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COVID-19: sem tratamento ainda, máscara pode fazer mais do que UTI, diz infectologista

© AP Photo / Eraldo PeresProtesto em Brasília contra a gestão da pandemia pelo governo do presidente Jair Bolsonaro
Protesto em Brasília contra a gestão da pandemia pelo governo do presidente Jair Bolsonaro - Sputnik Brasil, 1920, 19.03.2021
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Após superar o número de óbitos provocados por várias outras doenças, a COVID-19 segue em crescimento no Brasil, matando cada vez mais pessoas, e, segundo um especialista ouvido pela Sputnik, não há motivos para crer que a situação vá melhorar em breve.

Nesta semana, o número de mortes causadas pela COVID-19 no Brasil superou o total de óbitos provocados pela AIDS no país desde 1996, ano em que o Ministério da Saúde começou essa contagem.

Em 23 anos — os últimos dados disponíveis são de 2019 —, o vírus do HIV vitimou fatalmente 281.156 pessoas em território nacional, enquanto o novo coronavírus, em pouco mais de um ano, já matou 287.795.

Outras enfermidades mortais causadas por vírus ou bactérias, como tuberculose, doença de Chagas, meningite e hepatite viral, também tiveram números menores de vítimas em comparação à COVID-19. 

​O infectologista Daniel Junger destaca que a abordagem para se prevenir doenças respiratórias como a COVID-19 é muito mais complicada quando se tem uma epidemia do que no caso de doenças como a AIDS, que, normalmente, dependem de relações sexuais sem proteção ou compartilhamento de seringas contaminadas para serem transmitidas. 

"Então, é muito mais fácil a gente respirar perto de uma pessoa do que transar com uma pessoa", afirma ele em entrevista à Sputnik Brasil, destacando que, por essa facilidade, o novo coronavírus se espalhou tão rapidamente por todo o mundo. "E com a letalidade que a gente tem da COVID-19, que é bem alta — mesmo se a gente considera 1% a 2% —, 1% a 2% de todo o mundo que é vulnerável, é 1% a 2% da população mundial que a gente vai esperar morrer? Isso é muita gente."

Além da facilidade de transmissão, a COVID-19 se destaca de outras doenças por ainda não existir um tratamento específico para ela, apesar das inúmeras pesquisas realizadas até agora com diversos tipos de medicamentos. 

"Nós não temos tratamento que funciona", afirma o médico, lembrando que remédios como ivermectina, cloroquina, hidroxicloroquina e azitromicina não têm eficácia contra o novo coronavírus, sendo indicados apenas para outros problemas. "O protocolo que nós temos é um protocolo de suporte. Um leito de UTI, quando o paciente chega a um leito de UTI, ele está tendo oportunidade de um suporte até aquela doença ser debelada pelo próprio organismo. A gente consegue controlar um pouco da resposta inflamatória com determinados medicamentos."

Batendo na mesma tecla que as principais autoridades de saúde vêm batendo desde o início da pandemia, o especialista sublinha que, realmente, as únicas coisas que funcionam contra a COVID-19 são a prevenção e a vacina. 

"De todas as doenças virais que conhecemos, nós tratamos uma meia dúzia apenas com tratamento específico, em toda a história da humanidade. E o que melhor funciona contra elas são as vacinas ou prevenção. Então, o que uma máscara pode fazer por uma família hoje talvez seja mais do que a disponibilidade de um leito de UTI venha representar quando alguém estiver grave."

Enquanto a AIDS tem sido apontada como responsável pela morte de dez a 12 mil pessoas por ano desde 2008 no país, Junger frisa que "nós estamos caminhando para uma faixa de três mil mortos por dia" pela COVID-19 no Brasil atualmente, "e não dá para dizer que isso não vai continuar".

"Porque nós temos cepas mais infectantes, outras mais virulentas, ou seja, com capacidade de causar mais gravidade e mortalidade. Então, neste exato momento, a previsão é de aumentar, sim. Isso é reflexo de ondas de propagação que começaram no final de dezembro, aumentaram durante todo o verão, pioraram ainda mais com o Carnaval. Em torno de duas semanas e meia de cada evento desse, a gente tem grandes bolsões epidemiológicos e a gente tem grandes demandas de internação." 

​Com a vacinação caminhando a passos lentos, o infectologista explica que, no caso brasileiro, ela ainda está distante de causar um impacto positivo na sociedade. Só quando a cobertura da imunização chegar a, pelo menos, 75% da população, segundo ele, o vírus poderá ser contido. O especialista ainda afirma que o vacinado "não é um elo fora da cadeia de transmissão", mas apenas uma pessoa que está protegida "contra o risco de morte ou de doença grave" se for infectada pelo novo coronavírus. 

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