que foi realizado através de videoconferência, a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, afirmou que o Brasil e a nação asiática compartilham de uma longa parceria no agronegócio, cujo desafio atual é dar qualidade de vida às pessoas que vivem no campo, dentro do contexto de uma agricultura sustentável.

Além disso, a ministra lembrou que o Brasil é responsável pela produção de alimentos para mais de um bilhão de pessoas no mundo, em um total de 180 mercados, e ressaltou que a China é protagonista na inserção brasileira nas cadeias agroalimentares globais.

Tereza Cristina também fez questão de destacar que os dois países construíram "uma relação de confiança na entrega perene, com qualidade, inocuidade e sustentabilidade", e acrescentou que ainda existe espaço para ampliar e diversificar a oferta de produtos brasileiros para consumo da população chinesa.

Em entrevista à Sputnik Brasil, o especialista em Relações Internacionais, Vinícius Guilherme Rodrigues Vieira, professor da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), assinala que, apesar de aparentar uma contradição com o que dizem outras vozes do governo de Jair Bolsonaro, e o próprio presidente, o discurso de Tereza Cristina reflete o fato de que o Ministério da Agricultura é, historicamente, ocupado por representantes do setor, para o qual a China tem uma importância colossal.

"[Os titulares da pasta] são prepostos do setor no governo e o próprio Estado brasileiro tem muito dessa característica, independentemente do governo de plantão. Então, não surpreende que ela faça esse tipo de declaração, porque, de fato, sem a China, boa parte do nosso agronegócio ficaria a ver navios [...] então vejo como algo natural", opina.

Além disso, Rodrigues Vieira ressalta que a ministra, ao longo de toda a sua gestão no governo Bolsonaro, conseguiu manter-se afastada das polêmicas que, de tempos em tempos, vêm à tona por causa de declarações negativas e insinuações de integrantes do governo em relação à China.

Contudo, o professor assinala que, mesmo com todo o esforço da ministra e do setor de exportação agropecuária para minimizar o impacto de declarações de certos membros do governo, é contraproducente no longo prazo "apoiar um governo que tem como principal alvo internacional, surpreendentemente e justamente, o nosso principal comprador, sem o qual a nossa economia entraria em dificuldades ainda piores".

© Folhapress / Ricardo BenichioColheitadeira de soja em operação na fazenda Lagoa Santa, em Guaíra (SP), em 16 de fevereiro de 2018
China seguirá comprando soja do Brasil agora, mas esse cenário pode mudar, alerta especialista - Sputnik Brasil, 1920, 22.05.2021
Colheitadeira de soja em operação na fazenda Lagoa Santa, em Guaíra (SP), em 16 de fevereiro de 2018

China à procura de novos fornecedores

Para Rodrigues Vieira, a ideia de que Bolsonaro e seu entorno podem dizer qualquer coisa sobre a China que não haverá impacto para as exportações do Brasil ao país asiático, principalmente de soja, não se sustenta no longo prazo. Segundo o especialista em Relações Internacionais, o fato de a China depender do Brasil, por não ter outros fornecedores, pode até ser verdadeiro neste momento, mas alerta que esse cenário tende a mudar no futuro próximo.

Reunião do embaixador da Tanzânia com a Câmara Conjunta de Comércio e Indústria China-África em Pequim, na qual foram traçados planos para a aquisição de mandioca e soja da Tanzânia.

"Temos relatos de que a China está [fomentando] e teria um plano de longo prazo para fomentar a produção de soja em áreas de clima análogo ao brasileiro na savana africana. Estamos falando de Tanzânia, Quênia [...] A China não vai parar de comprar soja agora, mas não tenho dúvidas que, havendo um plano de alternativa, esse plano será por ela fomentado, é assim que ela agiu ao longo dos séculos", afirma o professor da FAAP.

Além disso, o especialista ressalta que a China passou a comprar mais soja dos Estados Unidos, o principal concorrente do Brasil no mercado internacional do produto, o que refletiria uma aparente distensão entre as duas potências e seria um movimento esperado, que não deveria representar uma surpresa para as autoridades brasileiras.

"Sim, eu acho que a bipolaridade China-Estados Unidos veio para ficar, mas está havendo uma distensão agora com a saída do Trump, [isso] era um movimento esperado [...] Mas, o governo brasileiro também, para variar, não fez esse cálculo, cálculos estes que até são óbvios em política internacional, que o governo [...] deixa de fazer, ou por má-fé ou por incompetência mesmo", afirma Vinícius Guilherme Rodrigues Vieira.

Nesse sentido, o especialista afirma que a postura de alguns integrantes do governo em relação à China é imprópria para as relações internacionais e pode ter efeitos prejudiciais para o país, por mais que alguns setores que dependem economicamente do mercado chinês, como o agronegócio, tentem jogar panos quentes. 

"O problema não é falar mal da China, mas falar mal de qualquer país. [...] É algo impróprio no concerto das nações, a linguagem diplomática não deve ser assim, nua e crua, [...] tem todo um cuidado para que, justamente, os países não percam oportunidades, não percam potenciais aliados em um mundo que é cada vez mais incerto", conclui.  

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