O governador da Bahia, Rui Costa (PT), voltou a criticar a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pela demora em liberar o uso de mais vacinas contra a COVID-19 no Brasil. Em entrevista à CNN Brasil no último domingo (21), o político, que decidiu ampliar o toque de recolher no estado devido a um aumento da ocupação de leitos de UTIs, questionou até quando o país ficará "refém dessa instituição", que, até o momento, "não autorizou as vacinas da Pfizer, da Moderna, a Sputnik [V] e a indiana [Covaxin]".
Segundo Costa, é inadmissível e incompreensível essa demora da Anvisa quando o Brasil segue com altos índices de mortes provocadas pelo novo coronavírus e com dificuldades para acelerar a vacinação devido à pouca disponibilidade de imunizantes.
Infelizmente, alcançamos a marca de 80% de ocupação dos leitos de UTI na #Bahia e a consequência será a ampliação do horário do toque de recolher. A partir desta segunda, dia 22, a restrição será das 20h às 5h. A região Oeste será a única exceção na atualização do decreto.
— Rui Costa (@costa_rui) February 21, 2021
Hoje, o país conta apenas com vacinas CoronaVac e Oxford/AstraZeneca para a imunização da população, em quantidades ainda pequenas. Embora a Pfizer tenha realizado testes da sua vacina em Salvador, ainda não há previsão de uma possível liberação desse imunizante, desenvolvido em parceria com a Biontech, no Brasil. De outro lado, desde janeiro, o governo baiano vem buscando alternativas judiciais para a compra e aplicação da vacina russa Sputnik V, ainda sem sucesso.
"Nós precisamos ter mais opções, um leque maior de vacinas, mas a Anvisa e o governo federal seguem demonstrando total insensibilidade à vida humana, total insensibilidade com a tragédia que alcança não só a Bahia", disse o governador nesta segunda-feira (22), citado pelo Metro 1. "A catástrofe se alastra pelo Brasil e a Anvisa e o governo federal ficam insensíveis e não tomam providências para que tenhamos lotes maiores de vacinas", acrescentou.
Estamos vivendo o pior momento da pandemia e precisamos fortalecer o compromisso com a vida. Nosso estado está à beira do colapso do sistema de saúde e, enquanto a vacina não chega pra todo mundo, apelo que evitem aglomeração e usem máscara ao sair. Salve vidas! pic.twitter.com/Yu9a0kyjjP
— Rui Costa (@costa_rui) February 21, 2021
Para o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), experiências negativas anteriores com outros produtos no Brasil mostram a necessidade de padrões rigorosos de avaliação por parte de uma agência sanitária, para garantir segurança e eficácia "de tudo que se produz e consome em uma sociedade moderna".
Em entrevista à Sputnik Brasil, o especialista, fundador e primeiro diretor da Anvisa, descreve como "ignorância" ou "cegueira" as críticas que vêm sendo feitas à agência por desempenhar as funções que lhe são cabíveis.
"Ninguém pode vender nada se não tiver capacidade de responder juridicamente pelo que está sendo oferecido à sociedade. Então, uma empresa que quer vender vacina no Brasil tem que ter o representante legal no Brasil com um responsável técnico. Então, eu não posso aprovar a vacina da Sputnik [V] se não tiver um representante legal. Eu não posso aprovar a vacina da Pfizer se não tiver um representante legal."
Segundo Vecina, uma coisa é aprovar os estudos clínicos realizados com os imunizantes. Outra é aprovar o uso da vacina, que depende, entre outras coisas, de ter uma "personalidade jurídica que se encarregue de pagar pelos prejuízos que, eventualmente, sejam provocados".
"O que o governador Rui Costa está querendo é impossível do jeito que ele está propondo", afirma o médico.
Uma vez que tenha o responsável técnico e o responsável jurídico, "tem que ter os estudos de fase I, II e III". E esse, de acordo com o sanitarista, é o problema específico da vacina russa Sputnik V, que, apesar de "fantástica", ainda não tem o estudo de fase III finalizado.
"Ela apresentou 20 mil casos e tem 40 mil. Então, precisa terminar o estudo de fase III."
No caso da Covaxin, produzida pela farmacêutica indiana Bharat Biotech, há uma preocupação, segundo o fundador da Anvisa, com o fato de a Índia ter "uma vigilância sanitária ruim".
"A vigilância sanitária da Índia deu registro para a vacina da Bharat Biotech, sem fase III, só com fases I e II. Existem várias publicações aí hoje, no mundo, demonstrando isso. Por que o Brasil deve aprovar a vacina? 'Ah, porque nós não temos vacina'. Ah, então nós vamos dar qualquer vacina para a nossa população? E quem vai ser responsável caso ocorram mortes? Ou caso não ocorra nada, nem sequer imunização? É a Anvisa que vai ser responsável? Vejam, menos. Vamos entender o que é a lei que exige segurança e eficácia, como ela está sendo realizada e, aí, vamos fazer as críticas."
As opiniões expressas nesta matéria podem não necessariamente coincidir com as da redação da Sputnik
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